Autor: Alberto J. Grimm[1]
Revisado e Ampliado: 18 de Dezembro de 2023
"O pior dos males não é o maior, e sim aquele que é consentido..."
Era a época do pós-guerra, e a nação americana motivada pelo seu êxito na grande campanha bélica que devastou a Europa e algumas recantos do oriente, agora tentava se afirmar como maior potência mundial. E para consolidar sua presença na terra como uma nação de muitos, um império tão gigante quanto sua população, o próprio governo incentivava seus jovens casais a procriar como nunca. E nunca antes os casais daquela nação tiveram tantos filhos. Afinal de contas, naquele momento, o ato da procriação era então considerado um relevante e inegável gesto patriótico.
Neste período, a indústria da publicidade desenvolveu suas mais inovadoras e criativas técnicas para a promoção de bens duráveis, novos hábitos e padrões comportamentais. Valia de tudo para incitar o Consumo, a princípio, apenas dentro de suas fronteiras regionais.
E a despeito de existir o resto do mundo, suas ações se voltavam para o consumo interno, uma vez que a nação concentrava todos os seus esforços em busca de autoafirmação; da homologação do seu nome como uma espécie de anjo da guarda e baluarte encarregado de erradicar as injustiças do mundo, assim como propagar seus costumes, hábitos, vícios e modo de vida como modelo de referência para todas as outras nações.
Para eles o motivo era justo, afinal de contas, acabara de se consagrar como uma das coordenadoras, e de acordo com seu ponto de vista, a responsável direta pela subjugação do “Inimigo da Humanidade” na Segunda Grande Guerra. Assim, consolidar seu posto de Grande Potência Mundial como uma espécie de agência reguladora de costumes sociais, religiosos e políticos para o resto do mundo, além de uma prioridade estratégica, era a Meta Existencial e dever patriótico de toda nação.
E para demonstrar que seus métodos estavam certos, nada como exibir para as demais nações sua vitrine de virtudes e métodos que funcionavam. A lógica por trás da abordagem era simples: “Se funciona e parece bom para nós que somos os melhores e maiores, também o será para todo resto...”
“Comprem; comprem sem parar e ajudem a nação a prosperar!”, era o apelo por trás de cada vinheta publicitária veiculada naquela ocasião em rádios, TVs, assim como em toda mídia impressa. Depois vieram as campanhas incentivando cada cidadão a possuir duas unidades de cada bem durável adquirido, o que incluía até mesmo automóveis e casas.[2]
No embalo de construir e consolidar uma mentalidade inteiramente voltada para o consumo dos bens produzidos pela indústria local, e ao mesmo tempo de olho no futuro, incentivava-se agora o aumento da natalidade. “De que serve uma grande nação sem uma grande população?”, perguntavam em inflamados e comoventes discursos inspirados na retórica dos políticos e líderes religiosos, aos jovens casais.
O governo incentivava o aumento da natalidade, inclusive usando argumentos religiosos, uma vez que aquela grande nação deveria ser a responsável pela propagação, mundo afora, de seus atributos sociais, inclusive de sua prodigiosa e exemplar pedagogia religiosa.
“Tenham filhos; tenham filhos aos montes, e ajude nossa nação a se tornar ainda maior...” E foi o que aconteceu.
Enquanto isso, nos bastidores do mundo das vendas, todos comemoravam eufóricos. Não era para menos, os consumidores do futuro estavam sendo produzidos em larga escala, a exemplo de brinquedos eletrônicos ávidos por consumir baterias descartáveis. E um mundo de possibilidades ainda não exploradas pela máquina de vendas tomava forma. Era algo semelhante a uma fabulosa arca do tesouro, ou cornucópia mágica, que deveria pertencer a quem fosse capaz de chegar à frente.
