Autores: Ester Cartago e Jon Talber[1]
Conteúdo Atualizado: 14 de Julho de 2024
Observação Importante: Quando usamos a Expressão "Os Pais", estamos nos referindo aos dois Gêneros, e não apenas ao Gênero Masculino.
Educador não deveria ser aquele que simplesmente se especializa na arte de instruir sem conscientizar. Instruir é uma coisa; conscientizar, outra. Dizer como fazer é uma coisa; explicar por que deve ser feito, outra. O indivíduo sem consciência dificilmente terá bom senso; e sem bom senso, a instrução dificilmente irá se reverter em ações positivas ou profícuas.
No processo instrucional comum, quando o bom senso está ausente, o conhecimento é simplesmente repassado de um protagonista para outro sem antes se avaliar, tanto a qualidade do instrutor, quanto a utilidade da informação. E neste caso, sequer se avalia se aquilo é de fato uma informação, ou apenas uma bem estruturada desinformação.
Um livro pode se tornar um eficaz educador, e o mesmo pode ocorrer com um mito, uma crença, um tabu; ou ainda uma Propaganda que pretenda criar novos hábitos de consumo ou novas posturas comportamentais. E podemos chamar a todos estes de agentes instrutores, mas não educadores. Se o papel destes agentes é ensinar coisa inútil ou útil, isso é outra história, o que não anula seu papel de preceptor ou professor. A maioria dos “educadores” do mundo poderiam se enquadrar nesta categoria, ou seja, de pseudo Educadores.
Quando observamos o atual Comportamento Social do Homem, suas angústias coletivas e individuais, as causas de suas ansiedades, seus medos, vaidades e excentricidades, parte do acervo da sua extensa cadeia de problemas existenciais, não há como negar que tudo isso faz parte do seu conhecimento acumulado. E os novos moradores de cada recanto deste planeta, grupo do qual fazemos parte, acabarão por herdar dos seus ancestrais, inicialmente sem direito a escolha, todo este repertório cognitivo, num ciclo que se repete perpetuamente.
E é este conhecimento que dá origem à Personalidade dos novos Inquilinos, que por sua vez constituem o cérebro ativo e a mentalidade desta humanidade. Assim podemos afirmar que a mentalidade do mundo é o nosso principal agente cognitivo. Ela se manifesta por meio de nossa presença; seu pensamento é nosso pensamento; suas necessidades psicológicas são também as nossas, assim como seus objetivos existenciais, alegrias e frustrações.
E o mundo repassa seu conhecimento para seus filhos. E se este mundo não caminha em nenhuma direção coerente, também este será nosso incondicional destino. E por meio de nós, o pensamento do mundo se transforma em ação. E por meio de nós, este pensamento poderá permanecer inalterado, sofrer modificações ou se consolidar.
E eis que surgem os nossos filhos, os adultos de amanhã, cujas mentes são como livros com folhas em branco; folhas nas quais podemos escrever qualquer coisa, até nossas frustrações e medos inconscientes, dramas existenciais e conflitos mais bizarros. E também nossos desejos e vaidades; nossos desafetos e afetos. Enfim, os incontáveis traços e rabiscos que já fazem parte de nossa personalidade. E enquanto as crianças não são capazes de evitar a absorção desta mentalidade, nós, como educadores ou pais, se estivermos cientes de tal fato, talvez possamos mudar a qualidade desta escrita.
A não realização de um desejo, um resultado idealizado e planejado diferente daquele esperado, disso resulta o sentimento que conhecemos como Frustração. Claro que as crianças, pelo menos as pequenas, ainda não sabem o que isto significa; não conhecem as causas capazes de despertar tal sensação, muito menos as formas anímicas que os adultos usam para expressá-la.
O sentimento de frustração, como traço instintivo, é uma variante da desmotivação natural que surge sempre que nos deparamos com alguma situação diante da qual nos sentimos impotentes e incapacitados para enfrentar. Na maioria das vezes, se expressa como uma sensação de insuficiência, desânimo profundo, ou a simples falta de coragem para encarar de frente alguns desafios, e a depender da educação que recebemos, nem mesmo precisa ser uma situação crítica, ou mesmo uma necessidade capaz de por em risco nosso bem estar.
E, apesar da frustração ser um estado natural, anímico, inato, um atributo necessário à manutenção da qualidade de vida de cada animal, há outra variante, e esta foi inteiramente criada por nós. Surge quase sempre quando as muitas expectativas, desejos e objetivos criados pelo nosso pensamento, sejam eles necessidades ou simples caprichos, acabam por encontrar obstáculos difíceis de superar. Tais situações poderão ser problemas sérios, ou apenas fantasias das mais simples e estúpidas, a exemplo de teimosia, orgulho ou vaidades, demandas estas das quais insistimos em não abrir mão.
Esta “frustração” de natureza inteirmanete artificial, ele, o adulto, cria e repassa para seus filhos. Trata-se de um processo onde o adulto primeiramente apreende, absorve, recebe como dote dos seus ancestrais, e depois de praticar em si mesmo e dela reciclar alguns traços, dá de presente para seus descendentes. Trata-se de uma escrita que tem se repetido na íntegra ao longo das eras. Se isto vai continuar indefinidamente, apenas nós, como multiplicadores de tradições, manias, costumes bizarros e hábitos patológicos, podemos decidir.
Ser capaz de Perceber tudo isso já é um indício de inteligência. Só podemos ensinar da maneira correta se nos tornarmos inteligentes, caso contrário, apenas seremos multiplicadores das deformações e perturbações que já assolam nosso dia a dia, desde que o homem se tornou aparentemente racional.
Ensinar a ser inteligente não é a mesma coisa que ensinar a repetir aquilo que já praticamos. A Inteligência surge com o princípio da descrença ou da dúvida, não há outro meio. Este princípio tem apenas um artigo e um parágrado que diz: "tudo que chega aos nossos olhos e ouvidos, deve ser investigado, avaliado e examinado com liberdade, sem medo, sem exceções, sem desculpas, sem subterfúgios ou concessões, antes de se tornar instrumento útil para uso pessoal ou de outros."
Só uma mente que admite não ter certeza de nada é capaz de aprender. Só uma mente que não sabe, que duvida até de si mesmo, com senso crítico ativo e profundo senso de curiosidade, pode se tornar inteligente. E a inteligência começa com o princípio da auto-organização, que conduz à autodisciplina e a autocognição, e tudo isso requer liberdade ou Autonomia Pensênica.
Esta liberdade é o princípio fundamental para tudo. Sem ela não há chance alguma de progresso psicológico. As tradições, com seus tabus, dogmas, paradigmas seculares; com as incontáveis doutrinas e inflexíveis crenças condicionadoras, não permitirão mudanças, iniciativas que coloquem em risco sua autoridade. No entanto, para mudar, precisamos estar livres para pensar, divergir, duvidar. A verdadeira disciplina só pode existir onde há liberdade, um caminho natural para o surgimento do senso de organização, uma condição que dá origem à inteligência.
Ao longo dos séculos criamos o mundo psicológico e caótico que deu origem ao homem confuso que ora nos representa ativamente. Somos a imagem do mundo com suas deformações, conflitos e dramas sem fim, e a menos que se promova uma mudança no rumo do nosso padrão pensênico, harmonia e bom senso jamais farão parte dos nossos dias. E não adianta se iludir; a lógica é bastante simples: uma mente deformada só é capaz de criar ainda mais deformação e confusão, jamais o inverso disso.