Autor: Editoria de Folclore - Site de Dicas[1]
Revisto e Atualizado: 02 de Maio de 2024
A Matinta Pereira é uma ave de vida misteriosa e cujo assobio nunca se sabe de onde vem. Dizem que ela é o Saci Pererê em uma de suas várias formas.
Aparece à noite, nas vilas, cidades e povoados, atravessando o espaço com seu grito estridente e arrepiante. Ninguém sabe onde a Matinta mora. É crença entre paraenses e amazonenses que existem velhas com o poder de transformar-se em Matintas. Assim, ouvindo seu grito, os moradores em voz alta, prometem fumo.
Pela manhã, é quase certo que uma velha mendiga irá aparecer pedindo esmolas. É a Matinta que vem cobrar a promessa feita[2].
Outras vezes, assume a forma de uma velha vestida de preto, com o rosto parcialmente coberto. Prefere sair nas noites escuras, sem lua. Quando vê alguém sozinho, dá um assobio ou grito estridente, cujo som lembra a palavra: "Matinta Perêra..."
Para os índios Tupinambás, esta ave misteriosa[3] era a mensageira das coisas do outro mundo, e que trazia notícias dos parentes mortos. Era chamada de Matintaperera.
Para se descobrir quem é a Matinta Pereira, sempre que alguém ouvir o seu grito ou assobio, deve convidá-la para vir à sua casa pela manhã para tomar café.
No dia seguinte, a primeira pessoa que chegar pedindo café ou fumo, é a Matinta Pereira. Acredita-se que esta criatura tenha poderes sobrenaturais, e que seus feitiços são capazes de provocar dores ou doenças nas pessoas.
Em alguns lugares, se apresenta como um velho, com um pano ou lenço ammarado à cabeça, como se fosse uma pessoa doente, indo de porta em porta, também a pedir tabaco.
Um ponto em comum em todas as versões encontradas, é que se trata de um indivíduo nômade, que anda a gritar, ou com seu assobio de pássaro, ou a tocar uma flauta, sempre a pedir tabaco. No Tupi encontramos Mata como significado de coisa grande, e mati para coisa pequena. No nosso caso da Matinta-Pereira, o mati significa um ente misterioso, nem ave, nem quadrúpede, nem serpente, mas tendo de todos estes alguma coisa em comum.
Mora nas ruínas, junto com onças, corujas e cobras.
Há na região Norte, sociedades femininas secretas chamadas de Tapereiras, que o povo chama de Mati-taperereiras. Às vezes usam do medo que provocam na população para obterem vantagens. Conta-se que garotos de 10 a 14 anos, como serventes e nas noites sem luar, saem a gritar imitanto a Matinta-pereira. O povo assustado fecha as portas e janelas, e todos se calam para não atrair o "demônio" para dentro de suas casas.
Nos dias seguintes a esta noite, todos sabem que durante o dia chegará às suas portas uma velha a pedir tabaco. Neste caso, é melhor dar, tabaco ou charutos, e mais alguma coisa para comer. Insatisfeita, tentará entrar na casa. Satisfeita ela irá embora sem causar mal algum aos moradores.
Nomes comuns: Matinta Pereira, Matinta, Mati-tapereira, Matim-taperê, Maty-Taperê, etc.
Origem Provável: Mito que ocorre no Sul, Centro, Norte e Nordeste do Brasil. Para alguns, é uma variação do Mito do Saci.
Este pássaro, chamado de Mati-taperê, ou Sem-fim, ou Peitica, como é conhecido no Nordeste, cujo canto melancólico ecoa em todas as direções, não permitindo sua localização, é a figura que encarna o mito.
Na linguagem selvagem, o Nome Maty-Taperê, significa "O Pequeno que vive nas Ruínas, ou Taperas". Para eles, o Maty-Taperê é um gênio maléfico, refugiado nas aldeias abandonadas, e que perseguia a quem, imprudente, delas se aproximava. Acreditavam que o Maty-Taperê tomava a forma de um pequeno pássaro, como uma andorinha, e assim se disfarçava.
Na região Norte, especialmente Pará, a Matinta Pereira seria um pequeno índio, de uma perna só e com um barrote vermelho à cabeça, semelhante ao Saci, que não evacua nem urina, sujeito a uma horrível velha, a quem acompanha às noites de porta em porta, a pedir tabaco. A velha que o acompanha canta, ao som do canto de um pássaro noturno chamado Matin-ta-perê.
Em Pernambuco, na localidade de Porto de Galinhas, no litoral daquele estado, há uma referência a uma ave noturna, cujo canto se assemelha a um grito muito temido por todos, por ser considerado de mau agouro. É a mesma Matinta, mas esta parece dizer: "Saia-Dela", quando encontra os viajantes noturnos pelas estradas desertas.
Esta é provávelmente uma adaptação do Mito do Saci. Inclusive o pássaro no qual ela se transforma, chamada Matin-ta-perê, que além de ser preta, tem o costume de andar pulando numa perna só, é a mesma que entre os Tupinambás, com o tempo se transformou no moleque Saci."Voltava da casa de farinha, e já beirava às seis horas da noite, para nós uma hora sagrada, quando resolvi encurtar meu caminho por uma picada na mata fechada. A luz do luar estava generosa nesta noite, por isso me apressei em tomar a direção de uma Pinguela,[4] que sem a lua evitaria. Estava escorregadia, era estreita e longa, e as toras arredondadas, e embora o córrego fosse de águas límpidas e rasas, cair ali dentro era tudo que não desejava, principalmente para não perder a carga de farinha de mandioca que levada às costas."
"Foi quando, já no meio da pinguela, preocupado em não escorregar, ouvi o forte bater de asas de uma grande ave que não vi, e já na primeira passada sobre minha cabeça, percebi que não era coisa desse mundo. Foi na segunda passada que o barulho da ave, depois de roçar minha cabeça, desapareceu, ficando apenas um grande silêncio. Foi aí que ouvi os terríveis gritos que pareciam voz de gente, mas não desse mundo, e aquela voz dizia, e repetia sem parar: "Saia dela, saia dela..."
"Larguei tudo pelo caminho, pulei dentro dágua, e só parei de correr quando cheguei em casa. Pouco tempo depois, fiquei sabendo que se tratava da Matinta, uma aparição que toma a forma de uma ave invisível, que muitos antes de mim já haviam presenciado, e que costumava assombrar aquele lugar, principalmente nas noites de sexta feira."
[2] Jose Coutinho de Oliveira - Lendas Amazônicas, p.113. Pará Livraria Clássica, 1916. Ver a aplicação de Schevenhagen na Matinta.
[3] Segundo a crença indígena os Feiticeiros e Pajés se transformam nesse pássaro para se transportarem de um lugar para outro e exercer suas vinganças, contra seus inimigos.
[4] Pinguela é uma espécie de ponte improvisada de madeira ou troncos que serve de travessia sobre pequenas valas, rios estreitos ou córregos.
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