Autor: Editoria de Folclore - Site de Dicas[1]
Revisto e Atualizado: 02 de Maio de 2024
A influência do Peru e da Bolívia se reflete mais nos costumes que nos mitos e superstições da região.
Daí a penetração, no folclore acreano, de algumas usanças, dalém fronteiras (a "cueca", a "marinera", a "caisuma", a "chicha", etc.). Como resultado destas duas forças modeladoras, o folclore acreano distinguiu-se, com nitidez, do "folclore amazônico" em geral (Amazonas e Pará).
As duas entidades mais atuantes no Folclore acreano são: Amazonas e Nordeste do Brasil. A primeira com os mitos primitivos e gerais, e agora quase diluídos, esquecidos. A segunda pela influência da grande população de cearenses, norte-rio-grandenses, paraibanos e pernambucanos, que se fixaram, desde os tempos da colonização daquele território.
Os mitos amazônicos, primitivos e divulgados pelos Tupi-guaranis, já foram descaracterizados e já não se fala em Curupiras, nem Anhangás, nem Mboitatá, nem Jurupari.
O Anhangá é apenas um veado que assombra. Curupiras e Caaporas se transformaram no Caipora, ou melhor, na Caipora, que os acreanos descrevem como o fazem os sertanejos nordestinos: caboclinha pequena, escura, robusta, cabeluda, ágil, com os cabelos longos cobrindo até os joelhos, dando caça a quem lhe dá fumo, e sendo muito ciumenta. Assim, os mitos mais vivos da região são aqueles que foram levados pelos retirantes nordestinos.
Desse modo, encontramos o Lobisomem, a Burrinha (Mula), o Batatão, a Caipora. Do ciclo amazônico há a Cobra-Grande, a Boiúna espalhando suas lendas em todos os rios, e, é claramente confundida com o mito europeu das Ondinas - mito de entidades que habitam rios, e que são semelhantes a nossa Iara.
No mais, pela influência dos trabalhadores das florestas, há a predominância dos animais fabulosos, como no Amazonas e Pará, Onças-bois, Gogó-de-sola e insetos fulminantes. Surge também das matas amazônicas, o Mapinguari[2], última encarnação do "Bicho-homem", o homem selvagem, antropófago que de longe, olha as luzes das cidades que surgiram na mata. Outras influências, vem do Peru e Bolívia, mas se refletem mais em estórias de caçadas míticas e superstições do que em personagens.
Embora, tendo o Peru uma extensão de fronteiras com o dobro de tamanho à da Bolívia, é esta mais influenciadora que o outro. Nas anedotas, estórias tradicionais de caçadas, valentias, casos pitorescos, certos hábitos e mesmo superstições, estas em menor quantidade, vê-se com clareza a poresença da Bolívia. O elemento de ligação ao contrário do que se pensa não foi o boliviano, mas o mestiço brasileiro, um eterno viajante, traficando, cortando seringueiras, tirando caucho, rio acima, rio abaixo, e semeando o que ouvira em seu sertão longínquo.
A Editoria de Pesquisas Folclóricas, é composta por dois antropológos, sendo um deles também folclorista, historiador e publicitário. Contamos ainda com a colaboração de uma pedagoga e antropóloga especializada em Tradições Populares e Costumes Antigos, e também com as valorosas contribuições dos nossos leitores.
>>> Bibliografia consultada.
[2] Um dos mais populares personagens mitológicos, na versão original possui apenas um olho na testa. Trata-se de uma clara alusão aos antropófagos Cíclopes e Ogres da mitologia européia, ou clássica de todos os povos.
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