Autor: Editoria de Folclore - Site de Dicas[1]
Revisto e Atualizado: 02 de Maio de 2024
A Cuca ou a Coca,[2] é um ente velho, muito feio, desgrenhado, que aparece no meio da noite para levar consigo crianças inquietas, as tagarelas, aquelas que, além de não dormirem, não param de falar.
Para muitos, a Coca ou Cuca, é apenas uma ameaça de perigo sem forma. Amedronta pela deformidade que possa ter. Mas, de verdade, fato concreto é que ninguém sabe ao certo que aparência tem essa fantástica criatura.
A maioria, no entanto, identifica-a como uma velha, muito velha, enrugada, de cabelos brancos e assanhados, magríssima, corcunda, e sempre ávida pelas crianças que não querem dormir cedo e insistem em fazer barulho.
É um fantasma noturno. Aparece em todo Brasil nas cantigas de ninar. É uma aparição que não está localizada em nenhuma região específica, mas em toda parte. Atua em todos os lugares, mas nunca se disse que carregou alguém, assim como como o faz. Conduz a criança num saco e some imediatamente depois de fazer a presa, sem deixar vestígios de sua passagem.
Em Portugal, chama-se Coca, e possui uma forma de Dragão. Lá, na província do Minho, no meio da tradicional procissão de Corpus Christi, a figura de São Jorge a ataca com sua lança.
Mas no Brasil, ela não é monstruosa, tem forma humana, tanto que se confunde com o Preto Velho, ou a Negra Velha das histórias tradicionais.
Vem ainda de Portugal, a tradição dum espantalho que seguia a Procissão dos Passos. No Brasil, esta criatura chamava-se Farrinoco, era conhecida como A Morte, e amedrontava as crianças que atrapalhavam o cortejo.
Literalmente quer dizer, entidade fantástica, com que se mete medo às criancinhas. A Cuca Paulista se parece com o Negro Velho de Minas, o mesmo Tutu de outros estados, e o Papão de Portugal. Em Pernambuco significa mulher velha e feia, espécie de feiticeira, também conhecida como Quicuca, ticuca ou Rolo de Mato.
Nomes comuns: Cuca, La cuca, Cuco, Coca, Coco, Santa Coca, Farrinoco, Papão.
Origem Provável: Européia. Possui elementos da Mitologia Grega e agregou alguns vestígios da Mitologia africana, como, por exemplo, O Negro Velho ou Negro de Angola.
Na Espanha há a Coca, uma serpente de lona e papelão que sai no dia de Corpus Christi. A Coca é apenas um dragão gigante, com patas de grilo, cauda de serpente e um par de asas.
A palavra castelhana Coco, viria do Grego Kakos ou Cacos, um monstro meio homem, meio animal, feio, feroz e bruto. Este representaria uma entidade fantástica, que se julga habituada a devorar criaturas humanas, como faz o Papão.Espanha era um fantasma para assombrar as crianças, e já era citado nos séculos XVI e XVII.
Há também a tradição de uma Coca humanizada. Na Vila Nova de Portimão, no Algarve, em Portugal, as crianças portuguesas correm apavoradas por causa de um espantalho que segue a procissão dos Passos. Este personagem veste uma túnica amortalhada, cabeça com um capuz afunilado onde os olhos espreitam por dois buracos, que se encarrega de afastar os meninos para que não perturbem o cortejo ou marcha sacra.
Em Portugal, na região do Minho, chamam de "Coca", uma abóbora vazia, com furos vazados nos lugares da boca e olhos, com uma luz de lamparina ou vela acesa dentro, que colocam em lugares ermos à noite, para amendrontar crianças e aldeões distraídos.
Estas características lembram bastante o costume norte americano do Dia das Bruxas, ou Halloween, onde, dentro de uma abóbora oca com boca e olhos e bem recortados, também é colocada uma lamparina ou vela acesa. Por lá, enquanto duram as comemorações deste tradicional evento folclórico, durante o período noturno, essas abóboras enfeitam a fachada principal das casas.
Há ainda o elemento africano que, no Brasil, ajudou a dar a forma atual do mito. No idioma nbunda, Cuco ou Cuca, quer dizer avô e avó. Simboliza a velhice, a melancolia física. É assim que surge o "negro Velho" de Minas, uma espécia de Cuca Angolêsa. No Nordeste, o "negro de Angola" vale pela "Coca" e pela "Cuca" do Sul do Brasil, uma entidade encarregada de assustar as crianças que se julgam espertas.
Coca serve de prefixo para outros bichos fantásticos, como a Cocaloba, espécie de Cabra Cabriola de Portugal, que cerca as casas onde as crianças dormem, procurando incansavelmente raptá-las. A Cocaloba não veio para o Brasil com os emigrantes.
Em Tupi, cuca, significa trago, o ato de engolir, de onde vem a ideia de voracidade. Em resumo, "Coca" e "Cuca", resumem espécimes africanos, europeus e ameríndios. Assim, como fantasma, herdou do Coco sua aparência demoníaca. Já da Coca, o ar de monstro, e do Cuco negro, a aparência misteriosa e antropófaga.
[2] Luís da Câmara cascudo, Geografia dos Mitos Brasileiros, páginas: 169 a 176, Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1947.
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