Por trás do problema da sexualidade mal compreendida se escondem incontáveis angústias e conflitos existenciais humanos, em todos os tempos...
Colocando as coisas nos seus devidos Lugares...
O despontar da sexualidade infantil, não quer, de maneira alguma, significar o despertar da necessidade de fazer sexo, ou algo pecaminoso, nocivo, delinquente, bizarro ou anormal, como gesticula a maioria dos adultos com suas mentes já contaminadas pela maledicência espúria e condicionadas pela tradição, crenças e hipocrisia. É como dizia o sábio: “Insensatez não é a ignorância do não saber, mas a ignorância do ato deliberado de se negar a aprender...”
Esse dissimulado alarde em torno da questão sexual não faz sentido, pois trata-se apenas de uma singular, necessária e involuntária descoberta. Naquele momento a criança está descobrindo que aqueles órgãos possuem uma sensibilidade diferente dos demais; diferente de mãos, pés, boca, e outros. Isso não depende de crenças ou tradições, nasce no momento em que o veículo humano foi planejado pela natureza.
E se a natureza programou estes órgãos com tais características, deveria ter suas razões, e estas certamente não são as razões humanas. Aperte o braço de uma criança e esta certamente irá chorar; ao contrário acaricie, e esta irá sorrir. Não existe nesse ato nenhuma deliberação consciente de sua parte. Ela sequer sabe o que isso significa; é uma resposta instintiva e intuitiva, assim como é a fome, ou a capacidade espontânea de ouvir, sentir cheiro ou paladar.
O despertar da sexualidade, numa criança, nunca é algo premeditado. Antes disso, trata-se de um processo natural, assim como o é o ato de degustar os sabores de um alimento. Não escolhemos sentir ou não sabor, pois o simples ato de ingerir alimentos já o desperta. Não interessam os nomes, é uma condição involuntária. Embora nosso paladar seja capaz de diferenciar sabores, isso não depende de nossa escolha ou opinião. Evitar o objeto palatável não elimina o processo do paladar.
Assim também ocorre com a sexualidade. Não se trata, entretanto, do processo sensual voluntário, o lado erótico já largamente praticado pelos adultos. Trata-se da simples constatação da existência de uma sensação, uma propriedade, do qual todos os seres racionais e irracionais, salvo alguma anomalia genética, foram dotados.
Desse modo, o despertar natural deverá ser esclarecido e nunca reprimido. Deverá ser conduzido com cautela e orientação sem pudor. Da compreensão do que está acontecendo naquele momento com nosso corpo, nascerá a capacitação adequada para discipliná-lo sem traumas. Apenas a compreensão me faculta conviver em harmonia com meus instintos e processos intuitivos. O conhecimento disciplina e edifica, a repressão aliena e deforma, e o pior de tudo, não anula o problema.
Por que a Repressão sem Conscientização não é a Pedagogia Certa...
Sabemos de muito tempo o quanto é ineficaz a repressão dos instintos pela força. A sublimação dos sentidos já sabemos quanto é ineficaz. Isso já foi tentado por todos, através dos tempos, sem nunca lograr êxito. Veja-se as loucuras e extravagâncias já praticadas por todas as religiões, e os estúpidos alentos puritanistas, e protocolos sociais do mundo, tudo em vão. É como diz um velho adágio: "O problema maior não está no significado das palavras, mas naqueles que as interpretam..."
Repressão causa deformação. Repressão sem esclarecimento gera dúvidas, exacerbada curiosidade, incentiva e estimula o uso indevido da coisa. Diga não sem os “porquês” e lá estará o curioso, sem discernimento algum, por conta própria, em busca de explicações. Então surgirão as deformações, os conflitos, as tentativas de sublimar algo que não pode ser contido por meio de leis, decretos ou postulados sacros; muito menos pela força dos tabus. No entanto, se compreendido por meio do esclarecimento, poderá ser disciplinado e deixará de ser um problema.
O conhecimento dirá o que é natural e o que é excesso; o que é necessário e o que não é. Colocadas as coisas nos seus devidos lugares, que espaço haverá para os desvios Patológicos?
A repressão sem esclarecimento incita ainda mais um despertar inadequado desse estado natural. Sem saber o que significa a sexualidade, a criança ou jovem, logo tenderá a explorar por conta própria, sob a influência dos amigos, daqueles enganadores mal intencionados que estão por toda parte. A criança precisa de instrução, esclarecimento responsável, da parte de quem confia. E não conseguindo nada disso em casa, onde será que irá buscar suas respostas? Você confiaria que uma instrução de tal importância e magnitude chegasse à sua criança pelas mãos de estranhos vindos da rua, de fontes desconhecidas e obscuras? Se você não esclarece, o mundo esclarece do seu modo, e os resultados, estes, conhecemos bem.
