Autor: Editoria de Folclore - Site de Dicas[1]
Revisto e Atualizado: 02 de Janeiro de 2025
Nos pequenos povoados ou cidades, onde existam casas rodeando uma igreja, em noites escuras, poderá acontecer as aparições da Mula-Sem-Cabeça. Também é crença corrente, de que se alguém passar correndo diante de uma cruz à meia-noite, a misteriosa entidade irá aparecer.
De acordo com a lenda, trata-se de uma mulher que namorou um padre e foi amaldiçoada. E a toda passagem da quinta para sexta feira, ela vai numa encruzilhada e ali se transforma na besta.
E esta infeliz criatura, pelo pecado cometido, terá como penitência eterna percorrer sete cidades ou sete povoados, ao longo daquela noite, sempre em uma correria infernal, soltando relinchos e ruídos pavorosos. Caso encontre alguém pela frente, vai atacar com seus poderosos coices, chupar seus olhos, e comer unhas e dedos[2].
Apesar do nome, "Mula-Sem-Cabeça", de acordo com quem já viu a criatura, ela é um animal completo, forte, lançando fogo pelas narinas e boca, onde tem freios de ferro.
Nas noites em que sai, ouve-se seu galope acompanhado de longos relinchos. Às vezes, parece chorar como se fosse uma pessoa. Ao encontrar a Mula, deve-se a pessoa deitar de bruços no chão, permanecer imóvel sem respirar, e sempre tomando o cuidado de esconder Unhas e Dentes para não ser atacado.
Mas, caso alguém com muita coragem, o suficiente para tirar os freios de sua boca, o encanto será desfeito e a Mula-Sem-Cabeça voltará a ser gente, ficando livre da maldição que, para sempre a castiga.
A Mula-sem-Cabeça, Burrinha-de-Padre, ou simplesmente Burrinha, é o castigo da concubina ou amante do padre católico. Na noite da quinta para sexta-feira, transforma-se numa Mula, correndo desembalada estrada afora, até o terceiro cantar de um galo.
Seus cascos afiados dão coices que ferem como se fossem navalhadas. Aos homens ou animais que encontra pela frente, ataca à patadas. Ouve-se, de longe, o barulho do seu galope sobrenatural assim como as dentadas com que morde o freio de ferro que tem à boca.
Pela madrugada, já exausta, recolhe-se e volta à forma humana. Para que a "manceba" do padre não se transforme em Burrinha, será preciso que o pároco jamais esqueça de amaldiçoá-la antes de celebrar a santa Missa.
Para desencantá-la, é necessário que alguém tenha a suprema coragem de enfrentá-la e lhe tirar, sem machucar, o freio de ferro que carrega preso à boca.
A aparência da Criatura varia bastante de acordo com a região. Ora é tratada como uma mula que não tem cabeça mas relincha, outras vezes é de cor negra, com uma cruz de pelos brancos sobre o dorso. Tem ainda olhos de fogo, um facho incandescente na cauda, e geme como um ser humano. Está presente em todo Brasil, em todas as regiões.
É crença nos sertões de todo Nordeste, que as Burrinhas, em sua forma humana, além de muito belas, são extremamente gentis e delicadas.
Dizia-se também que as mulheres de má vida relacionadas com padres, tarde da noite, "se transformavam" na Mula-sem-Cabeça.
Quando uma dessas criaturas morre, sua alma fica a penar sobre a terra, apresentando-se como uma "aparição" assombrosa, horrível. Em certas noites, o homem do campo ouve um tropel de animal corredor, cujos cascos batem apressados sobre o barro duro dos caminhos. Atrás dele, a cachorrada dos arredores a acompanha, em grande algazarra. O homem deve se encolher no fundo de sua rede ou cama, fazendo o sinal da cruz e rezando o Credo: Certamente que se trata da Burra-de-Padre, que está passando naquele local.[3]
Nomes comuns: Burrinha do Padre, Burrinha, Mula Preta, Cavalo-sem-cabeça, Padre-sem-cabeça, Malora (México), Mula-Anima (Argentina).
Origem Provável: É uma tradição que veio da penísula Ibérica, trazida pelos espanhóis e portugueses. Corre toda América, do México até a Argentina. No Brasil, seu aspecto e características varia de acordo com cada região.
É um mito forte entre Goiás e Mato Grosso. Mas, em todas as versões, há sempre uma finalidade punitiva.
Encantamentos e Cura:
A forma de quebrar o encanto da Mula, pode variar. Pode ser a excomunhão feita pelo padre amante antes de celebrar a missa; pode ser um leve ferimento feito com alfinete ou outro objeto perfurante, desde que sangre, dentre outros. Assim, a Mula se transforma outra vez em mulher e aparece despida.
Em Santa Catarina, para descobrir se uma mulher é amante do Padre, lança-se ao fogo um ovo enrolado em fita com seu nome; se o ovo cozer e a fita não queimar, ela é.
Algumas vezes, o próprio Padre é o amaldiçoado. Nessa ocasião então, ele vira um Padre-sem-Cabeça, e sai, ora a pé, ora montado em um cavalo do outro mundo.
O Cavaleiro sem Cabeça Norte americano, lembra muito esta variação.
Na África, Ásia e Austrália, há a tradição das mulheres velhas que se transformam em tigres, lobas e panteras, voltando à forma humana com a luz do sol. Mas, neste caso, não há uma sina punitiva como ocorre com a Mula-sem-Cabeça brasileira.
Luiza Maria Freira, conhecida da família há mais de 30 anos, de Macaíba, moradora de Natal, contou-me que a Burrinha-de-Padre é o castigo de quem se amanceba com o vigário da freguesia e não é amaldiçoada antes do padre ir celebrar missa. É igual a uma burra, tendo como diferença uma larga lista branca no pescoço.
Corre velozmente e é acompanhada por um barulho de ferro que se ouve longe. Não pára um instante de correr nem de relinchar. Mata a coices quem encontra pela frente. O coice é pior que um tiro. Um ferimento que faça sangue quebra o encanto e a mulher volta a sua forma humana.
Aparece então inteiramente nua. Somente despida é que a manceba pode ser castigada pela penitência. O padre com quem vive ou tem relações, é lembrado por uma "visagem" que lhe toma as feições e monta o dorso da Burrinha.
Luís Velho, morador em Cruzeiro, Canguaretama, Rio Grande do Norte, encontrou uma Burrinha e empenhou-se numa luta furiosa. Terminou ferindo-a com um chuço. Reapareceu a figura humana e Luís Velho reconheceu uma menina rica, de família poderosa. (Luís Velho deu o nome da menina e da família; não registro aqui porque são ambas conhecidas no município).
Deixou-a em casa enrolada com a roupa que lhe emprestou, e recebeu uma boa quantia em dinheiro para não contar o caso. Veio, entretanto, para o vizinho município de Goianinha a fim de livrar-se das emboscadas com que a ex-Burrinha pretendia livrar-se da fama de sua "moléstia".
[2] Daniel Gouveia - Folclore Brasileiro, Rio de Janeiro, 1926, pp. 46/47.
[3] Gustavo Barroso - O Sertão e o Mundo, p. 181/182.
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