Adaptação e Revisão: Alberto Filho[1]
Conteúdo Revisto e Atualizado: 17 de Maio de 2024
"A Superproteção dos pais ainda é um dos mais ativos patrocinadores da deformação psicológica de crianças e jovens..."
"Senhora, no seu caso, receita-se uma cama..."
"... Mas há um remédio com esse nome?"
Não, minha senhora, não há uma droga com esse nome. Mas o remédio para o caso do seu filho é esse mesmo: uma cama, este clássico móvel que as pessoas usam para dormir inclusive.
Acomodar seu filho no seu leito conjugal é um erro de graves consequências futuras, e nesse erro incorrem pessoas de todos os níveis sociais.
Diz a senhora que o menino é "muito apegado" consigo, que "não faz mal porque ele ainda é muito pequeno" e etc. Muito bem! Até quando essa situação poderá ser tolerada? "Quando ele for grandinho, naturalmente terá que dormir em outro quarto..."
Nesse caso, quando ele for grandinho, então, o mal que se poderia fazer já estará consumado. A senhora o trará aqui, novamente, para que o examine. A esse tempo não receitarei mais uma cama, talvez, nem mesmo droga nenhuma. Ele precisará, talvez, dum dispendioso tratamento analítico, demorado e paciente. E trará no seu passivo social, possivelmente, um largo prontuário de êxitos negativos.
Ah, a senhora conhece muitas pessoas que quando meninos dormiam com os pais e que não sofrem dos "nervos"? Olhe aqui: Acontece que dormir na cama dos pais não causa doença nervosa, propriamente, o que provoca ou pode provocar é uma série de distúrbios na formação da personalidade do indivíduo. Distúrbios que poderão vir à tona sob a forma de desvios, perversões, fixação e complexos diversos que marcarão, para sempre, a vida deste adulto.
Se sob o ponto de vista da higiene física já o fato de dormirem duas pessoas na mesma cama não chega a ser coisa recomendável, sob o ponto de vista da higiene mental, dormir os pais com os filhos no mesmo leito constitui um hábito que nunca recomendamos. E veja bem: dormir mesmo em outra cama, mas no mesmo quarto, ainda é uma prática nociva, pois a vida íntima dum casal não deve constituir um espetáculo para os olhos de uma criança.
Diz a senhora que o "ele é inocente..." não percebe nada... Pois sim. É que os adultos facilmente esquecem que a perceptividade da criança é muito mais aguçada do que se imagina e que as imagens gravadas até os quatro anos de idade formam um lastro que, do seu inconsciente, poderá determinar várias normas de conduta e atitudes negativas, interferindo de maneira dramática em seu comportamento e personalidade, um fato que certamente trará sérias conseqüências para seu Ego na vida futura.
Seu filho deve se habituar a dormir em cama própria, noutro quarto, noutra parte da casa, sem a presença de adultos. Deve ser habituado a deitar-se na hora certa e a adormecer naturalmente. Sem embalos, sem cantorias; sem cafunés, sem histórias, sem carícias nos dedos dos pés ou em qualquer outra parte do seu corpo; sem ameaças, sem rituais e sem medo. O medo que algumas crianças têm do escuro ou do isolamento lhes é incutido pelos adultos que exaltam a sua imaginação com histórias impróprias ou com o terror condicionado: "se não dormir logo vem o bicho papão e lhe pega..." ou "olhe o homem do saco...", ou qualquer variante dessas estúpidas coações.
Se algum familiar já se encarregou de lhe semear o terror, faça cessar a sua influência malévola e reeduque, pelo exemplo, sua criança, fazendo-lhe ver que tais coisas não existem e incutindo-lhe a noção de segurança que ela deve sentir no seu lar.
Por mais humilde que seja a sua casa há de se encontrar um lugar onde a criança possa ter o seu recanto. Cerque-a de brinquedos simples: bolas, bonecas, jogos de montar, animais de brinquedo. Não diga que não os pode comprar. Você mesmo pode fazer pequenos brinquedos para o seu filho e um boneco de pano de fabricação caseira lhe causará tanto prazer quanto um outro qualquer das vitrines sofisticadas. Um jogo de montar, feito com quadrinhos de madeira, serrados em casa e depois coloridos, lhe fará tão feliz quanto um outro de custo elevado, mas que, na essência, é a mesma coisa.
Cuide de preparar assim a sua pequena estante de brinquedos ao lado da cama do menino. Aquele será o seu "território", onde ele poderá se desenvolver guiado por sadias referências e onde se lhe poderá incutir hábitos corretos.
Seu menino deve dormir em cama própria e fora do quarto dos pais. Esta é mais do que uma receita. É uma orientação para que ele possa melhor vencer as diversas fases de evolução natural dos seus sentimentos em relação aos pais, condicionadas a um fenômeno psicológico conhecido pelo nome de Complexo de Édipo.
Pense Nisso.