Autor: Editoria de Folclore - Site de Dicas[1]
Revisto e Atualizado: 02 de Janeiro de 2025
Seus pés voltados para trás, serve como artifício para despistar os caçadores, deixando-os sempre a seguir rastros falsos. Quem o vê, perde totalmente o rumo, e não sabe mais achar o caminho de volta. É impossível capturá-lo. Para atrair suas vítimas, ele às vezes chama as pessoas pelo nome e com gritos que imitam a voz humana. É também chamado de Pai ou Mãe-do-Mato, Curupira e Caapora. Para os Índios Guaranis, ele é o Demônio da Floresta. Às vezes é visto montando um arisco Porco do Mato.
A função do Curupira é proteger as florestas. E todo aquele que derruba, ou por algum outro motivo estraga inutilmente as árvores, é punido por ele com a pena de ficar perdido por dias dentro dos bosques, desorientado, sem saber nem o próprio nome, incapaz de acertar o caminho de volta para casa, sem a lembrança de quem são seus parentes, e sequer onde mora[2].
O Curupira também persegue os caçadores em suas casas com seus assobios. Para fazer ele calar-se, basta bater-se em um pilão.
É crença entre os selvagens e moradores dos campos e florestas, que quando alguém avista o Curupira, pode ter certeza de uma coisa, a partir daquele momento, a infelicidade o acompanhará por um bom tempo, e todo empreendimento no qual se aventure, terá grandes possibilidades de fracassar.
Dizem que, quando o indivíduo se vê perdido no mato, enfeitiçado que foi pelo Curupira, desejando quebrar o encanto que o faz esquecer completamente o caminho de volta para casa, e por vezes a própria identidade, deve fazer três cruzes com gravetos, e colocá-las no chão em forma de triângulo. Pode ainda fazer outras tantas rodinhas de cipó que colocará também no chão, e que o Curupira dár-se-á ao trabalho de desfazer[3]. Pode-se ainda fazer pequenas de cruzes de Cauré (leguminosa de casca aromática, empregada em banhos medicinais), que irá atirar pelas costas.
Relato Histórico - A Grafia é a original:
Padre Joseph de Anchieta - Carta de São Vicente, 31 de maio de 1560 (Décima):
"É coisa sabida e pela boca de todos corre que há certos demônios, a que os Brasis chamam Corupira, que acometem aos Índios muitas vezes no mato, dão-lhes açoites, machucam-n´os e matam-n´os. São testemunhas disto os nossos Irmãos, que viram algumas vezes os mortos por eles. Por isso, costumam os Índios deixar de certo caminho, que por ásperas brenhas vai ter ao interior das terras, no cume da mais alta montanha, quando por cá passam, penas de aves, abanadores, flechas e outras coisas semelhantes, como uma espécie de oblação, rogando fervorosamente aos "Curupiras" que não lhes façam mal."
Os índios, para lhe agradar, deixavam nas clareiras, penas, esteiras e cobertores. De acordo com a crença, ao entrar na mata, a pessoa sempre deverá levar um Rolo de Fumo para agradá-lo, caso tenha a infelicidade de encontrá-lo.
O Curupira foi o primeiro duende selvagem das américas que o europeu documentou em papel. Do litoral paulista, em maio de 1560, José de Anchieta o divulga aos países distantes. A maioria dos cronistas colonias, inclui seu nome entre os entes mais temidos pelos nativos indígenas.
Dentre as muitas lendas, conta-se que o Curupira, algumas vezes, trasnforma-se em caça que nunca pode ser alcançada, mas que nunca desaparece dos olhos do caçador. E este, que na esperança de alcançar a presa, deixa-se levar aos confins da floresta, de onde não consegue mais sair, já que seus próprios rastros que poderiam guiá-lo de volta, são apagados pelo próprio Curupira.
Conta-se também, que às vezes ele se deixa facilmente abater pelo caçador. No entanto, quando o caçador vai pegar sua vítima, descobre que atingiu um amigo, um parente, mulher ou filho, que estava sob encanto do Curupira.