Compreender nossos instintos, que são nossas sensações físicas, nos liberta. A compreensão, desde cedo, nos faculta aprender a doutriná-los, direcioná-los da maneira adequada, sem a necessidade de dominá-los à força ou sob o jugo opressor de tratados sociais e costumes – que, aliás, nunca funcionaram. Pelo conhecimento é possível que cada sensação ocupe seu devido lugar, sem invadir o espaço de nenhuma outra coisa. Uma carência afetiva, que logo procura na degeneração de um vício uma compensação, poderia ser evitada se compreendida na origem.
Essa compreensão desde o início tende a colocar cada coisa nos seus eixos, não permitindo que se desgovernem tomadas pelos excessos, que na maioria das vezes têm sua origem na ignorância. Compreensão é tudo, vem do esclarecimento. É a porta para que cada coisa ocupe seu lugar apropriado sem, contudo, invadir o espaço da outra. Isso impede, por exemplo, que uma coisa seja usada para aquilo que não foi originariamente projetada.
Assim como não podemos controlar nossa fome a partir da simples vontade, também com os atributos do nosso instinto, ocorre o mesmo. Isso implica em afirmar que um instinto precisa ser estudado, compreendido por meio da autoexperimentação, o que faculta ao indivíduo entender seu mecanismo de funcionamento. Compreendido, não mais precisará ser sublimado. O controle pela força nunca foi uma prática eficaz.
Sensações instintivas não são possíveis de controlar apenas pela vontade, é preciso algo mais. Esse algo mais é o esclarecimento, a consciência lúcida de tudo o que ocorre. Vontade sem querer e querer sem consciência lúcida é coisa nula. Podemos viver em harmonia com tudo isso a partir da compreensão de sua verdadeira natureza e função, o que só será possível se examinarmos o problema de perto; se estivermos motivados pelo amor que caracteriza toda grande descoberta.
E isso não se consegue por meio de condenações, desculpas, evasivas, ou sob o patrocínio por uma mentalidade já contaminada pela deformação. Entender as nossas reações corporais é tão importante que deveria ser uma matéria formal na grade curricular; um item obrigatório em todas as pedagogias. E talvez desse modo, a partir da compreensão daquilo que verdadeiramente somos e sentimos, dos porquês de cada coisa, talvez pudéssemos viver em harmonia com nós mesmos, sem excessos, autoflagelações ou sublimações; sem alienações ou fanatismos motivados por crenças patológicas ou ideologias espúrias.
Por fim...
Compreender nosso corpo, o significado do instinto ou da razão, quais são as situações que caracterizam as reações espontâneas de nossa fisiologia, isso é um passo fundamental à percepção e entendimento da verdadeira natureza humana. O processo natural da nossa fisiologia, este não foi criado por nós. Compreender esse fato irrefutável é mais que um dever, trata-se de uma necessidade vital. “Instinto sem dono é como um cão raivoso sem coleira solto na rua.” A ignorância é a raiz existencial da maioria dos nossos problemas.
A compreensão é a chave para auto-organização. Só com a auto-organização surge a disciplina. Não aquela atrelada aos cabrestos de dogmas, e sim a autêntica, espontânea. Disciplinado a partir do conhecimento que surge por meio do esclarecimento lúcido e vivência pessoal, cada instinto poderá ocupar seu respectivo lugar e exercer sua função sem disfunção. E cada processo do nosso viver irá se manifestar sem desvios, sem deformações morais ou paranóias.
E nesse processo, a instrução qualificada, idônea, objetiva, ilustrada com fatos comprováveis e exemplos irrefutáveis, vale mais que repressão. Repressão é uma barreira que impede o desenvolvimento de uma mente saudável e criativa.
Compreensão é educação. Só com a educação pode existir a autodisciplina, um processo natural derivado da auto-organização. Só esse tipo de disciplina funciona. É a única forma lógica, sensata, efetiva, de criarmos sem destruir; de qualificarmos nossos potenciais criativos com inteligência. O cérebro sem essa qualidade de inteligência se recusa a ser racional, atrofia, se torna fossilizado, obtuso, irracional, deformado, insensível e violento; incapaz de dar origem a um juízo justo, mas plenamente capaz de criar um mundo caótico a exemplo do nosso atual.
A deformação é incapaz de criar algum tipo de reforma positiva em nosso mundo.
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[1]Jon Talber
É Pedagogo, Antropólogo e autor especializado em Educação Integral e Consciencial.
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