Como uma Folha de papel em Branco, onde podemos escrever qualquer coisa, assim também é a Mente Infantil no início de sua jornada como entidade humana...
Examinando a Questão...
Não podemos ignorar os conflitos humanos nem fechar os olhos diante da tamanha deformação social e ética na qual se transformou a aventura do homem sobre a terra. Criamos ou ajudamos a manter um modelo existencial nosográfico que se arrasta por milênios, e o pior, sem uma solução visível na linha do tempo.
Com um pouco de inteligência, algo que aparentemente sempre faltou aos ancestrais autores dessa obra mal feita, para tentar por nossa vida em ordem, fica claro a necessidade de aprendermos alguma coisa que vá além das velhas fórmulas e tradições milenares.
E em meio a tudo isso, como inquilinos recém chegados, estão nossas crianças. E convenhamos, a depender da manutenção do mesmo Status Quo pensênico que é o responsável pela condução desse mundo, o futuro delas nos parece bastante perturbador. Por isso, obrigatoriamente, uma faxina geral para remoção dos entulhos existentes dentro do nosso modelo pedagógico, seja aquele doméstico praticado dentro de nossas casas ou o acadêmico legitimado pelas escolas.
Independente do que acontece lá fora, podemos começar imediatamente o processo de reciclagem cognitiva dentro de nossas casas. E para isso precisamos apenas nos conscientizar dos motivos pelos quais nossas crianças continuam a repetir velhos hábitos e vícios patrocinados pela mesma mentalidade patológica que também foi responsável pela criação do atual estado das coisas.
Trata-se de uma lógica bastante simples: se algo não nos agrada, por que razão se perpetua ao longo das gerações, passando de pai para filho na forma de um pacote semelhante a um presente se grego? Uma herança cujo recheio contém violência, injustiça, distorções sociais, inveja, problemas, conflitos sem fim, sofrimento, e tudo aquilo que para nós nenhuma utilidade tem, por que deveria ser dada como uma prenda para nossos filhos? Por que continuam nossos filhos e filhos destes a repetir as mesmas contendas dos seus antepassados, e também as angústias, os medos e tamanha confusão?
Será que como educadores e pais ainda não fomos capazes de perceber nada disso, inclusive os ciclos repetitivos com seus padrões comportamentais doentes, responsáveis diretos pela criação de uma geração de indivíduos psicologicamente semelhantes aos antigos? Especialmente como pais, será que não replicamos em nossos filhos uma cópia de nossas angústias pessoais, caprichos e tradições, exatamente como também já fizeram conosco nossos pais, avós e bisavós?
Reconhecer onde está um problema deveria ser a primeira providência daquele indivíduo realmente interessado em solucioná-lo. Mas, se apenas deseja repassá-lo como espólio à posteridade, então nada precisa ser feito; basta repetir o processo, como manda a tradição.
O Cuidar tem hora para começar, jamais para terminar...
Se de uma sementeira apenas alguns grãos são capazes de germinar, reconhecer que ali, dentre os sadios, existem grãos defeituosos, deveria ser o primeiro passo do agricultor com a intenção de colher bons frutos. Identificado o gargalo, como ele fará para separar os grãos defeituosos dos sãos, isso vai depender de sua criatividade e interesse em superar o problema.
Agora supondo tratar-se de uma tradição intocável, uma ação patrocinada pela força de antigos costumes, onde grãos defeituosos são igualmente misturados aos sadios, nesse caso, o ato de continuar com essa prática, por uma lógica elementar, não sugere que uma boa colheita jamais será possível? Ciente de que na antiga prática está o problema, parte da solução já está encaminhada.
Outro exemplo é o caso do coletor de água. E todos os dias ele ia até o rio em busca de água fresca. Não antes de voltar para casa, descobre um vazamento em seu vasilhame, quando vê que está praticamente vazio. Depois de refletir um pouco, ele percebe que se caminhar mais depressa poderá chegar em casa com uma quantidade maior de água. Então adota aquele procedimento como solução para o problema, que logo se transforma em uma tradição que vai deixar como herança para seus descendentes.
Agindo dessa forma, não estaria resolvendo o problema, mas, apenas elegendo aquela prática ou processo defeituoso como um costume válido. Seria o mesmo que tentar resolver o problema do sofrimento humano apenas aumentando, por exemplo, suas opções de diversão.
Assim, como pais e educadores, se de verdade nos preocupamos com o futuro de nossos filhos na forma de homens mais equilibrados e justos, em primeiro lugar, precisamos estar cientes de que todas as deformações sociais têm como origem nosso modelo de conduta, o mesmo anteriormente adotado por nossos ancestrais. São os dogmas, as crenças incontestáveis, ideologias e costumes e todo repertório comportamental contido nesse milenar acervo psicológico doente e aceito sem resistência ou ressalvas como itens necessários ao nosso viver.
Reconhecer onde está o problema é parte da solução. Reconhecer que o novo modelo não pode ser derivado do antigo, é a solução em si. De nada adianta a descoberta de uma nova forma de arar e preparar o terreno, assim como utilizar novos fertilizantes e meios de irrigação, se as sementes continuam as mesmas.
Cumpre como de extrema urgência a pais e educadores descobrir por si mesmos se existe alguma verdade contida em tudo isso. Estar ciente de um problema não faculta sua solução. Ter consciência de que um problema sem solução é a certeza de novos problemas sem solução, além de representar o início da jornada, indica o florescimento de uma abordagem mais inteligente.
Mas, apenas pelo reconhecimento inequívoco de que a solução não virá de fora por meio de uma entidade mágica a troco de oferendas, rituais, penitências e sacrifícios, só assim, pela negação de tudo isso e agindo de maneira coletiva, com seriedade, talvez possamos resolver de uma vez essa questão.
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Alberto Silva Filho - albfilho@gmail.com
É pesquisador das Ciências Cognitivas e orientador em educação infantil e adulta, inclusive da terceira idade, com especialização em Educação Integral. É também escritor de contos infantis e adultos, e um dos colaboradores fixos deste Site.
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