Autores: Jon Talber e Anne Marie Lucille[1]
Conteúdo Atualizado: 14 de Julho de 2024
Observação Importante: Quando usamos a Expressão "Os Pais", estamos nos referindo aos dois Gêneros, e não apenas ao Gênero Masculino.
Uma criança não possui Disciplina, ordem interna ou externa, nem segue regra alguma. As regras foram criadas para padronizar a conduta dos adultos, um comportamento que para uma criança ainda não faz o menor sentido. Numa sociedade organizada, todos precisam seguir as regras, pois trata-se de um modo consensual de tentar minimizar a presença do caos nas relações humanas. Sem essa organização as leis de uma mesologia ou nação se tornariam simples tratados retóricos sem nenhuma função prática, ou educativa.
Como a criança ainda não possui identidade ou personalidade, preferências, ideais, compromissos sociais ou objetivos de vida, irá concentrar toda sua energia apenas em sua imensa disposição para aprender. Aprender qualquer coisa; seja isso desordem ou ordem. E neste processo aquisitivo, também aprenderá a ser impaciente ou paciente; a valorizar ou ignorar aquilo que entra pelos seus ouvidos, ou desfila diante dos seus olhos.
Motivo pelo qual sua energia precisa ser direcionada da maneira correta, disciplinada, convergente, com maior ênfase em direção a ações práticas que lhe sejam úteis, e com menor intensidade, às atividades destinadas apenas a gastar o tempo. Nesta etapa, a depender do nível de conscientização do adulto que a assiste, ela aprenderá a ser naturalmente disciplinada, condição necessária para que no futuro se torne auto-organizada e responsável pelos seus atos.
O modelo recreativo tipicamente praticado apenas serve de meio para aumentar a indisciplina infantil, uma vez que se apóia na falta de objetivos cognitivos claros. Prescinde de metas diante das quais a criança seja capaz de assimilar alguma coisa proveitosa para seu aprimoramento. Nesta fase etária, convém investir nas atividades que favoreçam o desenvolvimento das habilidades necessárias ao seu progresso Motor, Sensorial e Consciencial.
O tradicional hábito de sentar durante horas contemplando bobagens diante de um aparelho de TV ou tela de um aparelho Celular, não nos parece uma boa prática cognitiva. Na verdade trata-se de um incentivo à indolência, preguiça, sedentarismo, fobia social e apatia sensorial, mas serve para ilustrar com bastante clareza a óbvia falta de interesse dos pais na correta educação e direcionamento daquela criança.
Neste processo equivcado de aquisição de conhecimento e prática social, ela aprenderá os primeiros passos para a autoidentificação com manias desnecessárias, paranóias, vícios e hábitos patológicos, conteúdos que, além de não acrescentar nenhum valor educativo ou edificante para sua vida, vai deformar de maneira irreversível todo seu processo cognitivo e psicológico.
A disciplina de cada indivíduo passa a existir, apenas a partir do momento em que aprendemos a colocar ordem em nossas atividades, compromissos, ou qualquer outra tarefa que nos propomos a realizar. Disciplina não é, nem nunca será, o rigoroso cumprimento de horários, obrigações ou aceitação cega a certos padrões. Isto é simples mecanicidade, lavagem cerebral e comprometimento cego com as regras, sejam quais forem, por receio às retaliações, ou ainda pelo desejo por compensações, o que diverge de organização. A organização contempla a presença de uma motivação permanente não dependente de castigos, méritos ou elogios.
A motivação pessoal sem o desejo explícito por compensações no cumprimento de uma tarefa, pelo simples prazer de ver um trabalho depois de iniciado concluído, acaba por criar no indivíduo uma espécie de ordem interna; um sentimento de comprometimento que se transforma em auto-organização espontânea. Deste desejo consciente de ver seu trabalho realizado, poderá surgir a autêntica Disciplina.
Esta ordem interna se aprende, quando lhes explicamos os motivos pelos quais toda tarefa iniciada precisa ser concluída, por mais irrelevante que inicialmente pareça, mesmo que seja apenas o ato de calçar uma meia. Para a criança, a função de cada tarefa, assim como os porquês de cada ato, sempre deverão ficar claros desde o princípio. Outra coisa que deverá ficar bastante clara, é quais serão os benefícios esperados a partir daquela ação, ou os malefícios, em caso de não cumprimento.
Se desde o principio fica claro o objetivo de cada coisa, a disciplina forçada, aquela motivada pela prática de castigos, recompensas e elogios, logo perderá sua força. E o mais importante, para a criança, aquele hábito esclarecedor, quanto então irá tomar conhecimento dos motivos pelos quais precisa concluir uma tarefa, qualquer que seja ela, torna-se até um momento agradável.