É crença também, que ele tenha o poder de ressuscitar animais mortos, ou que seja o pai do moleque Saci Pererê.
Vigiando árvores, conduzindo manadas de porcos-do-mato, veados ou pacas, assobiando estridentemente, corre o pequeno e ágil duende, o mais vivo dos deuses das florestas tropicais brasileiras, o derradeiro justiçeiro e protetor da vida silvestre; o preferido das estórias infantis.
É visto como um deus que protege as florestas. É crença que quando se aproxima uma tempestade, ele costuma bater nos troncos das árvores, para ver se estão firmes para suportar o mau tempo que não tardará.
Por isso, não é raro encontrar caçadores ou viajantes, que já tenham escutado as misteriosas batidas nos troncos das árvores à vespera das grandes grandes tempestades.
No Amazonas, geralmente é um tapuio pequeno, de 4 palmos. Nas regiões de Santarém, Rio Negro e Tapajós, ora é calvo, ora de cabeça pelada e corpo peludo, ou com um olho só; pernas sem articulações e sem orifícios para as excreções.
Em sua viagem para o sul, o Curupira passa a se chamar Caapora, Caiçara ou Zumbi, e é amigo dos cães e porcos-do-mato. Em Pernambuco só tem um pé. Do Maranhão ao Espírito Santo chama-se Caipora.
Curupira, corpo de menino - de Curu abreviação de Curumi e Pira corpo.
No geral, no Nordeste e Norte do Brasil, o Curupira é a Caipora, e gosta de aguardente e fumo. Nas matas do Pará, Amazonas e Acre, a Caipora moderna, aceita comércio amoroso com os homens. Mas quem a trai leva uma surra de cipó espinhento. No Nordeste, a Caipora, que é mulher, monta o porco-do-mato e ressuscita os animais abatidos.
Nomes comuns: Caipora, Curupira, Coropio, Coropira, Currupira, Pai do Mato, Mãe do Mato, Caiçara, Caapora, Anhanga, Flor do Mato, Zumbi, etc.
Origem Provável: É oriundo da Mitologia Tupi, e os primeiros relatos oficiais, datam da carta de Anchieta, em São Vicente, a 31 de maio de 1560. Depois tornou-se comum em todo País, sendo juntamente com o Saci Pererê, os campeões de popularidade. Entre o Tupis-Guaranis, existia uma outra variedade de Caipora, chamada Anhanga, um ser maligno que causava doenças ou matava os índios.
Existem entidades semelhantes entre quase todos os povos indígenas das américas Latina e Central. Em El Salvador, El Cipitío, é tanto um espiríto tanto da floresta, quanto urbano, que também tem os mesmos atributos do Caipora. Ou seja, pés invertidos, capacidade de desorientar as pessoas, etc. El Cipitío chama-se Curupi na Argentina e Paraguai, e nessas regiões ele gosta mesmo é de seduzir as mulheres.
E conforme a região, ele pode ser uma mulher de uma perna só que anda pulando, ou uma criança de um pé só de formato redondo. Outras vezes, pode ser um homem gigante montado num porco do mato, seguido por um cachorro de aparência esquisita chamado Papa-mel.
Grande homem coberto de pelos negros por todo o corpo e cara, montado sempre em um grande porco de dimensões exageradas, tristonho, taciturno, e dando de quando em vez um grito para impelir a vara. Quem o encontra tem a certeza de ficar infeliz, e de ser mal sucedido em tudo quanto intente; daí vem a frase portuguesa: "Estou caipora", como sinônima de: Estou infeliz, mal sucedido no que intento.
(Couto de Magalhães - O Selvagem, p. 137. Rio de janeiro - 1876)
O Caapora (vulgarmente Caipora) veste as feições de um índio, anão de estatura, com armas proporcionadas ao seu tamanho, habita o tronco das árvores carcomidas para onde atrai os meninos que encontra desgarrados nas florestas. Outras vezes divagam sobre um Tapir (Anta) - ou governam uma vara de infinitos Caitetus (Porcos do mato) cavalgando sempre o maior deles. Os vagalumes são os seus batedores, é tão forte o seu condão que o índio que por desgraça o avistasse era mal sucedido em todos os seus passos. Daqui vem chamar-se Caipora ao homem a quem tudo sai ao revés.
