Autores: Jon Talber[1]
Conteúdo Atualizado: 16 de Julho de 2024
Observação Importante: Quando usamos a Expressão "Os Pais", estamos nos referindo aos dois Gêneros, e não apenas ao Gênero Masculino.
A criança não aprende a engatinhar, ela apenas pratica aquilo que já sabe, e isso ninguém a ensinou a fazer. Chama-se a isso de instinto, semelhante a sua capacidade de chorar ao sentir fome ou desconforto físico. Do mesmo modo, ninguém a ensina a ouvir, a sentir o paladar, a ouvir ou enxergar.
Todos estes atributos são processos involuntários que mais tarde servirão de meios para que seja capaz de entender o seu mundo. Assim, a criança não aprende a sentir gosto pelos alimentos, apenas a interpretar e dar os respectivos rótulos, ou nomes, aos objetos de sua interação. A mesma regra vale para as interações como os demais sentidos.
E há também o temperamento, que são aqueles atributos, predisposições inatas que ajudarão o indivíduo a se identificar com algumas situações ou processos. Isto é, de maneira espontânea, sem que ninguém ainda a tenha sugestionado com opiniões ou pré-condicionamentos, começa a estabelecer preferências e criar hábitos e fixar rotinas ao interagir com algumas situações, pessoas ou objetos, e a rejeitar outras tantas.
Por meio da dedução lógica, ou mesmo com base em seus próprios juízos ou sugestões de terceiros, o adulto acredita que é capaz de imaginar o que uma criança muito pequena está pensando. Mas ele está enganado, pois, sendo ela muito pequena, ainda não pensa. Apesar de ser naturalmente curiosa diante de tudo, não significa que tenha vontade dirigida, lúcida, voluntária e consciente.
E eis seu ponto de vulnerabilidade, a inocência. Neste estágio etário, a criança, na maior parte do tempo, age por reação ou reflexo involuntário. Por isso, sem um crivo que a faculte discernir de modo sensato entre o inútil e o útil, errado ou certo, ilógico ou lógico, tende a se tornar um alvo fácil das influências externas, sejam elas coisas más ou boas.
A mente da criança ainda está vazia, sem repertório ou memórias suficientes, nem experiências práticas que a tornem capaz de elaborar pensamentos lógicos, fazer avaliações coerentes e escolhas sensatas. Um pensamento lógico só pode surgir quando há experiência prévia de qualquer natureza, uma vez que a lógica é resultado de um processo comparativo, analógico, com base em memórias ou lembranças acumuladas; não há outro meio.
Por instinto, a criança tende a se apegar rapidamente, espontaneamente, a qualquer objeto que lhe dê a sensação imediata de conforto ou segurança. Faz isso por que fisicamente ainda se sente desamparada, insegura. Mas ainda não sente medo, uma vez que sua psique não dispõe de memórias ou lembranças de eventos passados que reportem situações desagradáveis ou atemorizantes, ou o inverso disso.
A mãe é um dos objetos ao qual se apega, uma vez que ela participa do seu bem estar, lhe proporcionando alimento, conforto físico, segurança, aliviando seu stress, e tudo isso significa amparo e conforto somático. Apega-se aos seus primeiros brinquedos, não por uma questão estética ou visual, uma vez que estes conceitos são conclusões do intelecto de uma mente já habituada a pensar de maneira lógica, algo que ela ainda não é capaz de fazer conscientemente neste estágio etário.
Mas, para seus sentidos, tocar em objetos é algo que a conforta. E quanto maior a quantidade de sentidos que seja capaz trabalhar ou exercitar ao mesmo tempo com aquele acessório ou brinquedo, mais apegada e atraída por ele se sentirá.
Ocorre que, involuntariamente, sem que ela pense, seu cérebro primitivo, onde estão gravadas as instruções básicas de sobrevivência, ordenará que seus sentidos sejam testados a todo instante. Daí sua enorme necessidade de interagir, pegar, tocar e sentir tudo que esteja ao alcance de suas mãos, sem preconceitos, sem critério algum, sem cuidados, sem receio.
