Autor: Alberto J. Grimm[1]
Revisado e Ampliado: 18 de Dezembro de 2023
Como a mídia e os influenciadores digitais criam e consolidam novos comportamentos patológicos e modismos insólitos, que logo se transformarão em produtos de consumo e dependências no meio social.
"Logo chegará um tempo onde os indivíduos dotados de bom senso, equilíbrio e ética, serão tratados pela sociedade patológica como excluídos, segregados ou anomalias sociais..."
"Há em nossos dias uma deliberada e permanente campanha sócio-midiática, que tenta transformar os mais extravagantes, bizarros e absurdos hábitos, gostos e preferências, em comportamentos desejados e absolutamente naturais..."
Se no passado os faraós acreditavam na possibilidade de encaixotar seus tesouros acumulados ao longo da vida e levar consigo para usufruir ao longo da morte, apesar dos indícios de que nenhum deles obteve êxito, ainda hoje, entre os fidalgos ou mais abastados, essa mentalidade parece persistir, embora ligeiramente adaptada aos novos tempos.
Agora, ao invés de tentar o transporte extrafísico das riquezas materiais, proeza que ninguém até hoje conseguiu, os novos adeptos da antiga tradição egípcia tiveram a ideia de criar organizações filantrópicas, altruístas só no contrato social, com seus próprios nomes estampados nas fachadas, uma espécie de salvo conduto ou carta de crédito capaz de ser resgatada, na pior das hipóteses, após a vida.
Afinal de contas, de que serve um título de nobreza não possível de ser revertido em benefícios exclusivos; vantagens que coloquem o seu portador ou protagonista no degrau de cima da escala social, ou ainda aos pés da idolatria pública?
E todo Adestramento Humano se concentrou em torno disso. De um lado o homem mercadoria tentando conseguir uma posição de destaque na vitrine social, e do outro, todo um sistema de distrações para entreter os espectadores, que enquanto idolatram seus ícones já consagrados, aguardam sua vez de pular para dentro do picadeiro do Reino das Mil e uma Noites.
E para este público espectador, considerado a mercadoria de segunda categoria, criou-se toda uma estrutura social onde a possibilidade de ascender socialmente foi estabelecida como prioridade existencial. Agora o homem não vive senão para ascender socialmente, mesmo sem saber o motivo, mesmo que não exista este motivo.
De olho na manutenção desse Status Quo, a nova mentalidade social resolveu investir na doutrinação dos jovens cada vez mais cedo. Por isso, o ataque maciço à revogação do bom senso, postura ética e do conhecimento útil. Ao mesmo tempo, o culto, prática e idolatria às coisas inúteis, Vícios e Comportamentos Bizarros, ganharam uma extraordinária visibilidade, importância e rápida aceitação popular.
Trata-se do mesmo princípio já usado para convencer o indivíduo de que os alimentos transgênicos são saudáveis, e depois fazê-lo acreditar que o eventual efeito colateral a partir de sua ingestão regular é apenas produto da sua imaginação, ou simples birra de movimentos ativistas anacrônicos.
Os melhores profissionais especializados na Desconstrução da Educação Consciencial, aquele modelo de pedagogia que poderia tornar o homem inteligente outra vez, foram às pressas convocados com a nobre missão de elaborar a nova pedagogia que seria aplicada em todas as sociedades modernas, em todos os guetos sociais, étnicos, ideológicos, sectários ou movimentos dos sem causa.
E assim surgiram as escolas que não ensinam, os educadores, embora não sejam todos, que deseducam, assim como os métodos educacionais que, além de deformar a cognição, atuam como importantes aliados no processo de alienação dos alunos.
Aproveitando o vácuo intelectual deixado em aberto, os meios de comunicação resolveram investir no sistema de imbecilização coletiva criando seu próprio e singular modelo cognitivo midiático. Foram bem assessorados, afinal de contas, receberam ajuda de um segmento já altamente qualificado no processo de remodelagem de cérebros, a competente escola publicitária, os novos movimentos ideológicos extremistas, e alguns segmentos do novo protagonismo sectário com fins lucrativos.
E para manter o espectador entretido e alheio à realidade, nada como a criação e disseminação dos objetivos impossíveis de serem alcançados; uma garantia contra insurgências, o que colocaria em risco um estado de coisas onde o caos social é cultuado como uma divindade. Na verdade, o Caos Social sempre representou, e ainda representa, o mais importante e valioso ativo político, religioso e econômico deste mundo, em todos os tempos, em todas as nações.
E desde então o conteúdo de cada cérebro foi aos poucos removido e depois substituído por uma versão mais receptiva; um modelo mais submisso e acrítico aos novos costumes, ideias, ideologias, movimentos e doutrinas. E uma das cláusulas mais valorizadas nesta renovada ordem cerebral foi a adoção de novos comportamentos absurdos, assim como a disseminação de objetivos de vida cada vez mais surreais.
Um espaço nobre que foi rapidamente ocupado, tanto pelas atrações midiáticas, quanto pelos novos conglomerados doutrinários com suas práticas ortodoxas, inimigas do conhecimento e do bom senso, avessas às mudanças e contrárias ao pensamento divergente ou princípio da dúvida.
E se existe uma similaridade entre estes dois importantes movimentos, este é sem dúvida a instauração de uma mentalidade social onde cada protagonista ou simpatizante da causa, se veja impedido de pensar por conta própria, ou venha a ter autonomia para escolher seu próprio caminho.
E a vida de cada protagonista deste dramático bioma humano tornou-se uma jornada rumo a lugar nenhum. Assim, mantê-los asfixiados em meio a uma espessa nuvem de projetos inúteis e atordoados por um gigantesco volume de informações desnecessárias para que nunca lhes sobre tempo para refletir, torna-se crucial para o sucesso desta nova e bem estruturada pedagogia.
No entanto, nos bastidores, há um efeito colateral importante, cujo principal sintoma é a Rápida Saturação. E logo o indivíduo se enfastia de não fazer nada ou de caminhar para lugar nenhum, o que pode proporcionar o surgimento do temível tempo ocioso, cujo efeito colateral é uma crescente onda de apatia, tédio profundo ou a temida melancolia, ou ainda um estado de desmotivação crônico.
Este efeito, apesar de se tornar um problema para o indivíduo, é bem recebido pelo mundo corporativo, especialmente o ramo do entretenimento, assim como dos conglomerados religiosos, uma vez que se mostra como um promissor, renovável e cada vez mais sólido ativo econômico e agregador de novos contingentes às suas causas.
Assim, a máquina social corre contra o tempo. Criar novas e inúteis atrações para manter esta legião de não pensantes ocupada é fundamental. Tomados pelo tédio regular poderiam despertar para uma realidade capaz de conduzi-los à lucidez. Desse modo, a oferta de renovadas distrações, alienações, novos desejos e objetivos desnecessários e inalcançáveis, neste momento, ainda é a mais eficaz solução, e uma prioridade acima de todas as outras.
E com o advento das superproduções, as bobagens patrocinadas ganham cada vez mais visibilidade e requinte, e assim, por absoluta falta de tempo e de vontade, a possibilidade deste público cativo resgatar sua antiga capacidade de pensar voluntariamente se torna cada vez mais distante.
Uma condição perfeita para que o Mecanismo Social encarregado de Reprogramar Cérebros possa ganhar tempo; o suficiente para esperar pela próxima geração de reprogramadores, seus sucessores, que certamente pensarão em novas e criativas soluções; artifícios capazes de perpetuar o processo coletivo de estagnação e imbecilização de cada personagem agrilhoado às suas consistentes, fascinantes e sedutoras malhas.