Pensavam os vendedores: “Atualmente, nossas vendas direcionadas apenas aos adultos, atingem um preocupante limite de saturação, perigoso, pois quase não mais conseguimos convencê-los a comprar nossos produtos no mesmo ritmo. No entanto, agora que podemos usar as crianças como pretexto, um novo e quase infinito mercado de possibilidades se abre diante de nós, prontinho para ser explorado. E com uma extraordinária vantagem, uma vez que este público nós podemos construir, modelar e condicionar de acordo com nossos interesses, mesmo antes de colocarem um pé fora do berço...”
Nascia assim um exclusivo mercado inteiramente dedicado ao consumo infantil. Agora, a máquina publicitária concentraria seus principais esforços em criar naquelas crianças, tão logo colocassem os pés fora do berço, uma estética mental direcionada, controlada e planejada de acordo com suas projeções mercadológicas. Consolidavam-se de vez as técnicas de alto impacto para o condicionamento em massa.
E a já conhecida ciência da Programação Neurolinguística, um processo capaz de reprogramar mentalmente qualquer indivíduo por meio de mensagens subliminares e palavras de grande impacto psicológico habilmente selecionadas, ganhou força e foi aperfeiçoada.
Para os vendedores desta nova fase áurea, o emergente mercado infantil era fabuloso, uma vez que poderia ser imediatamente usado. Já possuíam as técnicas, e todo trabalho agora era apenas convencer os pais, enquanto as crianças ainda estavam confinadas em seus berços, a consumir mais produtos em nome dos seus filhos. E mais tarde, gradualmente, este novo comprador, no caso a criança, poderia ser “talhado” ou “Reconfigurado” de acordo com as demandas ou interesses de cada mercado.
Orientações dentro das grandes corporações e agências publicitárias já alertavam os redatores de que o jovem, após passar de uma faixa de consumo para outra, ou migrar para um novo grupo etário, precisava ser reprogramado para a aquisição de novos hábitos, e o mais importante, caso a mensagem introduzida em seu cérebro novinho e inocente fosse bem trabalhada, poderia servir como voz de comando ou chave hipnótica para toda vida.
“A criança de hoje é bem esclarecida, emancipada; praticamente já pensa como um adulto, e o mais importante, já sabe exatamente o que quer. Sabe o que deseja para se realizar, ser feliz e livre!”, exaltavam em retóricos discursos carregados de exagerado e intencional eufemismo, enquanto nos bastidores comemoravam eufóricos diante de tantas possibilidades.
E depois nas campanhas de marketing direcionadas especialmente ao público infanto-juvenil, estimulariam e incentivariam essa “Independência”. O objetivo era sugerir mesmo que os “novos emancipados”, agora transformados em crianças prodígio, sábias e gestoras do próprio destino, poderiam exercer à vontade o seu direito ao “Livre Arbítrio”, ressaltando apenas, que esta nova mentalidade deveria estar inteiramente voltada ao consumo.
Nascia assim um sólido e cada vez mais eficiente estilo capaz de criar novos consumidores com comportamentos pré-fabricados. E ainda havia um grande e positivo efeito: Bem “trabalhados”, estes consumidores se tornariam competentes multiplicadores voluntários deste “novo conceito” de emancipação, tanto entre seus descendentes, quanto entre amigos e parentes próximos.
Rádio, televisão, livros, programas infantis, peças teatrais, cultos religiosos, revistas em quadrinhos, contos infantis, tudo foi recriado, refeito ou adaptado para “Conscientizar” esses jovens da sua nova posição ou missão existencial diante deste novo mundo.
Uma postura inteiramente voltada para o consumo, convenientemente disfarçada de patriotismo. O efeito da mensagem que incutiram na mente de cada jovem, era algo como se aquilo, de repente, por uma determinação divina, se tornasse uma chave mestra capaz de abrir a porta da verdadeira felicidade, ou mesmo de um paraíso capaz de acolher a todos. E logo o conceito ou tendência se espalharia como uma praga viral mundo afora.