Autor: Alberto Filho[1]
Revisto e Atualizado: 17 de maio de 2024
O termo: “Pode causar dependência”, uma expressão adotada pelas entidades reguladoras oficiais para alertar sobre os malefícios de drogas e outros, na verdade não passa de um eufemismo, uma vez que na cabeça do jovem a mensagem reverbera como uma ressalva cuja natureza é incerta, pouco duvidosa, ou mesmo improvável de ocorrer. Se houvesse seriedade nas campanhas, a expressão correta deveria ser: “Isso Vai causar dependência em você e destruir sua vida.” Enfatizar esta verdade seria a postura ética, a atitude correta, a única talvez proveitosa para os mais jovens.
O outro aspecto da informação incompleta que se vê nas campanhas é quando se diz que “droga” é uma coisa ruim, embora este lado ruim nunca seja detalhado, diluído, clarificado. Enfim, nunca se informa quais seriam as supostas consequências ou desdobramentos negativos a partir do consumo da “coisa ruim” em questão.
E, a julgar pelas evidências nada discretas do fracasso de tais campanhas, dizer simplesmente que é ruim, não parece repercutir da maneira esperada na cabeça dos mais jovens. Talvez, por isso mesmo, as legiões de dependentes só aumentam. Outra questão vital é: Por que um dependente iria apreciar uma coisa que lhes proporcionasse um “mal-estar” permanente? E eis o perigo das drogas, uma vez que, aparentemente, nas primeiras incursões, não é bem isso o que ocorre.
Os Problemas começam depois, jamais imediatamente. Se a dependência pode surgir já a partir do primeiro contato, os males da escravidão ao vício, das terríveis consequências somáticas, e dos distúrbios mentais irreversíveis que irão surgir, sem contar os efeitos sociais destruidores de lares, relacionamentos, e a inevitável delinqüência, tudo isso acontece de maneira gradual, às vezes lenta, daí a falsa sensação de que não existem os desdobramentos negativos.
Deveria ainda as campanhas cuidar de esclarecer, evitando eufemismos e maquiagens, que todas as drogas foram criadas para proporcionar “prazer” e dependência a cada usuário. E tudo isso deveria ser dito sem suavizações ou maquiagens, sem meios termos ou floreios; sem essa conversa de que “é possível que aconteça com alguns.” Afinal de contas, se o processo de dependência fosse seletivo, como seria possível separar o consumidor “vulnerável” do imune?
Daí a surpresa dos jovens quando, ao experimentarem aquela coisa, se sentem aparentemente bem, mais dispostos, mais motivados, mais alegres. Por isso é fundamental que lhes digam a verdade antes que experimentem. E a verdade é: “A droga produz, a princípio, efeitos somáticos agradáveis, este é o seu papel, foi fabricada com esta intenção, por isso vicia, por isso cria verdadeiras hordas de adictos; por isso acaba com seus cérebros, sem direito à restauração. Se fosse desagradável não causaria vício algum, nem proporcionaria lucro aos seus patronos; não recrutaria tamanha massa de vassalos, autômatos, zumbis animados, que a cultuam como um símbolo sagrado.”
Os efeitos colaterais, estes deveriam ser enfatizados, sem rodeios, sem hipocrisia. Parar com esse discurso de significado difuso: “Esta droga PODE provocar isso ou aquilo...” Isso é puro jogo publicitário, uma estratégia de marketing que apenas favorece aos fabricantes e disseminadores da praga.
O termo “Pode causar”, aos ouvidos de um jovem, é o mesmo que: “Não vai causar”. Deveria ser dito: “Drogas CAUSAM demência cerebral, perda irreversível da memória, problemas de saúde devastadores, doenças incuráveis; acaba com a dignidade humana, transforma o homem num animal furioso fora do controle da razão, um zumbi sem vontade própria, e o mais importante, vai causar dependência incontrolável em qualquer sujeito, ponto final.”
Um adulto quando fuma, o faz primeiramente por satisfação, não importando se carrega em sua sacola de desculpas outros motivos. Sem satisfação não há vício. Se a dependência é um dos efeitos colaterais, a satisfação é a razão pela qual existem os vícios, com exceção dos medicamentosos, aqueles não ingeridos de maneira voluntária, muito menos por prazer.
Há também os aspectos estéticos, a aparência, aquele “benefício” extra que espera encontrar o usuário e defensor de um vício, quando o acolhe com determinação. E para uma cultura deformada, aquele gesto, o de fumar ou se drogar publicamente, representa muito. Significa status, o poder da liberdade, a satisfação de ser “livre”, o gesto de transgressão social, mesmo que isso represente um autocídio, a morte voluntária e lenta de si mesmo, pelas próprias mãos.
Para um viciado em qualquer coisa, inteligência significa depender de uma muleta, ser escravo de uma coisa que vem de fora para tentar preencher aquilo que lhe falta por dentro. Seu modo de pensar é sempre deformado, doente. Por isso procura demonstrar que é livre por meio de palavras, uma vez que por meio de gestos, isso não mais é possível.
Para uma criança ou jovem, o que conta mesmo é o gesto, as aparências, o circo midiático, uma vez que ainda desconhece por completo as consequências. Ainda não sabe o que é dependência, mas, imaturamente, procura copiar as manias e hábitos daqueles a quem admira; as entidades humanas com as quais convive. Ela pensa: “Se meu pai ou meu amigo aprova é porque é coisa boa, permitida. Se é bom pra eles, decerto, também o será para mim...”
Para o pai ou parente que seja dependente de algum tipo de droga ou mania, sempre faltarão argumentos convincentes para demover da agenda de desejos daquela criança ou jovem, seja filho, amigo ou agregado, que o objeto do seu vício pessoal é algo negativo.
Um viciado praticante não tem postura, nem gabarito para servir de exemplo, quando o assunto for afastar uma criança ou jovem das malhas pegajosas duma dependência, seja ela qual for. O que poderá dizer ele: “Não faça isso que eu estou fazendo, por satisfação e prazer, porque é ruim e faz mal?” Será que tal argumentação terá algum efeito ativo, profícuo, educativo, e suas palavras serão levadas a sério por aquele jovem?
O exemplo ainda fala com mais objetividade do que qualquer falácia ou discurso moralista. Exemplo é tudo, e as palavras, sem a respectiva exemplificação que sirva de reforço, não significam absolutamente nada. Se um dependente de drogas pratica seu vício diante de um filho, este é o exemplo que o mesmo terá como modelo para suas futuras deliberações. E, na primeira oportunidade, caso seja fraco de caráter a exemplo do pai, esta criança, agora no papel de jovem, não pensará duas vezes.
Por isso educação é tudo, e o exemplo começa dentro de casa. Não espere pelo exemplo da rua, nem confie nas instituições ou campanhas midiáticas que supostamente combatem a prática, afinal de contas, o problema é seu, e de mais ninguém. Com o bom exemplo e correto esclarecimento dentro de casa, nenhuma força negativa ou influência doentia do mundo lá fora será capaz de mudar esta escrita.
[1]
Alberto Filho, É orientador e Consultor em educação infantil e adulta, inclusive da terceira idade, com especialização em Educação Integral e Holística. É também Tradutor, Escritor de Contos Infantis e Adultos.
Email: albfilho@gmail.com
O autor não possui Website ou Blog pessoal.
Confira outras publicações do autor em:
Mundo Simples
Nota de Copyright ©
É Proibida a reprodução total ou parcial deste conteúdo para fins Pessoais ou Comerciais sem a autorização expressa do Autor ou Site.