(Gonçalves Dias - O Brasil e a Oceania, p. 105. H. Garnier - [s/d] - É uma publicação de 1867)
Caipora, s.m. e fem. (Geral). Nome de um ente fantástico que, segundo a crendice peculiar a cada região do Brasil, é representado, ora como uma mulher unípede que anda aos saltos, ora como uma criança de cabeça enorme, e outras vezes como um caboclinho encantado. Estes entes habitam as florestas desertas donde saem à noite a percorrer as estradas. Infeliz daquele que se encontra cara a cara com a Caipora. Nesse dia tudo lhe sairá mal, e outro tanto lhe acontecerá nos dias seguintes, enquanto estiver sob a impressão do terror que lhe causou o infeliz encontro.
Por extensão, dá-se o nome de Caipora à pessoa cuja presença pode influir de um modo nocivo em negócios alheios, assim como também é Caipora o indivíduo malfadado, aquele que, apesar de sua moralidade, de suas boas intenções e do desejo de melhorar de posição, se vê constantemente contrariado em suas aspirações: "Sou muito Caipora..."
(Beaurepaire-Rohan - Dicionário de Vocábulos Brasileiros. Rio de Janeiro - 1889.)
Caapora - Um caboclinho encantado, habitando as selvas; e, como o Bicho-homem[6], tendo o Pé Redondo (de Garrafa) cocho, com um único olho no meio da testa, cavalgando sempre um porco selvagem, por silenciosas e remotas brenhas.
Tem comércio com caçadores famosos que dão-lhes presentes de fumo, cachaça e baieta em troca da quantiade de porcos que deseja matar, nas manadas ou varas por ele conduzidas.
Uma vez estabelecido o convênio, o feliz caçador tem caça à vontade e usa sem limites desse privilégio. Os que não possuem, encontrando o Caapora e sua manada, perdem o seu tempo, palavra e chumbo; porquanto, os porcos que caem varados e espatifados pelas balas, logo se levantam incólumes, ressuscitados, ao contato do focinho do porco que aquele cavalga.
Isso acontecendo, deve o caçador imprudente e sem experiência, retirar-se. É tempo perdido. A caçada está perdida.
(Manuel Ambrósio - Brasil Interior, p. 71. São Paulo, 1934.)
A Caipora é dona da caça, menos da caça de pena. O caçador que ela protege deve levar de presente fumo, mingau sem açúcar e sem sal. Detesta a pimenta. Se o mingau foi feito em vasilha onde se tenha cozinhado comida temperada com pimenta, Caipora não come e ainda surra o protegido. O caçador auxiliado por ela, mata toda versidade de caça que vier em bando. Não atira, porém, em animal isolado nem sobre o último do bando, porque talvez seja a Caipora transformada em bicho, guiando-os para o afilhado.
A Caipora é alma de caboclo brabo, índio que morreu pagão.
[2] Couto de Magalhães - O Selvagem, edição de 1876, pp. 138/139.
[3] No Mito da Velha Bruxa há uma referência semelhante. NO Mito, para se evitar o assédio da Bruxa, ou que ela entre na casa, coloca-se as palhas secas do Domingo de Ramos em forma de cruz, ou então Paina[4], ou fios de Gravatá[5]. A Bruxa é então obrigada a parar e só entra depois de contar fio por fio.
[4] A Paina é uma fibra natural semelhante ao algodão, oriunda dos frutos da paineira. É usado como enchimento para colchões e travesseiros.
[5] Gravatá é uma Planta cujas folhas fornecem longas fibras, de grande resistência e durabilidade, muito usada na confecção de móveis, cordas e outros artefatos.
[6] Este Personagem conhecido como o Pé de Garrafa tem sua própria biografia dentre os Personagens Mitológicos do nosso Folclore.
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