Autor: Jon Talber[1]
Revisado e Ampliado: 18 de Dezembro de 2023
A breve e trágica história de como, com o passar do tempo, num ritmo sempre regular e cada vez mais frenético, a Cognição do Homem tem se deteriorado, e o que é pior, sem dar indícios de que um dia será capaz de reagir e restaurar-se...
"Aparentemente, quanto mais o tempo cronológico avança em nossas vidas, mais nosso progresso consciencial recua segundo este mesmo critério..."
"Inteligência não é um atributo que se conquista ao final da jornada, e sim no início, quando nos damos conta de que ainda não somos inteligentes..."
De fato, a lenda do religioso chamado Nicolau, que era bispo, se refere a um sujeito que não ressuscitava a cada dezembro vestindo roupas vermelhas, com barrete de banda circular branca à cabeça, e segurando criancinhas no colo para tirar “selfies” em troca de um cachê.
E depois, estes mesmos adultos que se prestam a alimentar um mito dos mais extravagantes e estúpidos, do alto de sua duvidosa e anacrônica sabedoria, olham para baixo torcendo o nariz quando o assunto são os “imaginários” amiguinhos ocultos com os quais apenas seus filhos pequenos, abandonados dentro do próprio lar pelos pais, são capazes de interagir.
Levando em conta os fatos, talvez os fantasmas invisíveis que fazem companhia aos pequenos diante da ausência contumaz dos pais, sejam mais reais do que aquele garoto propaganda inicialmente criado para atuar nos anos 1920 como baluarte de uma indústria de refrigerantes. Um surreal personagem fictício, que vestido de vermelho e branco, por força de uma jogada comercial magistralmente transformada em tradição cultural, durante o mês de dezembro, em cada centro de compras do mundo ocidental, nunca deixa de bater seu cartão de ponto.
E parece que, quanto mais o tempo cronológico avança em nossas vidas, mais nosso progresso consciencial recua segundo este mesmo critério. É como no processo de crescimento da cauda de um cavalo, que quanto mais aumenta de tamanho, mais reduz sua fração de distância em relação ao chão.
Deixando de lado os Contos de Fada e os mitos criados desde o tempo em que morávamos em cavernas naturais, na verdade, ainda não conhecemos o curso ou motivos da gênese humana. Mas podemos constatar que foi uma coisa real, afinal de contas, como protagonistas da espécie, sabe-se lá desde quando, de fato ainda estamos aqui.
Também sabemos de outra coisa: desde que aprendemos a nos expressar verbalmente, seja através de símbolos, sinais, palavras ou palavrões, que o medo é nosso companheiro inseparável. Mas não por afinidade ou empatia; muito menos porque se trata de um atributo capaz de agregar valores significativos dentro da grade psicológica e processo evolutivo humano.
Vale ressaltar, que neste caso, nos referimos ao medo essencialmente psicológico, aquela variedade criada por nossa mente, à revelia de ameaças concretas presentes, e não ao medo instintivo, este sim necessário à nossa sobrevivência.
Desse modo, se este medo psicológico não é um amigo ou uma vantagem capaz de agregar algum valor à nossa qualidade de vida, quais seriam então os motivos de hospedarmos durante tanto tempo tão indesejado hóspede, ou inquilino, em nosso condomínio mental?
A questão toda é que, desde nossos primeiros passos dentro de casa em busca de armadilhas para nos informar que o perigo além de existir também era capaz de machucar, nunca nos iniciaram em um processo existencial básico, necessário e de inestimável valor quando se conhece. Trata-se da capacitação voluntária para pensar de modo reflexivo, lúcido, um atributo que representa o primeiro degrau rumo à evolução cognitiva, progressão consciencial ou Despertar da inteligência.
Se a dúvida representa a gênese do conhecimento, o questionamento genuíno, inocente, carregado de expectativa, é um processo que não pode faltar dentro desta equação. É a correta pedagogia quando se busca esclarecimento com a intenção de se aprender alguma coisa. Se não existe o advento da dúvida, que representa a engrenagem que ativa o mecanismo do pensar lúcido, nunca descobriremos o verdadeiro significado do conceito de Inteligência.
Ter potencial para pensar de modo lógico e lúcido não significa que já sabemos como fazê-lo. Alguém precisa, em primeiro lugar, nos informar de que isso é possível. Desse modo, caso seja do nosso interesse, uma posterior e cuidadosa investigação seria o caminho natural para se aprender como se faz isso. Experiência ainda não é um atributo capaz de ser transferido de um indivíduo para outro, seja por meio de palavras, crenças, drogas alucinógenas ou entorpecentes, terapias alternativas, passes ou rituais místicos.
Toda cognição adquirida a partir do processo da repetição é simples mímica. Neste caso, você apenas toma emprestado pensamentos alheios, simplesmente porque não tem interesse ou competência para criar um repertório próprio.
É como um cego de nascença que precisa de um cão guia para conduzi-lo, e isso ocorre porque nasceu inapto para descobrir por onde caminha. E como não nos ensinam desde cedo os fundamentos da arte do pensar por conta própria, também, desde tarde, como cegos, preferimos continuar na ignorância e na dependência da condução de guias igualmente cegos, e o pior de tudo, firmemente convictos de que somos absolutamente livres e temos autonomia e competência para tomar decisões e escolher nossos caminhos.
Uma mente sem uso torna-se calcificada, perde a elasticidade e abre mão do seu potencial criativo. Renuncia de sua capacidade natural para refletir e até, eventualmente, tornar-se Inteligente. Mas o pior de tudo é o culto exagerado aos absurdos que a maioria adota como catequese, ou ostenta com presunçoso orgulho, como se fosse um indício de superioridade ou progresso consciencial.
E se o homem é apenas mais uma vítima de um longo processo de atrofia mental ou Lavagem Cerebral patrocinado pelo próprio meio social que lhe presenteia com um lastro cognitivo desnecessário e sem finalidade, torna-se culpado por omissão, passividade ou acomodação. É cúmplice de sua própria insensatez, uma vez que prefere esperar sentado por um milagre que, segundo o mito, virá de fora para corrigir os obscuros defeitos que se escondem nas lacunas secretas do seu intransigente Ego.
Em suas crenças pessoais, há a firme expectativa do advento mágico, do toque celestial capaz de reverter a conduta da humanidade de acordo com suas deliberações ou demandas, e tudo isso num estalar de dedos. Mas, esta transformação nunca ocorreria de maneira gratuita, motivo pelo qual, este mesmo homem passivo estará disposto a fazer um sacrifício pessoal, penitência ou barganha sacra, uma conveniente, embora infantil, forma de pagar pelo favor ou privilégio divino a ser recebido.
E de acordo com seu Ponto de Vista recheado com a retórica do autofavorecimento, já que o dinheiro é capaz de comprar tudo que conhece, a penitência ocorrerá na forma de uma generosa doação ou resignado trabalho voluntário. Mas também poderá ter a forma de um sacrifício ainda maior, talvez o mais dramático e difícil de todos, que é poupar as carnes dos inocentes animais irracionais do seu voraz e caprichoso apetite, uma vez a cada ano, ou às vésperas de algum relevante evento religioso, eleito por ele mesmo como sagrado.