Autor: Editoria de Folclore - Site de Dicas[1]
Revisto e Atualizado: 02 de Maio de 2024
Eis uma lenda sobre a Lagoa de Paranaguá, no Piauí. Dizem que ela era pequena, quase uma fonte, e cresceu por encanto.
Foi assim que tudo aconteceu...
Vivia uma viúva com tês filhas. Um dia, a mais moça das filhas adoeceu, ficando triste e pensativa. Estava esperando menino e o namorado morrera sem ter tempo de casar com ela.
Com vergonha, descansou (deu à luz) a moça nos matos, e deitou o filhinho num tacho de cobre, em seguida, sacudiu-o dentro da pequena fonte de água.
O tacho desceu e subiu logo, trazido por uma Mãe-d'agua, que com raiva da mãe, amaldiçoou a moça que chorava na margem.
As águas foram subindo e correndo, numa enchente sem fim, dia e noite, alagando tudo, cumprindo uma ordem misteriosa.
Ficou a lagoa encantada, cheia de luzes e de vozes. Ninguém mais podia morar às margens, porque a noite inteira, subia do fundo dágua, um choro de criança. O choro parou, e vez por outra, aparecia um homem moço, muito claro, com barba ruiva ao meio dia e com a barba branca ao anoitecer.
Barba Ruiva, homem encantado, que vive na lagoa de Paranaguá, ao sul do Piauí. Tem a pela clara, de estatura regular e cabelos avermelhados. Quando sai da água mostra as barbas, as unhas e os peitos cobertos de lodo e limo.
Muita gente o viu e tem visto. Foge dos homens e procura as mulheres que vão bater roupa. Agarra-as só para abraçar e beijar. Depois, corre e pula na lagoa, desaparecendo.
Nenhuma mulher bate roupa ou toma banho sozinha, com medo do Barba Ruiva. Se um Homem o encontra, fica desorientado. Mas o Barba Ruiva é inofensivo, pois não consta que fizesse mal a alguém.
Se uma mulher jogar água benta na cabeça dele, ou um rosário sacramentado, ele será desencantado. Barba Ruiva é pagão, e deixa de ser encantado ao se tornar cristão.
Mas, como ainda não nasceu esta mulher valente para desencantar o Barba Ruiva, ele cumpre sua sina nas águas da lagoa.
Nomes comuns: Barba Ruiva, Barba Branca, Urué, Barba Nova, Cabeça Vermelha.
Origem Provável: Lenda popular no estado do Piauí, ao redor da lagoa de Paranaguá, desde o século XIX. Por volta de 1830, já era conhecida.
Dizem que ele foi criado pela Iara, sendo então filho da Mãe-d'agua. Para o povo, a criança fabulosa não tem idade nem forma definida.
Nogueira Paranaguá escreve: "Consideram-no menino pela manhã, homem ao meio-dia, e velho ao anoitecer..."[2].
Muitas versões o descrevem assim: De dia ele aparece como um menino à beira da lagoa, à tarde como um rapaz de Barba Ruiva, e à noite, como um senhor de barba branca. Algumas vezes fica dormindo à margem do lago, e quando alguém se aproxima, ele pula na água e desaparece.
No Rio Parnaíba, também no Piauí, existe a lenda do Cabeça de Cuia, uma espécie de Barba Ruiva daquela localidade. Este, no entanto, é mais radical, e além de atacar moças à beira do rio, devora-as vivas.
No rio São Francisco, existe O mito da moça de família rica, que desejando ocultar o parto, atirou o recém-nascido ao rio. Um Dourado - espécie de peixe-, abocanhou-o sem o engolir, salvando-o dos outros peixes. E ainda hoje conserva o menino, que não cresceu nem mudou desde aquele tempo.
E desde então, sobe e desce o rio, com o menino na boca, deixando-o apenas para comer, e defendê-lo dos outros peixes. O Menino não cresce, mas está com os cabelos brancos.
Uma tradição do Panamá, conta que uma linda moça afogou no rio a criança que tivera para esconder a falta que cometera. Como castigo do perpétuo remorso, a mãe ressurge na forma de um monstro, a terrível Tulivieja.
Os indígenas brasileiros tinham algumas lendas em que as crianças sacrificadas davam nascimento às espécies vegetais mais necessárias à vida selvagem. O milho nasceu do sacrifício de um guerreiro. A mandioca, de uma criança, Mani dos Tupis, Atiolô, dos Parecis. Mas a presença da Mãe-d'agua, entidade desconhecida pelos nossos índios, afasta a possibilidade de que seja um mito ameríndio.
[2] Do Rio de Janeiro ao Piauhy pelo interior do Paiz (impressões de viagem), Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1905
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