Autor: Editoria de Folclore - Site de Dicas[1]
Revisto e Atualizado: 02 de Maio de 2024
Eram os habitantes de Viana em grande número. Dessa forma identificamos aqui uma percentagem altíssima dos mitos do Minho ainda vivendo na memória da população local. Nas superstições então, as lembranças minhotas são dominantes e seguidas ainda hoje quase que fielmente ao original. O Minho ainda assimila histórias e mitos da Espanha, Galícia, que logo foram incorporadas aos costumes da região.
Os indígenas que encontraram foram os Tupis. Pelo interior habitavam os Gês e Cariris, inicialmente, longe do contato com o estrangeiro. Os indígenas que tiveram contato direto com os invasores e seus exércitos armados, foram os Tabajaras e Caetés. Brigaram, brigaram e acabaram aliados. A mestiçação começou de forma natural e intensa, dada a ausência de mulheres brancas.
Menos de meio século depois do descobrimento oficial do Brasil, os mamelucos pernambucanos eram muitos e decididos. O fundador da cidade de Natal, primeiro capital do forte dos Santos Reis Magos, o vencedor dos franceses em Guaxenduba, é Jerônimo de Albuquerque Maranhão, filho de branco português com índia tabajara. O fidalgo mameluco falava português e "nhengatu" e tantos eram seus parentes Dona Brites d'Albuquerque, senhora de Pernambuco, como os valorosos guerreiros empenachados em suas roupas de campanha.
De Jerônimo de Albuquerque, o Torto, pai desse soldado vitorioso, e da índia Arco-Verde (Ubiraubi) vêm quase todas as famílias do Nordeste[2].
Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Maranhão, para o sul, Sergipe, parte do Rio São Francisco foram os campos da atuação militar de Pernambuco. Brancos e indígenas andaram juntos, batalhando, aliados ou inimigos, durante três séculos.
Pernambuco, desde os primeiros anos, fundou a indústria açucareira onde o Negro era indispensável e vieram aos milhares para os engenhos. Em 1585, possuía 66 engenhos, produzindo 200.000 arrobas. Possuía até 10.000 escravos vindos da Guiné, nome genérico para todos os mercados negros na África.
Essa multidão negra que se avolumava a cada ano, aumentou com o domínio holandês, que entre 1636 e 1645 trouxeram da África mais de 23.000, assim sua indiscutível influência espiritual no folclore pernambucano. Embora em grande presença, sua atuação se limita às influências nas danças, cantos, estórias, ritos, cerimônias, enfim religião onde são imbatíveis. Mas, sua presença, embora influa, não determina a criação de nenhum mito que se popularize como os emigrados da Europa ou vindos dos indígenas.
O Negro, crédulo, impressionável, influencia a disseminação das estórias de assombração, contos de encanto, monstros, fadas, príncipes, etc. É um retocador sem igual, magistral em seu talento para contar estórias. Sendo as "Mães pretas" as encarregadas de cuidar dos filhos dos seus senhores brancos, com seus contos e cantigas de ninar, criam nos pequenos a fantasia dos monstros assombrosos, ou dos príncipes encantados.
A influência negra é, em parte, devido a sua capacidade de evocar o lado misterioso das "coisas", com suas explicações sinistras, justificativas fantásticas e maravilhosas, mesmo quando se trata dos episódios mais simples e naturais do dia a dia[3].
O folclore local embora rico, não apresenta materiais que o permita diferenciar-se do quadro geral do Brasil, com as consequências e processos idênticos aos demais estados, sem predominância positiva desta raça ou deste fator social, religioso ou local.
Uma ausência que poderá deixar atônitos os pesquisadores, é o elemento holandês que em nada ou quase nada influiu na vida da região que dominou durante vinte e quatro anos. Aqueles que apontam o holandês como responsável pelas lendas das mulheres altas e "brancas", as "Alamoas", com olhos azuis e cabelos de ouro, ignoram a antiguidade de mitos semelhantes em Portugal e com os mesmos processos de ação e presença.
Em vão, nos costumes, no idioma, nas crendices, se encontrará a influencia batava. Entretanto, no sotaque da língua falada, marca-se, ainda hoje, a presença do antigo dominador.
No vocabulário, aparentemente, apenas uma palavra ficou no linguajar nordestino, "brote", de "brot", que significa pão[4].
O holandês, entretanto, para o nordeste, ficou como sabedor de supremos segredos mecânicos. Era capaz de erguer uma fortaleza numa só noite, destruir uma cidade em minutos, cavar subterrâneos de léguas e mais léguas, túneis que atravessavam cordilheiras.
A casa-forte dos "Reis Magos", cuja construção sabemos em detalhes por Frei Vicente de Salvador (História o Brasil, capítulos XXXI/XXXII, livro quarto), é tida como feita durante uma noite, noite de véspera de "Reis", 6 de janeiro. Bem, de resto, o que sabemos é que eles nada deixaram para a região, pelo contrário, só levaram.
A Editoria de Pesquisas Folclóricas, é composta por dois antropológos, sendo um deles também folclorista, historiador e publicitário. Contamos ainda com a colaboração de uma pedagoga e antropóloga especializada em Tradições Populares e Costumes Antigos, e também com as valorosas contribuições dos nossos leitores.
>>> Bibliografia consultada.
[2] Ver "Nobiliarquia Pernambucana" de Antônio José Victoriano Borges da Fonseca, dois volumes, Edição da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, 1935.
[3] Para ilustrar esse fato, Luís da Câmara Cascudo, o grande folclorista brasileiro, relata um fato que lhe aconteceu em Recife.
Um chofer de praça, em Recife, dizia-me, anos passados, que o bandido Virgolino Ferreira, o "Lampião", era invulnerável por ter recebido um "patuá" da mão de um feiticeiro baiano. "Não há bala que não derreta como manteiga e faca se dobra como arame ao chegar em sua pele", afirmava o negro motorista, sisudo e convencido daquela realidade. Quando Lampião morreu, casualmente encontrei-o outra vez e inquiri das virtudes "milagrosas" do "patuá". Ele não se perturbou e disse: "Lampião morreu porque deixara o "patuá" (oração forte, amuleto, etc.) na barraca, quando fora tomar banho pela manhã. Não tivera tempo de recolocá-lo no pescoço. Por isso morreu..."
Como ele sabia dessas coisas? Ninguém o dissera. Ele simplesmente sabia que era assim. E sua fé continuava límpida, sem uma mácula sequer que abalasse o prestígio dos "patuás", mesmo sendo, esse chofer, um sujeito culto. A cultura profissional, de forma alguma, lhe altera a mentalidade e crença que cultua desde as primeiras gerações o seu povo.
[4] Frei Manuel Calado já o empregara. 'Valeroso Lucideno, 1648'. Sobre o assunto geral, Geografia do Brasil Holandês, Rio de Janeiro, 1946.
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