Autor: Editoria de Folclore - Site de Dicas[1]
Revisto e Atualizado: 02 de Maio de 2024
Vem do Quimbundo[2] nzumbi, e quer dizer, espectro, duende, fantasma. Para as antigas tradições africanas, vem do termo nzámbi, divindade, título adotado pelos chefes sociais. Entre os Cabindas[2], quer dizer Deus.
Zumbi foi o título do chefe dos rebelados escravos, que se refugiaram no Quilomdo dos Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas. Em Sergipe, Zumbi é um negrinho que se confunde com o Saci, que aparece nos caminhos em meio à mata e é companheiro da Caipora, mas nesse caso, não usa a carapuça vermelha à cabeça.
Anda nu ou quase nu, sempre procurando crianças que vão pegar frutas silvestres no meio do mato, para desorientá-las com seus longos e finos assobios, ou surrá-las, assim como já faz o Curupira.
No Rio de Janeiro, fala-se de um Zumbi da meia-noite, um espectro que vagava tarde da noite pelas ruas intimidando as pessoas. Relato semelhante a este também foi colhido no interior de Pernambuco, apenas que neste, ele canta de forma repetida o curioso refrâo: "Lá vem o Zumbi da Meia-Noite..." E se perde dançando na escuridão da noite.
Há também referências a um Zumbi diabinho malicioso, moleque. Também se diz que o Zumbi é um Feiticeiro. Uma vaga tradição fala de um Zumbi retraído, misterioso, taciturno, saindo apenas à noite.
O Vocábulo Zumbi ficou também na tradição popular para designar um ente fantástico que vagueia tarde da noite dentro das casas abandonadas.
Segundo historiadores[3], nos contos das amas de crianças, era esse o nome de uma entidade misteriosa, uma espécie de feiticeiro, retraído, frequentador das ruas desertas às altas horas da noite. Daí a expressão popular "Você está feito Zumbi", quando nos referimos a quem passa à noite em claro.
"Estar feito Zumbi", com insônia, vagueando pela noite por esse motivo ou por hábito. Esta frase parece vir das noites sem dormir e vigílias do Zumbi, o chefe negro da República do Quilombo dos Palmares, um hábito que adotara para não ser surpreendido em ataques noturnos pelos seus inimigos.
As acepções para o Zumbi são muitas. Para os Angolenses, é gente que morreu, alma do outro mundo. Na tradição oral de outras nações africanas, é fantasma, diabo que anda à noite pelas ruas. Quando os Negros viam uma pessoa astuciosa, que se metia em encrencas, diziam: "Zumbi anda com ele", isto é, o Diabo está em seu corpo.
Às vezes, ele aparece como um adulto pequeno que cresce quando alguém dele se aproxima, para então curvar-se em forma de um ameaçador arco sobre o indivíduo.
Nomes comuns: Zumbi, Zombie, Nzumbi, Zumbi da Meia-Noite.
Origem Provável: É quase certo que pertença a extensa Mitologia africana, embora tenha sofrido muitas variações e adaptações em nossas terras.
Como um diabinho atormentador, ele se parece com o Gunocô dos Indígenas Negros Bantus, e é um dos elementos constitutivos do nosso Saci-Pererê.
O Zumbi por vezes oculta-se, e impede a um cavaleiro de prosseguir. Os animais são capazes de perceber sua presença. No entanto, Ele próprio pode ser percebido pelo ronco surdo, estremededor, que faz, enquanto caminha.
Outras vezes, ele é a alma de um negro, que foi transformado em pássaro, e que fica ao escurecer nas porteiras das fazendas, gemendo com seu canto fúnebre, chamando os passantes pelo nome. Às vezes, ao meio dia, canta e lamenta a vida que levou como escravo, e diz: "Zumbi... biri.. biri.. coitado.. zumbi.. biri.."
Há também o Zumbi de Sergipe, que é casado com a Caipora. Este é um negrinho como o Saci-Pererê, mas sem a carapuça vermelha. Tem o hábito de correr através do mato ralo, a capoeira, rápido como um raio, do qual se percebe apenas um vulto, cuja cor, é de Ébano lustroso.
No Brasil, no tempo do Reino e império, há os relatos de uma assombrosa criatura fantasmagórica que costumava assustar os boêmios ou retardatários de altas horas, que era conhecido como "Cresce-e-Míngua, cuja principal característica era aumentar ou diminuir de tamanho diante de suas vítimas. Assim, ele podia aumentar ou diminuir a estatura do seu corpo, indo de três metros a três palmos de altura[4], num piscar de olhos.
