"Logo chegará um tempo onde os indivídios dotados de bom senso, equilíbrio e ética serão tratados pela sociedade patológica como excluídos ou anomalias sociais..."
Se no passado os faraós acreditavam na possibilidade de encaixotar seus tesouros acumulados ao longo da vida e levar consigo para usufruir ao longo da morte, apesar dos indícios de que nenhum deles obteve êxito, ainda hoje, entre os fidalgos ou mais abastados, essa mentalidade parece persistir, embora ligeiramente adaptada aos novos tempos.
Agora, ao invés de tentar o transporte extrafísico das riquezas materiais, proeza que ninguém até hoje conseguiu, tiveram a ideia de criar organizações filantrópicas – altruístas só no contrato social – com seus próprios nomes estampados nas fachadas, um salvo conduto ou carta de crédito capaz de ser resgatada após a vida.
Mas a prosperidade terrena não se limita a ter os cofres cheios de dinheiro ou uma posição social diferenciada; algo mais ainda é necessário.
Por isso a ostentação de posses é tão importante. Ocorre que na impossibilidade de demonstrar publicamente o status do pedigree ou escala do poder por meio da simples força presencial, o sujeito precisa de alguma ajuda. E para suprir essa lacuna e melhorar a força de sua imagem pública, alguns protocolos e símbolos foram criados. Afinal de contas, um título de nobreza precisa ser revertido em benefícios diferenciados; vantagens que coloquem o seu portador no degrau de cima da escala social.
E todo adestramento humano se concentrou em torno disso. De um lado o homem mercadoria tentando conseguir uma posição de destaque na vitrine, e do outro, todo um sistema de distrações para entreter os espectadores, que enquanto idolatram seus ícones, aguardam sua vez de pular para dentro das vitrines do reino das mil e uma noites.
E para esse público espectador, considerado a mercadoria de segunda linha, criou-se toda uma estrutura social onde a possibilidade de ascender socialmente foi estabelecida como prioridade existencial. Agora o homem não vive senão para ascender socialmente, mesmo sem saber o motivo, mesmo que não exista esse motivo.
De olho na manutenção desse Status Quo, a nova mentalidade social resolveu investir na doutrinação dos jovens cada vez mais cedo. Por isso o ataque maciço à revogação dos bons costumes, postura ética e do conhecimento útil. Ao mesmo tempo, o culto e a prática e idolatria às coisas inúteis, vícios e comportamentos bizarros ganharam uma extraordinária visibilidade e rápida aceitação popular. Trata-se do mesmo princípio já usado para convencer o indivíduo de que os alimentos transgênicos são saudáveis, e depois fazê-lo acreditar que o eventual efeito colateral a partir de sua ingestão regular é apenas produto da sua imaginação, ou simples birra de movimentos alienados.
Os melhores profissionais especializados na desconstrução da educação consciencial, foram convocados com o nobre propósito de elaborar a nova pedagogia que seria aplicada em todas as sociedades modernas. E assim surgiram as escolas que não ensinam, e os educadores – embora não sejam todos – que deseducam e os métodos educacionais que alienam.
Aproveitando o vácuo intelectual deixado em aberto, os meios de comunicação resolveram aderir ao sistema de imbecilização coletiva criando seu próprio e singular modelo cognitivo midiático. Foram bem assessorados, afinal de contas, receberam ajuda de um segmento já acostumado a remodelar cérebros, a competente escola publicitária.
E desde então o conteúdo de cada cérebro foi aos poucos removido e depois substituído por uma versão mais receptiva; mais submissa aos novos costumes, ideias, ideologias e doutrinas. E uma das cláusulas mais valorizadas nessa renovada ordem cerebral foi a adoção de novos comportamentos absurdos e cada vez mais patológicos.
No atual modelo de mente patológica coletiva, o maior problema é o tempo. Ocorre que ele, o tempo, se tornou um gargalo, especialmente quando há um cérebro ocioso por trás de cada indivíduo hospedeiro. Privado da capacidade de pensar por conta própria ou de planejar a própria vida, esse indivíduo se tornou dependente das atrações ou passatempos; das atividades criadas para mantê-lo conformado e subjugado ao mundo dos sonhos ou ilusões enquanto a vida passa.
E sua vida inteira se tornou uma jornada a lugar nenhum. Assim, mantê-lo asfixiado em meio a uma espessa nuvem de coisas inúteis e atordoado com um gigantesco volume de informações inúteis para que não tenha tempo para refletir, é crucial para o sucesso dessa nova pedagogia. No entanto, nos bastidores, há um efeito colateral importante, cujo principal sintoma é a rápida saturação. E logo o indivíduo se enfastia de não fazer nada, o que pode proporcionar o surgimento do temível tempo ocioso.
Esse efeito, apesar de se tornar um problema para o indivíduo, é bem recebido pelo mundo corporativo, especialmente o ramo do entretenimento, uma vez que se mostra como um promissor, renovável e cada vez mais sólido ativo econômico.
Assim, a máquina social corre contra o tempo. Criar novas e inúteis atrações para manter essa legião de não pensantes ocupada é fundamental. Tomados pelo tédio poderiam despertar para uma realidade capaz de conduzi-los à lucidez. Desse modo, a oferta de renovadas distrações, novos desejos e objetivos inalcançáveis, nesse momento, ainda é a mais eficaz solução, e uma prioridade acima de todas as outras.
Com o advento das superproduções, as bobagens patrocinadas ganharam cada vez mais visibilidade e requinte, e assim, por absoluta falta de tempo e de vontade, a possibilidade desse público cativo resgatar sua antiga e voluntária capacidade de pensar fica cada vez mais distante. Uma condição perfeita para que o Mecanismo Social encarregado de reprogramar cérebros possa ganhar tempo; o suficiente para esperar pela próxima geração de reprogramadores, seus sucessores, que certamente pensarão em algo novo e criativo para perpetuar o processo.
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Alberto J. Grimm -
É Antropólogo, Publicitário e Escritor especializado em educação Holística e Consciencial. É também autor dos Contos Reflexivos. Os contos são fábulas modernas, das quais sempre podemos extrair formidáveis lições de vida, que muito favorecem à reflexão.
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Alberto Silva Filho - É pesquisador das Ciências Cognitivas e orientador em educação infantil e adulta, inclusive da terceira idade, com especialização em Educação Integral. É também escritor de contos infantis e adultos e um dos colaboradores fixos do Site.
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