Educador não deveria ser aquele sujeito que se coloca à frente do seus alunos numa sala de aula apenas com a intenção de enxertar em seus cérebros o conteúdo dos livros...
Compreendendo o Básico...
Há uma tentativa inconsciente de se criar um homem capaz de transcender os aspectos das divisões étnicas e sociais. Este, a despeito das diferenças instituídas pelos limites geográficos das nações, costumes e crenças, seria guiado apenas pelo fato de pertencer ao gênero humano. Assim, todas as demais diferenças criadas ao longo dos tempos pelas tradições seriam colocadas de lado.
Mas enquanto isso não é possível, nem sabemos se um dia será, cumpre ao educador compreender essas contradições e conflitos. E há o indivíduo, e este é o alvo da educação e do educador. E este indivíduo é complexo, conflituoso, egocêntrico por natureza, normalmente estúpido e contraditório por força da tradição mesológica; injusto porque seu senso de justiça é sempre tendencioso.
Injustiça se aprende, assim como o senso de justiça. Não se nasce injusto ou justo, incoerente ou coerente, estes são aspectos gerais do modelo cognitivo herdado dos nossos antepassados, da tradição, do nosso acervo sócio-cultural.
Esse indivíduo, que é o foco do educador, como uma entidade complexa, merece ser observado com outros olhos, de maneira personalizada. Olhar para um indivíduo com visão coletiva é o primeiro grande equívoco.
Lembre-se, embora façamos parte de uma grupalidade, separadamente, somos diferentes, ou não seríamos indivíduos. E exceto por uma contingência de ordem genética, de berço, psicologicamente, somos iguais em potencialidades. Depois de crescidos as diferenças ou demandas psicológicas são evidentes, embora semelhantes nos aspectos gerais somáticos, sensoriais, ou como entidades biológicas sujeitas às leis da vida e da morte.
Por que será que o Atual modelo pedagógico não funciona?
Somos iguais em necessidades, mas não em funcionalidades. Entender as diferenças implica em compreender esses aspectos de maneira lúcida, e depois aceitar a diversidade como um fato. Alguns indivíduos, fisiologicamente, são naturalmente mais fortes, já nasceram assim, e há o potencial para que extrapolem esse limite. Outros já nasceram fracos, com potencial para se fortalecerem. São iguais em natureza evolutiva e possibilidades de progresso consciencial, mas não em padrões metabólicos ou na qualidade de sua fisiologia interna. Isso nos caracteriza como indivíduos.
Fora os aspectos biológicos e fisiológicos, existem outras variáveis. São as nuances sociais, culturais e costumes. É o condicionamento de cada um; tudo aquilo que faz parte do conteúdo da nossa psique; aquilo que nos dá uma identidade comportamental conhecida como personalidade. Absorvemos tudo isso e podemos opinar, posicionarmo-nos como entidades pensantes, ou como replicadoras de pensamentos e ideais tirados da cultura e tradição onde vivemos.
E todo esse processo condicionante também interfere em nosso temperamento, uma vez que ele é bastante plástico. E isso quer dizer que, pressionados pelas influências externas da mesologia onde estamos inseridos, acabaremos por nos automodelar de acordo com os hábitos que ali são praticados.
E eis o educador diante dessa imensa variedade de indivíduos que possuem duas coisas em comum, duas verdades: a primeira é que são inquilinos temporários compartilhando o mesmo mundo; a segunda é que, psicologicamente não somos iguais, nunca fomos e jamais o seremos.
A igualdade psicológica não é possível, uma vez que temos cérebros individuais, fisiologicamente semelhantes, mas de conteúdo nunca igual. E embora sejam alimentados pelo mesmo espírito ou mente do mundo, têm a capacidade de absorver esse conteúdo de maneira exclusiva, personalizada. Assimilam de acordo com a capacidade cognitiva, em consonância com as idiossincrasias, indumentária sensorial e qualidade das sinapses cerebrais do seu hospedeiro.
Compreender esse fato coloca nas mãos do educador verdadeiro, aquele cujo magistério é vocacional, uma chave capaz de abrir muitas portas, especialmente as vias de acesso ao mundo psicológico do jovem. Vai permitir que trabalhe a psique do educando dentro do escopo que lhe permite a função de educador; é só até onde ele poderá ir. Caso esse educador fosse capaz de usar com inteligência esse recurso, o atual modelo educacional patológico estaria com os dias contados.
Uma psique doente criou o mundo doente onde vivemos. Corrigida essa falha, precisaria de mais alguma coisa? Sem essa falha o resto seria, por reflexo, reparado. O alicerce de tudo é a qualidade da psique. Uma psique saudável produz homens de mentes saudáveis; não há mágica alguma. Um alicerce fraco só suporta estruturas igualmente fracas e precárias. Consertado o alicerce, estruturas superiores poderão ser finalmente edificadas sobre ele.