Estes fantasmas eram descritos como "indivíduos vestidos de branco, que aumentavam de tamanho", e por isso mesmo eram denominados: "Cresce e Míngua".
Nos mitos e Superstições negras do Haiti, há o registro dos Zombies. O Zumbi haitiano, é um cadáver animado pela força mágica de um feiticeiro. Então, como um morto vivo, será escravizado nos trabalhos do campo, sob a guarda do seu encantador. São insensíveis, quase não se alimentam, e sua comida não deve conter sal. Se provam sal, sentem que estão mortos e voltam para a sepultura, quebrando o encanto que o feiticeiro tem sobre eles.
No fabulário brasileiro, não se conhece essa modalidade sinistra de exploração humana.
Relato coletado na cidade de Pesqueira, no interior de Pernambuco, de um tradicional morador local, o Sr. Jorge, Marceneiro. Homem pouco letrado e simples, de grande credibilidade entre os locais. Chama a atenção a riqueza de detalhes e a absoluta certeza daquilo que testemunhara. O ocorrido data do final do anos 1950.
Alteramos apenas parte da grafia original, mas não o conteúdo.
Viciado no Jogo de Cartas, naquela noite, perdera a noção de hora. Ao dar-se conta, descambou para casa em passos apressados. Nas ruas desertas daquela noite fria e nevoenta, nem cachorro se via pelos becos ou esquinas onde as lixeiras costumavam ser colocadas para a coleta do dia seguinte.
Foi quando escutou ao longe, o barulho das primeiras badaladas do sino da igreja, anunciando meia-noite. Apressou-se ainda mais. Nesse momento viu que não estava sozinho na rua antes deserta. O ruído de passos compassados, além dos seus, sugeria companhia. Não se enganara, atrás dele, caminhando por uma das calçadas da rua, um vulto, à largas passadas, se aproximava. Era alto, esguio, parecia mover-se como se deslizasse pelo chão, sem tocá-lo. Vestia roupas negras, um sobretudo aberto, e usava um chapéu de abas largas.
Apesar de não achar estranho, sentiu um arrepio lhe percorrer o corpo. Poderia ser mais alguém que estava na mesa de carteado, ou na casa de jogos, mas também poderia ser um ladrão. Desconfiado e cauteloso, resolveu manter distância daquele inesperado e misterioso companheiro de altas horas.
Apertou ainda mais os passos. Achou estranho que, quanto mais se distanciava, mais próximo o vulto parecia estar. Olhou outra vez e viu que ele, o vulto, aumentara de tamanho. Agora deveria medir a estatura de dois homens. Seu coração acelerou e a respiração ficou mais forte, e quando voltou a cabeça para trás mais uma vez, viu algo que o deixou congelado. O vulto agora ocupava os dois lados da rua, crescera, estava largo, com um pé em cada uma das calçadas.
E, diante dos seus incrédulos olhos, ele voltou ao tamanho normal e começou a dançar, enquanto dizia com uma voz grossa e ritmada: "Lá vem o Zumbi da meia-noite, quiri, quiri...", para em seguida desaparecer misteriosamente, de forma tão inesperada quanto fora sua aparição, deixando-o inteiramente confuso, desorientado, em pânico. Apavorado saiu em desembalada carreira rezando todas as orações que conseguia lembrar, só parando à porta de sua casa, quase sem fôlego.
Naquela noite, não conseguiu dormir nem sob o efeito de sedativos.
[2] Indivíduo Sul-africano ao qual pertenciam, entre outros, os escravos chamados no Brasil de Angolas, Cabindas, Benguelas, Congos, etc.
[3]
Nina Rodrigues, o grande médico, antropólogo e pesquisador brasileiro, que usava a grafia Zambi, escreveu:
...segundo a impressão que dele recebi na infância, nos contos das amas de menino, assim se designaria um ser misterioso, algo de feiticeiro, escuso e retraído, só trabalhando e andando a desoras. Daí a sentença popular "Você está feito Zambi" para crismar aquele que é de natural macambúzio, ou tem o vezo de passar as noites em claro, ou ainda prefere o trabalho a horas mortas...
[4] Manuel Querino - Costumes africanos no Brasil, p. 280.
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