Autor: Jon Talber[1]
Conteúdo Atualizado: 16 de Julho de 2024
Observação Importante: Quando usamos a Expressão "Os Pais", estamos nos referindo aos dois Gêneros, e não apenas ao Gênero Masculino.
Nunca existiu, e aparentemente ainda não existe, uma civilização ou modelo civilizatório, onde o desejo por mudanças não fosse parte integrante de suas demandas ou prioridades. E por meio de decretos, ideologias ou rédeas sectárias, sempre se buscou um modelo social capaz de superar o anterior, mas sem deixar de lado antigos vícios, tradições ou costumes. E sempre se tentou mudar o comportamento humano a partir de novas regras ou postulados sociais, sem, contudo, abandonar as antigas posturas nosográficas.
O que dá forma à mentalidade ou postura comportamental de um grupo de indivíduos são os códigos e padrões disciplinadores de cada tradição, um compêndio onde estão incluídas a influência de pais, avós, dogmas, doutrinas sectárias, bulário social, assim como as escolas que frequentamos.
Frequentamos na tentativa de aprender alguma coisa que a sociedade preconizou como adequado para nós. E por trás de tudo isso há o desejo de aquisição de um novo conhecimento capaz de restaurar nossa ordem interna, mesmo que nossa casa esteja na mais completa desordem e nossa mentalidade mostre uma firme e intransigente disposição para resistir às mudanças.
Segundo o bulário ou modelo prescrito pela tradição, de posse deste “novo” conhecimento estaríamos, não apenas aptos a conquistar qualquer objetivo material e encontrar soluções para os conflitos sociais e existenciais já consolidados, assim como alcançar o êxito pessoal e o reconhecimento público.
Além disso, tendo uma boa formação acadêmica e uma respeitável profissão assegurada, isso também nos possibilita a aquisição de um Pedigree Social destacado; uma qualificação necessária para o convívio em sintonia com as regras do bioma onde atualmente residimos, e suficiente para reconfigurar ou manter o mundo de acordo como nossos ideais de prosperidade.
Eis a síntese de um roteiro milenar que foi desenvolvido e aperfeiçoado por nossos ancestrais. Trata-se de uma receita que, supostamente, caso seja seguida à risca, sem desvios, contestações, indisciplina ou dúvidas, irá nos proporcionar boa qualidade de vida, contentamento, realização plena ou felicidade permanente.
E a vida se torna um imenso palco, onde a disputa, conflitos ou antagonismos entre indivíduos, com ou sem motivo, se consolida como parte da tradição. Competimos para medir nosso desempenho escolar; para decidir quem tem a melhor caligrafia, ponto de vista mais sagaz; quem melhor se expressa ou quem tem a estética perfeita, e não há nenhuma conjuntura, ocasião ou momento em nosso meio social onde a disputa por alguma coisa não esteja presente.
Parece que nossos interrelacionamentos se prestam apenas a servir como oficinas ou vitrines onde possamos praticar nosso instinto competitivo, ou ainda para a exibição de nossas potencialidades e eventuais dotes. Trata-se de uma condição onde, aparentemente, todos os demais protagonistas existem apenas como figurantes; uma platéia cuja função é suprir nossos caprichos, vaidades, insaciável carência narcisista, ou ainda para nos servir, seja lá como for.
Uma criança que nada conhece do mundo, torna-se um campo fértil para ser condicionada de acordo com os costumes já prescritos pela bula do lugar onde vive. Esta é a regra. Ela não precisa fazer esforço algum; basta existir. Existir e ser capaz de imitar. E a imitação é um status comportamental inato que, embora não se aprenda em nenhuma escola, em todas é diligentemente reforçado e aperfeiçoado.
O homem biológico é constituído primariamente por uma estrutura somática comum a todos os outros homens, e concordando ou não com o fato, fisiologicamente somos semelhantes ou similares. Temos sentidos e sentimentos comuns, as mesmas carências biológicas, e o mesmo mundo para compartilhar.
Somos constituídos da mesma matéria orgânica e partilhamos do mesmo acervo de pensamentos ou mentalidade. Vivenciamos os mesmos dilemas, a dor, o cansaço, o sofrimento e a doença. E tudo isso é coisa comum a todos os homens, de todas as pátrias, credos, classes sociais, etnias grau de instrução.
Ainda assim nos dividimos em comunidades, guetos ou grupos, e parece que não conseguimos viver sem estas fronteiras segregadoras. E se no papel de entidades biológicas somos dependentes do mesmo plano terrestre para sobreviver, a coisa também não difere muito quando se trata dos aspectos psicológicos. Temos as mesmas limitações e necessidades, e a certeza absoluta de que um dia, invariavelmente, todos nós deixaremos de existir.