Afinal de contas, o que é um Educador?
E há o educador tradicional, aquele que se encarrega de transferir para os cérebros dos seus discentes, de maneira coletiva, o conteúdo dos livros. Não se leva em conta as diferentes qualidades sensoriais, os diferentes potenciais individuais ou modelo de compreensão de uma mesma coisa por cada indivíduo.
Nessa condição, não se pratica a educação e sim a mecanização e o deliberado processo de atrofia cerebral dos alunos, cujos cérebros, por absoluta falta de uso, acabarão encolhendo. Um cérebro que não se exercita encolhe, definha, se fossiliza, perde a elasticidade, endurece e terá comprometida para sempre a sua capacidade de pensar; torna-se incapaz de assimilar novos conhecimentos.
Pensar, este é o exercício para o cérebro. Sem pensar ele não aumenta seu potencial. O pensamento crítico o põe para trabalhar, enquanto que a ausência deste o acomoda, debilita-o, torna-o obtuso. Ensinar a pensar de modo crítico e construtivo, eis o grande milagre. E isso começa com o princípio da descrença.
Sem a dúvida não há o pensamento profícuo. Sem questionamentos não podemos evoluir; não seremos capazes de corrigir aquilo que não funciona. O que não funciona já é o padrão. Não funciona porque nunca funcionou; porque nunca foi questionado, revisado, descartado ou atualizado.
Replicação não é ação. Questionar então por que não funciona é o primeiro indício de inteligência. No ato de copiar e colar não há inteligência. A dúvida é a inteligência em ação. O questionamento evoca a mudança; a repetição evita a mudança. Por outro lado, o simples ato de questionar já representa uma mudança.
Resta ao educador, pai ou responsável, avaliar o que poderá ser feito ao perceber que tudo isso é verdade. Caso não perceba, continuará sendo cúmplice das distorções. Caso perceba, o próprio percebimento já o dirá o que pode ser feito.
Por que não podemos questionar, duvidar, exercer nosso direito sagrado de pensar de maneira crítica e reflexiva? Por que é proibido pensar dessa forma? A resposta é simples: não é proibido, trata-se de um conhecimento velado, que é deliberadamente negado aos indivíduos. O conhecimento ainda é a chave do poder. E o poder de uma autoridade depende do nível de ignorância dos súditos ou cativos. Por isso, ensinar a pensar é um assunto velado. Então a resposta é óbvia: não pensamos de modo crítico e útil porque não sabemos como se faz isso.
E há a qualificação do indivíduo, que é a meta final de todo pai ou educador. E ele próprio, o educador, já foi modelado pela tradição patológica; já aprendeu a ser um fiel replicador dos seus conflitos. Já é depositário de todas as incoerências e absurdos criados ao longo dos tempos por seus ancestrais.
Mas cada indivíduo, apesar de ter sido doutrinado pela mesma cartilha, vê as coisas de modo personalizado, uma vez que seu cérebro é diferente e possui potencialidades singulares. Sem contar que o seu temperamento, modo de adaptar-se ou interagir com seu mundo, comportamentos ou hábitos, também é único.
E se potencialmente os cérebros são apenas semelhantes, mas não iguais, então o que pode ser colocado lá dentro será compreendido de acordo com o perfil sensorial, qualidade cognitiva e idiossincrasias de cada hospedeiro.
Finalmente...
É importante que tanto o educador quando os pais compreendam bem esse fato. A partir disso podemos deduzir que esclarecimentos e conteúdos didáticos distribuídos em sala de aula serão assimilados de maneira distinta por cada aluno. Compreender esse fato óbvio é o princípio de tudo. Descobrir o que cada um entendeu ou assimilou após o debate educativo de cada dia, esse é o papel do instrutor, e se ele não se preocupa com isso, deveria cair fora, largar seu magistério, uma vez que não tem gabarito para ser chamado de educador.
Embora não possamos refutar um fato, podemos aprender a partir dele. Ciente disso, compete ao docente avaliar o que pode ser feito, mesmo sabendo que nem todos poderão ser beneficiados. Alguns porque conscientemente não o querem; outros porque não terão o potencial cognitivo para tanto, e nesse caso, ajustes deverão ser feitos para tentar beneficiar a todos.
E embora seja impossível a um grupo assimilar um conteúdo de maneira equânime, pelo menos em relação aos conceitos éticos, deverão receber a mesma indumentária.
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Editoria de Educação do Site de Dicas.
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[1]Jon Talber - jontalber@gmail.com
É Pedagogo, Antropólogo e autor especializado em Educação Integral e Consciencial.
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