Usar os sentidos à exaustão é o preparo básico e natural que sua psique precisa neste primeiro estágio de vida. É lá onde serão gravadas informações essenciais, tais como, aquilo que é coisa desagradável e agradável. Neste processo inicial, também suas predisposições temperamentais serão reforçadas, e nesse aspecto, a influência da mesologia é um fator determinante.
Este é o ponto de onde todo escopo de sua personalidade será traçado, modelado, reforçado e consolidado. Daí nascerá o Modus Faciendi, ou seja, a maneira de agir ou comportar-se daquele indivíduo. A partir deste degrau a criança começa a formar seu modo peculiar de interpretar como aparentemente “este mundo” funciona.
Ao apegar-se a um objeto, brinquedo ou qualquer outra coisa, ela começa a desenvolver sua memória lógica, e logo sentirá necessidade de repetir aquela experiência sensorial. A repetição é necessária porque o cérebro precisa disso para ser capaz de gravar uma informação de maneira definitiva. Eis o motivo pelo qual irá preferir algumas interações e rejeitar outras. E as preferidos serão aquelas que ofereçam mais recursos para exercitar simultaneamente seus vários sentidos.
Sentir-se-á amparada ao depender daquele objeto, pois sua mente já começa a procurar pequenas vínculos ou muletas sobre as quais pretende se apoiar. O fato de criar o hábito de usar aquele objeto muitas vezes, na sua mente, faz iniciar o processo de identificação pessoal com seu mundo, e este gesto rotineiro, além de lhe proporcionar a sensação de bem estar, lhe traz segurança e autoconfiança.
E através destes vínculos sua personalidade começa a se formar, assim como suas preferências, e tudo isso a depender da sensação de conforto, acolhimento ou prazer que aquele objeto, ou mesmo uma pessoa, é capaz de lhe proporcionar.
Deste ponto em diante ela começa a comparar a sensação obtida a partir daquela experiência com as demais que terá durante todo seu processo de crescimento. Pode ser um timbre de voz, uma música, um gesto tátil de carinho, um som desagradável ou agradável, uma agressão ou sensação de desconforto, e assim por diante.
Como ela nada conhece do novo mundo que tem diante de si, à medida que cresce, só é capaz de aprender por meio da imitação. Por isso tenderá a repetir dos adultos, seus costumes, manias, medos, alegrias, vícios, tristezas, e tudo mais que seus apuradíssimos sentidos sejam capazes de captar.
E mais uma vez, precisará repetir à exaustão cada uma destas coisas até fixá-las como memórias definitivas em seu cérebro. Cria-se assim um novo indivíduo; cresce um novo veículo humano, mas com a mesma antiga mentalidade, manias e vícios, que os adultos, seus instrutores involuntários ou voluntários, já possuem.
Nós como adultos e educadores, conscientes deste fato, temos a real possibilidade e oportunidade de criar neste novo indivíduo uma nova mente, de modo a não repetir nossos velhos e bizarros vícios, alienações, medos, amarguras e erros. Também podemos simplesmente ignorar o fato, a maioria já faz isso, e apenas repetir a mesma e antiga mentalidade patológica que já conhecemos tão bem; uma herança já recebida de nossos pais e avós.
Este patológico processo de repetição que insistimos em perpetuar ao longo da linha do tempo, seja por acomodação, preguiça ou simples tradição, implica em resgatar o mesmo padrão de violência e insensatez que carregamos ao longo de todo este tempo. Enfim, trata-se de uma decisão pessoal: ou repetimos todos os protocolos e postulados doentios que regem nosso atual modelo de mundo, ou nos rebelamos e criamos um padrão comportamental absolutamente novo para nossos filhos, com base no bom senso, caso ainda tenha nos restado algum.