Assim a criança, de maneira lúdica, vai praticar aquela tarefa sabendo por que o faz. Informada deste fato, algo que poderá comprovar na prática, estará autoconsciente de seus deveres, Efeitos e Causas de suas ações. Isso favorece o desenvolvimento do senso de organização, que é o caminho natural para a Autodisciplina Integral.
Nosso condicionamento não mais permite que pensemos como uma criança. Podemos estudar seu comportamento e traços aparentes do seu temperamento, mas seu modo de pensar, isso jamais estará ao nosso alcance. Estudar o comportamento de uma Criança não é a mesma coisa que saber como ela pensa.
Pensamos de acordo com nossas experiências e lastro cognitivo, o que não pode ser comparado ao acervo mental de uma criança; muito menos temos meios para saber qual é a lógica que ela adota para tomar suas decisões. Sobre o que supostamente ela pensa, só podemos especular, mas saber de fato, jamais. E tirar conclusões com base em nossa imaginação, é sem dúvida um grande risco e um evidente ato de estupidez.
Descobrir as preferências de alguém não nos faculta saber no que está pensando. O modo de pensar, além das escolhas, determina aquilo que se imagina obter como resultado após cada escolha, e isso é impossível de ser deliberado por meio de deduções ou elucubrações, especialmente quando de trata de uma criança. Seu acervo de informações é mínimo, e descobrir qual a lógica que usa em seus processos decisórios é algo que está além do nosso alcance, embora seja algo especulável.
Mas, podemos conhecer ou antecipar o resultado de cada uma destas escolhas, o que para nós é uma vantagem. Isso ocorre porque, ao contrário dela, já temos experiência de vida. Explicar o que pode acontecer após cada escolha, esta é uma postura inteligente que irá ajudá-la a criar uma lógica interna coerente, sem esquecer, entretanto, de reforçar o conceito por meio de exemplos. Ao ser capaz de comprovar na prática aquilo que falamos, a criança terá certeza de que estamos do seu lado.
Assim ela aprenderá que, a cada ação praticada, invariavelmente, uma reação se mostrará como resultado. Aos poucos será capaz de deduzir por conta própria o provável desdobramento de cada ato praticado. Esta é a base do senso de Disciplina. A Capacidade de planejar, uma qualificação que favorece o processo decisório, é o que se espera obter de tal aprendizado, e sem planejamento, que é ordem, nunca poderá existir disciplina, nem coerência em nossas escolhas.
O Sentimento do dever cumprido tem um potencial disciplinador mais eficiente que mil Exemplos. O Sentimento de uma tarefa cumprida aumenta a autoestima da criança. No entanto, inicialmente, um adulto de sua confiança deverá, tanto estabelecer o ponto inicial, quanto fixar um ponto final para o cumprimento de cada tarefa que lhe seja delegada. E assim ela aprenderá como começar, e finalmente, quando deverá dar por encerrado algo iniciado.
O elevado sentimento do ser capaz de iniciar, desenvolver, e finalmente concluir uma tarefa, e tudo isso graças ao seu esforço e dedicação pessoal, deverá ser sua contínua fonte de Motivação. Neste caso, as recompensas usadas como meio para forçá-la a cumprir com seus compromissos deixam naturalmente de ter valor.
Uma criança que dependa apenas do estímulo de prêmios por tarefas cumpridas, psicologicamente, jamais será disciplinada, ou criativa, muito menos solidária, e nunca irá se comprometer com o bem estar coletivo. Como jovem ou adulto, em seus futuros interrelacionamentos, sempre irá prevalecer o hábito da troca de favores pessoais, e ali, entre eles, nunca haverá sentimento de cordialidade, ética, assistencialismo, compartilhamento, afetividade ou respeito mútuo autêntico, mas apenas interesse em barganhar com a intenção de tirar algum proveito.
Finalmente, que exemplo podemos dar aos nossos filhos e alunos, senão nossa própria postura e paciência, ou nosso modo coerente de falar e agir, onde aquilo que é dito, se transforma na respectiva ação?
Devemos também, sem cair na tentação das exceções, evitar as promessas vazias, propostas abstratas impossíveis de se cumprir. Uma promessa não cumprida, para uma criança, tem o mesmo valor de uma agressão, e representa uma grande decepção ou um ato de traição. Mais tarde, isso poderá lhe servir como argumento e modelo para o florescimento da desordem interna, falta de motivação, baixa autoestima, desengano existencial e desrespeito generalizado por todos.