Pior de tudo é quando saímos às ruas a repetir, refrões, jargões e comportamentos especialmente criados para fins puramente comerciais a partir do marketing publicitário, ou patrocinados pelos modismos e popularizados por meio dos canais midiáticos. A mesma regra se aplica aos costumes e tradições adotados por cada grupo, facção ou movimento social, religioso, ideológico, ou outros com as quais nos identificamos, cujo propósito se limita a criar barreiras delimitadoras e separatistas entre opiniões divergentes.
E a simbologia e tradições de cada comunidade também se colocarão como limites e fronteiras à segregação sem fim, criando mesmo personagens que se comportam e vivem de maneira padronizada, inflexível, intolerante para com todos os demais movimentos que também adotam postura semelhante, acentuando ainda mais os conflitos já existentes entre ideologias e crenças.
Desse modo, como integrantes ou partidários de um grupo, fato que nos proporciona a sensação de estabilidade, acolhimento e segurança, estamos sujeitos a repetir os gestos, regras, ou costumes daquele microcosmo ou tradição, e aos demais tratamos com indiferença, restrições ou simplesmente repulsa. É o antagonismo próprio dos guetos sectários, ideologias e tradições que lutam entre si em busca de autoafirmação e a predominância de seu legado cultural, costumes ou tradição doutrinária.
E o confronto entre grupos sociais, raciais e ideológicos, se torna inevitável. Segregamos porque para nós é mais cômodo. É um modo confortável de obter o apoio do grupo que nos acolheu. Permanecer no grupo ou comunidade, seguir seus preceitos e regras sem nada constestar, a isso chamamos de fidelidade, companheirismo ou estilo de vida.
Sendo Cristão, por exemplo, verei o mundo do ponto de vista de um Cristão. E assim, meus pensamentos refletirão meu ideario ou mentalidade Cristão a respeito deste mundo. E depois de condicionados dentro daquela filosofia de vida, agora somos membros efetivos, atuantes, defensores e multiplicadores de uma causa. O que nos coloca imediatamente em confronto direto com os simpatizantes de todas as demais causas, ideologias, movimentos ou crenças.
Para a maioria dos adultos, fazer uma criança compreender que ela é livre para pensar, mais parece uma completa insanidade ou um abominável ato de heresia. Logo imaginam: “O que farão elas sem nossa orientação, diante desta mentalidade patológica e de todas as distorções existentes?”
No entanto, acabamos por esquecer que esta mentalidade doente, que é a mesma que regula nosso viver, somos nós. E dentro dela estão nossos vícios, manias, tradições, crenças, rituais, assim como todo nosso imenso acervo de problemas. Somos nós e mais ninguém os agentes condicionadores destas crianças.
Diante de tudo isso, podemos afirmar que, Não é do mundo que devemos ter medo, mas de nós mesmos. A psique do mundo somos nós; e também seus costumes e deformações. Importante também é entender que, até agora, atuamos como fiéis replicadores de todas estas anomalias e bagulhos comportamentais.
Somos os multiplicadores da mentalidade doente deste mundo, e seu pensamento é também o nosso. E se nada muda é porque não desejamos mudanças. Vivemos das aparências, uma existência de fachada e Nossa vontade é fraca, ou simplesmente não existe.
Se ainda não somos capazes de perceber todas estas coisas, isso é outra história. Entretanto, o mais discreto percebimento já representaria um verdadeiro abalo na estrutura de antigos paradigmas sociais. Por outro lado, dificilmente o meio social irá se curvar diante desta nova postura, ou mesmo aceitá-la sem reação.
Mas este percebimento é pessoal, além disso, não pode ser transferido de um cérebro para outro, motivo pelo qual coloca o protagonista num caminho solitário, muitas vezes espinhoso, longe do confortável apoio do seu acolhedor grupo social.
Trata-se, portanto, de uma nova e significativa experiência de vida, que apenas indivíduos dotados de excepcional coragem, autossuficiência, determinação e inteligência, serão capazes de protagonizar.
E para cada indivíduo capaz de protagonizar tal mudança, será uma experiência que depois de devidamente digerida, pelo menos dentro do seu grupo familiar, entre seus filhos e amigos mais próximos, de modo categórico e emblemático, poderá silenciosamente reverberar, dando finalmente origem a uma nova mentalidade e, consequentemente, a um novo homem.