Autor: Editoria de Folclore - Site de Dicas[1]
Conteúdo Atualizado: 28 de Novembro de 2023
Segundo a tradição popular, trata-se do próprio Demônio em forma de gente, que sai das profundezas onde mora, em noites de Lua cheia, para correr pelas ruas desertas dos povoados mais remotos e pequenas cidades, sempre terminando sua jornada ao chegar em frente ao cemitério local. É neste momento, que simplesmente desaparece sem deixar vestígio algum de sua presença.
Seria uma criatura fantástica metade homem metade cavalo, que embora lembre um centauro, anda ereto apoiado sobre as duas patas traseiras, como um homem. Nestas noites, o tropel dos seus cascos correndo enquanto ronca como um bicho selvagem, é motivo mais que suficiente para que as pessoas permaneçam confinadas em suas casas.
Por onde passa, uma matilha de cachorros vadios ou fugidios, acompanham seu assombroso trote numa algazarra infernal. Vez por outra, ele açoita os mais afoitos e os ganidos pode se ouvir de longe. Diante dos quintais onde há um cachorro preso, ele pára e liberta o animal.[2]
E como se fosse uma "Besta", enquanto corre, a criatura emite uma espécie de relincho que se assemelha a um assovio. É coisa pavorosa, pois alguns juram tratar-se de uma gargalhada.
Eventualmente, ele se detém diante da porta de uma casa, e nesse momento é possível ouvir sua respiração ofegante, coisa do outro mundo. Nessas horas, com frequência, ele arranha as portas ou janelas com suas grandes e afiadas garras. Aconselha-se à pessoa rezar o "Credo" para que ele então siga seu caminho.
De verdade, não há um só relato oral que comprove ter ele feito algum mal contra os seres humanos. Mesmo assim, à simples menção do seu nome, logo se faz o sinal da cruz e três vezes se reza a Ave-Maria.
Nomes comuns: Quibungo, La Carreta del Diablo (Venezuela), El Macho Cabrio (Colômbia).
Origem Provável: É um mito semelhante a história do Lobisomem.. Existe em todo Nordeste, mas está muito mais presente no interior dos estados de Pernambuco, Alagoas e Paraíba. Pode ter migrado para outras regiões mais próximas.
É provável que a versão Brasileira tenha origem no período colonial, embora não existam relatos oficiais dos historiadores de época sobre tal ocorrência. A Versão Sul americana, La Carreta del Diablo, mostra uma criatura semelhante, mas que, ao invés de cães, é acompanhada por uma carroça fantasma.
Em resumo, é uma crença muito comum em todo meio rural do Nordeste. Também existem algumas versões similares em vários países Latino-americanos.
Caso esteja a pessoa no local em que a "Besta Fera" estiver passando, a mais eficaz proteção é empunhar uma adaga de prata. Não precisa sacá-la, basta segurá-la com uma das mãos. Pode ser também uma faca peixeira[3] comum, desde que abençoada, ou que antes tenha sido molhada em água benta. Desse modo, os caminhos da "Besta" e daquele indíviduo não se cruzarão.
Apesar de assustador, parece ser inofensivo às pessoas. Na verdade, sua única atividade consiste em soltar todos os animais de canis ou currais que for encontrando pela frente. Algumas pessoas que se deparam com ela, cara a cara, podem perder o juízo ou ficar por algum tempo desorientadas.
Relato coletado na cidade de Pesqueira, no interior de Pernambuco, de um tradicional morador local, o Sr. Jorge, Marceneiro. Homem não letrado e simples, de grande credibilidade entre os locais. Chama a atenção a riqueza de detalhes e a absoluta certeza daquilo que testemunhara. O testemunho a seguir, data do final do anos 1950.
Alteramos apenas parte da grafia original, não o conteúdo.
Voltava tarde da noite do trabalho, pois naqueles tempos precisava fazer serão. Estava tranquilo e apenas o frio era minha preocupação naquela hora.
Então, ao longe escutei o que parecia ser os latidos de cães, muitos deles, como se perseguissem algum bicho perdido. Como desciam pela mesma rua por onde eu caminhava, resolvi cortar caminho para não dar de cara com eles.
Nesse momento, escutei o trote de um cavalo que descia ladeira abaixo, desembestado, dando terríveis relinchos e galopando em minha direção. Atrás dele, dezenas de cachorros o acompanhavam em grande algazarra. Era noite clara de lua, e o barulho estava cada vez mais perto. Com certeza aquilo não era coisa desse mundo.
Não sabia o que pensar na hora, mas o que quer que fosse, não era coisa boa de se ver. Pensei em correr, mas pela proximidade dos latidos, não daria mais tempo. De repente o trote diminuiu, como se o "cavalo" estivesse procurando alguma coisa à sua volta.
Não teve outro jeito senão me encolher rezando por trás do largo pilar de um portão de um casarão antigo, e segurar firme o cabo da minha "Adaga". Era costume andar com adaga naquela época[4]. Foi aí que pude ver mais adiante, o imenso vulto de uma criatura medonha, corpulenta, muito maior que um homem, com pernas de cavalo e cabeça de Lobisomem. Então, ao invés de descer pela rua na minha direção, entrou num beco da rua que dava pro matagal, e desapareceu "gargalhando" com os animais no seu encalço. Apenas eu e o criador sabemos como consegui chegar em casa naquela noite.
[2] Também no mito do Lobisomem., a matilha de cachorros algumas vezes o acompanha em suas andanças noturnas.
[3] O Mito da Velha-Bruxa também faz menção da faca como símbolo de proteção. Nesse caso, de faca em punho, o indivíduo deve golpear o ar à sua volta, como se estivesse cortando alguma coisa invisível. Assim manterá a velha bruxa longe daquele ambiente.
[4] Era coisa comum e tradição nas cidades interioranas, o uso de armas brancas. Serviam para picar fumo e faziam mesmo parte da indumentária da época, e em último caso, usava-se como meio de proteção, para espantar os salteadores, outro tipo bastante comum naquelas paragens remotas.
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