Autor: Prof. Jon Talber e Alberto Filho[1]
Revisado e Ampliado: 18 de Dezembro de 2023
"Um meio social doente é como uma colônia de bactérias resistentes ao bom senso, cujo efeito é a criação de patologias psicológicas cada vez mais difíceis de tratar..."
A Intolerância e a Sensatez são as chaves que regulam todas as relações humanas, e se apóiam em cima de apenas um pilar: O Egocentrismo. O Egocentrismo é o mesmo princípio que regulamentou de modo singular o modo de vida do homem primitivo, a mentalidade dos povos Bárbaros, ou o modo de pensar e agir do homem medieval.
Dentro do bioma Social da Idade Média, a Terra não apenas era o centro do Universo, como também possuía um mar plano com abismos nas bordas; além disso, o ente humano era visto como um clone perfeito do criador deste mesmo Universo.
Eis a máxima que deu origem ao excêntrico modo de pensar daqueles tempos remotos. E exceto pelo processo da higiene pessoal que de lá para cá progrediu um pouco, nos demais aspectos, psicologicamente falando, aparentemente não houve mudanças significativas.
E há um aspecto comum entre todos nós, tanto para aqueles da classe dos racionais, quanto dos irracionais. E este é o fato incontestável de vivermos, como inquilinos temporários, em um mesmo condomínio. E não há uma condição, ou direito formamlmente instituído por leis naturais, onde fica estabelecido que uma espécie ou grupo fosse denominado como locador e o outro como locatário.
Voltando um pouco aos princípios da mentalidade medieval que dava cor e forma à organização social do mundo ocidental pré-colombiano, a crença corrente era que os animais não possuíam existência independente, mas antes disso, foram concebidos pelos deuses apenas para nos servir, ora como força de trabalho, ora como matéria prima para fabricação de roupas e utensílios; ora na forma de exóticas iguarias culinárias.
Nesse mesmo tempo, a espécie humana já autodenominada como dominante, numa extrapolação do seu próprio egocentrismo, estabeleceu que esta entidade divina, o planificador, arquiteto, construtor e gestor do Universo, só poderia ostentar todos estes atributos e qualidades por ser análogo em aparência e potencialidades à sua cria terrena dotada de forma humana.
E de posse dessa portentosa carta de apresentação, o clone divino poderia então justificar sua condição de domínio irrestrito e incondicional diante dos irracionais; sobre aqueles prótotipos de vida cuja função exclusiva era servir a este homem, ora como veículo de carga, ora como petiscos comestíveis, uma vez que foram criados à semelhança de coisa nenhuma.
No entanto, esta entidade celestial suprema, em alguns aspectos, seria ligeiramente diferente de sua cria terrena. Tratar-se-ia de uma entidade com poderes extraordinários, capaz de vigiar a todos, dia e noite, com um único propósito: recompensar os bons com prendas maravilhosas e punir os maus com terríveis castigos; punições estas que iriam variar de acordo com o senso de humor ou estado de espírito dos ministros eclesiásticos, ou gurus sectários, quer dizer, dos seus profanos e autorizados representantes legais no condomínio terrestre.
E a existência daquele ícone cósmico se limitava a isso, afinal de contas, fora uma simbologia concebida em nosso ideário exatamente para desempenhar este papel, sem contar que a terra era o centro do universo. Na verdade era mais que isso, já que representava a própria totalidade do universo.
Isso nos faz relembrar do primeiro preceito: animais não tinham existência independente e foram criados para nos servir como força de trabalho ou para serem degustados como alimentos depois de um sacrifício humanizado, se é que é possível considerar o ato de matar como um gesto humanitário.
Parece que não mudou muita coisa desde então, uma vez que ainda consideramos nossos amigos irracionais como fonte preferida para satisfazer nossos caprichos culinários, num claro e consciente decreto de que somos a espécie dominante.
E a despeito do proclamado respeito à vida que publicamente insinuamos ou fingimos ter, o ato de cultivar para consumo estas indefesas criaturas irracionais, se tornou um preceito existencial e um atributo característico, exclusivo da nossa espécie humana.
Pela ordem, eis o que as escolas, os nacionalistas, os comunistas ou socialistas, e até mesmo as religiões organizadas, nos ensinam desde sempre: Competir para conquistar; segregar para nacionalizar; doutrinar para escravizar, ou adotar nosso modo de ser.
E se todos foram orientados pela mesma cartilha, catequese ou metalidade, como será possível a existência de uma mente social livre de conflitos e capaz de criar um estado sem fronteiras sociais, segregacionistas ou de qualquer outra natureza? Fazendo uma analogia, seria o mesmo que alimentar uma barata com naftalina e esperar que ela, ao invés de adoecer, ficasse curada de todos os seus males.
E num mundo social com este perfil, a lei que foi criada exatamente porque não existe ordem, parece só ter valor quando o indivíduo se vê no papel de vítima. Por isso ninguém a respeita, e de maneira bizarra, enquanto os deveres são desprezados ou ostensivamente ignorados, os direitos são enfaticamente reivindicados. Fazendo uma analogia, é com se estivéssemos diante de um empregado que, além de se recusar a trabalhar, reclama da falta de salário e descanso remunerado, a um patrão que não existe.
Mas a maior evidência deste comportamento patológico não está contida nos casos onde a lei é convocada para resolver delitos conflituosos, e sim nos desdobramentos dos próprios delitos, uma vez que demonstram e atestam nosso delírio e insanidade existencial.
No entanto, dotado de pensamento lógico, o homem sabe o que faz, e quando pratica um delito, ele nunca assume seu erro como uma falha, nem se reconhece como intencionalmente culpado. Ao invés disso, tentará a todo custo, ora encontrar culpados para justificar seus deslizes, ora esquivar-se das leis que ele mesmo criou para colocar sua caótica vida em ordem. Entretanto, quando se encontra no papel de vítima, logo cuidará de exigir, tanto a retratação dos culpados, quanto o cumprimento integral dos seus direitos.