Autores: Jon Talber e Ester Cartago[1]
Conteúdo Atualizado: 16 de Julho de 2024
Observação Importante: Quando usamos a Expressão "Os Pais", estamos nos referindo aos dois Gêneros, e não apenas ao Gênero Masculino.
Nosso cérebro foi programado pela natureza para aprender qualquer coisa, não importa sob que circunstância. E mesmo o ato de permanecer indiferente ou ignorar uma orientação pode ser considerado como aprendizado. Assim, aprender é simples e fácil. Já o fato de descartar um conhecimento ou instrução inútil, a exemplo dos vícios, processos de autovitimização, manias e paranóias, pode não ser uma tarefa das mais simples.
Uma criança saudável não nasce com medo, especialmente sob a jurisdição ou domínio das causas deste medo, ou do combustível que suscita, desperta, provoca ou evoca a manifestação desse desagradável estado anímico.
Uma das formas de indução ao medo, como, por exemplo, o medo do escuro, tem como origem vários mitos criados, reciclados e aperfeiçoados pelos adultos, onde situações tiradas de suas crenças religiosas, constumes da tradição ou mesmo de suas paranóias e alienações pessoais, conceituaram a escuridão como um sinônimo de coisa ruim.
É como no exemplo da mãe cuja intenção é domesticar o filho desobediente à força. Assim, usando como ilustração a falta de visibilidade que existe na escuridão, o induz a crer que a qualquer momento, de dentro das trevas, surgirá um Bicho Papão para pegá-lo, caso insista no ato de desobediência. A partir desse ponto, a simples menção do escuro, já condiciona aquela criança a ter medo, não do escuro, mas das coisas que poderão surgir do seu interior com o firme e exclusivo propósito de fazer-lhe mal.
Podemos imaginar a Mente de uma Criança como uma folha de papel em branco, onde podemos escrever qualquer coisa. Quando analisamos os traços já fixados do seu comportamento, muitas vezes contrários ao seu temperamento inato, podemos constatar a forte influência das tradições e cultura da mesologia onde vive, e como tudo isso interfere de maneira dramática em sua conduta atual e personalidade adulta.
Ocorre que cada mesologia construída pelo homem já contêm o acervo de estados emocionais e anímicos que dão forma ao mundo psicológico de todos seus inquilinos. E são exatamente estes traços e caracteres comportamentais, retocados com alguns ajustes feitos pelo meio onde vive, que a criança irá integralmente assimilar para compor a sua futura personalidade.
Comportamentos, manias, vícios e outros aspectos, já foram incorporados ao cotidiano dos adultos e aperfeiçoados ao longo de incontáveis gerações. E tudo que resta agora a criança é absorver todo este acervo, sem direito algum à escolha. Podemos escolher por onde caminhar depois de crescidos, mas, mesmo como adultos, ainda não somos capazes de anular voluntariamente nosso dom natural de ouvir, enxergar, sentir cheiro ou paladar.
Equivocamente os adultos julgam a criança a partir de si mesmo. Não são capazes de compreender que o estado sensorial e emocional de uma criança ainda está em fase de desenvolvimento, precisa de experiências e memórias para amadurecer. No entanto, a criança já sabe imitar, e isso ela não aprende com ninguém. Trata-se de um atributo ingênito, que faz parte do seu instinto animal primário. Por isso mesmo poderá tornar-se uma exímia imitadora e será capaz de copiar dos adultos, com invejável precisão, a maioria das suas manias, sejam elas inúteis ou úteis.
Todo nosso acervo de medos é parte integrante e inseparável deste pacote. O medo é um estado emocional que dependente totalmente de alguma causa conhecida para se manifestar, razão pela qual, não existe o medo sem motivo.
E até mesmo aquilo que ordinariamente conhecemos como medo do desconhecido, para nós, tem forma. Ele evoca um sentimento de solidão absoluta, a falta de rumo e de perspectiva; um evento sem referências em nosso banco de memórias. Neste caso, trata-se de um medo puramente psicológico, totalmente criado e consolidado por nossa imaginação, a partir de situações ou ocorrências concretas.
No entanto, convém separar o medo psicológico da prudência. Na prudência o indivíduo evita um perigo conhecido, embora emocionalmente não sinta medo. Já o medo psicológico, este não tem uma causa aparente definida, nem se apresenta como uma ameaça concreta de perigo iminente, ou ainda como uma situação capaz de, naquele momento, por em risco sua integridade física.
Uma criança aprende a ter medo do medo, ou seja, de maneira voluntária ou não, for instruída para deste modo socialmente se comportar. Evitar algo que sabidamente seja capaz de nos causar danos físicos é prudência e uma estratégia de sobrevivência. É o medo natural, saudável, o único cuja existência é justificável. Usar a imaginação para criar situações que não representam ameaças concretas diante de nós, este é o medo psicológico. Trata-se de uma deformação na lógica do pensamento. É o medo virtual, patológico, inexistente, criado pelo ser humano. E como as prováveis causas do medo representam o próprio medo, logo, a criança passará a ter medo de confrontar seus medos.
A base desse medo psicológico faz parte do nosso aprendizado informal, e tudo isso é plantado em nosso inconsciente quando nossos pais tentam nos disciplinar à força. É aquela ameaça de punição ou críticas quando relutamos em dormir cedo, a escovar os dentes, a não ajudar nas tarefas domésticas. O medo se manifesta também quando somos comparados, ou quando se exige de nós um desempenho acima do nosso potencial, ou mesmo uma postura contrária às nossas inclinações naturais.
Desta base inicial, todas as causas dos nossos medos são coletadas e catalogadas. E da mesma maneira que aprendemos a gostar de ganhar presentes ou elogios, também passamos a temer as críticas, o demérito ou castigo. Surgem assim os primeiros indícios de insegurança em nossos atos, e nossa criatividade é substituída pelo desejo de imitar.
Desse modo, o ato de Imitação, além de se mostrar como uma postura mais cômoda e segura, é uma garantia de que não seremos rejeitados, ou molestados. Basta seguir os protocolos e direções já traçadas; basta que nunca nos desviemos das normas já estabelecidas. Assim, a conformação, seja ela má ou boa, torna-se mais importante que a liberdade para criar ou o desejo de se opor aos absurdos.
O conflito interior é inevitável. E por toda vida, a presença deste implacável observador que insiste em exigir de nós conformismo, adequação, obediência e perfeição, se tornará uma obsessão. Neste cenário, onde o ato de repetir as velhas fórmulas e padrões é mais seguro e conveniente, tornar-se inteligente e questionador é quase uma heresia; na verdade, uma ocorrência raríssima.
Assim, explicar desde cedo aos nossos filhos, por meio do esclarecimento lúcido e do insubstituível exemplarismo, como nós adultos criamos a maioria das causas dos seus medos com a intenção de domesticá-los à força, é de vital importância. Trata-se de um gesto de coragem, honestidade, consideração e ética. Afinal de contas, existem muitas outras formas de se disciplinar e colocar ordem na desordem dos nossos filhos, sejam eles crianças ou jovens, e tudo isso sem a necessidade da indecente prática do Psicoterrorismo.