Autor: Site de Dicas - Alberto Filho[1]
Atualizado: 02 de Janeiro de 2025
Neste artigo o autor, com base em estudos de pedagogos especializados em novas tecnologias, apresenta uma abordagem que discute o verdadeiro papel da computação na vida de crianças menores de 3 anos de idade.
"A autoalienação tem início quando acreditamos em tudo, e o pior de tudo, sem questionar nada..."
Profissionais e pesquisadores da área de educação são unânimes em afirmar que as crianças melhor se desenvolvem quando não sofrem pressão e estão livres para explorar o mundo analógico ao seu modo.
Convém esclarecer que, neste caso, estamos nos referindo aos pesquisadores sérios, especializados em Educação, e não nos "Especialistas" de ocasião, aqueles que vivem de achismos, atualmente um fato comum dentre os influenciadores midiáticos que proliferam nas Mídias Sociais.
Mas, como devemos lidar com o grande assédio dos meios eletrônicos com seus brinquedos e penduricalhos virtuais destinados ao público infantil, que todos os dias batem à nossa porta com a promessa de revolucionar a educação, caráter e comportamento de cada um, fazendo até mesmo o papel de pais e educadores substitutos? Neste caso, a primeira lei da prudência deve prevalecer, afinal de contas, "Quando a esmola é grande, até o santo desconfia..."
E caso ainda não esteja bem informado sobre o assunto, lembre-se de que os fabricantes de "Modismos" e produtos de qualquer natureza querem vender suas crias, e para isso usarão de todos os recursos disponíveis para convencer seus consumidores, e uma coisa que definitivamente não preocupa nenhum deles, é o progresso da qualidade de vida de quem quer que seja, uma vez que o objetivo principal é criar cada vez mais cedo novos hábitos consumistas e fidelização às suas bugigangas.
Nessa idade a criança já sabe imitar, embora não saiba por que o faz. Reage a estímulos sensoriais, mas é incapaz de avaliar sua utilidade ou valor para sua Formação Cognitiva. Mas, já é capaz de criar vínculos de dependência psicológica e manias, a partir de sensações, pessoas e objetos.
Trata-se de uma fase crítica onde seu cérebro busca recursos para criar suas primeiras memórias em relação às experiências sensoriais. E neste escopo se inclui o desejo por explorar seu mundo e ver como as coisas funcionam.
Por isso precisam interagir com objetos concretos, situações reais e pessoas de verdade para então aprenderem a se comportar como humanos. Psicologicamente falando, a criança é um ser humano social apenas em potencial, uma vez que ainda nada conhece do mundo dos humanos ou da vida.
Aprenderá tudo isso com outras pessoas, e a qualidade de sua psique, inteligência, senso de moral, ética e caráter, vai depender da fonte deste conhecimento. Só um humano é capaz de ensinar outro humano a viver a experiência humana; uma máquina, em nossa atual civilização, jamais.
Por isso mesmo, asseguram aqueles especialistas em educação, cujas opiniões não são motivadas por ricos patrocinadores midiáticos, fabricantes ou ideologias bizarras, que crianças nessa idade não precisam, nem de computador, nem de pais ou babás eletrônicas.
Nesse estágio de suas vidas elas deverão trabalhar a sensibilidade e desenvolver suas habilidades naturais por meio de atividades motoras que reforcem os sentidos, a curiosidade da descoberta e a interação intensa com o ambiente e outras entidades semelhantes. Eis o motivo pelo qual precisam do contato com as coisas concretas, experiências reais com objetos e pessoas.
Mesmo crianças na faixa etária entre 2 e 3 anos, também terão seu desenvolvimento emocional e social irremediavelmente comprometidos, uma vez que deixarão de exercer atividades normais, essenciais para seu progresso físico, motor, sensorial e, o mais preocupante, terão grande possiblidade de desenvolver comportamentos melancólicos, assim como de tudo farão para viver fora da realidade.
Motivo pelo qual poderão desenvolver, além de doenças próprias do Stress adulto e sedentarismo, dificuldades para relacionar-se com outras pessoas, carência emocional profunda, suscetibilidade ao desenvolvimento de estados depressivos, insegurança crônica, baixa autoestima, e uma evidente indiferença e falta de interesse para com as coisas e problemas do mundo real.
Já é possível constatar tudo isso entre nossos jovens, onde as psicopatologias caracterizadas por um vazio interior e falta de lastro emocional e sentido existencial para suportar as vicissitudes da vida, já representam importantes gargalos que impedem um desenvolvimento psicossocial equilibrado.
Daí a crescente fuga para os vícios e drogas; a falta de objetivos e ausência da automotivação, cujos efeitos negativos, a curto, médio e longo prazo, são inegáveis e preocupantes. Mas, ainda há tempo de impedir que o mesmo aconteça com as crianças pequenas, especialmente aquelas ainda sob nossos cuidados, e não sob controle da máquina midiática ou dos cabrestos dos falsos educadores.
Aqui não vale o que está escrito nas bulas da propaganda ou marketing do produto, muito menos nas pautas dos Influenciadores Sociais que se dizem Educadores. Ao invés disso, a ajuda especializada deve ser considerada. Mas, escolha bem este profissional. Prefira alguém sabidamente qualificado de sua inteira confiança; de preferência alguém que não tenha nenhuma relação de interesses com os produtos, canais midiáticos, produtores e produtoras.
Um aplicativo virtual nunca será capaz de substituir a autêntica abordagem cognitiva, afinal de contas, criança precisa interagir com outras crianças, aprender através dos pequenos conflitos e vivenciar os pequenos dramas próprios da infância. Precisa experimentar dissabores e sabores, e com isso criar um lastro consistente para ser capaz de enfrentar, mais tarde, os grandes e inevitáveis gargalos próprios da vida em coletividade.
Como ferramenta educacional, o software ou aplicativo deverá ser avaliado quanto aos supostos benefícios que irão proporcionar ao pequeno usuário. Uma criança sem nenhum repertório cognitivo é alvo fácil de manipulações, condicionamentos patológicos, desenvolvimento de traumas inconscientes e conscientes, dependências difíceis de descartar depois.
Por isso é preciso ter conhecimento técnico e acima de tudo bom senso na hora de fazer esta escolha. Não vale a opinião de especialistas em informática, e sim de Educadores especializados na ciência da vida, e não nos “padrões” eleitos como válidos pelo mundo Virtual.
Os consultórios dos psicólogos e psiquiatras estão repletos de crianças ou jovens intoxicados após tanta exposição aos mundos virtuais ou realidades paralelas de faz de contas.
Mesmo para uma criança acima dos cinco anos, a cautela deve ser a mesma. Primeiro aprender sobre o mundo real, convívio olho no olho, toque pessoal, problemas concretos, e aos poucos inserir a ferramenta cibernética, mas apenas como recurso facilitador para algumas tarefas.
Às vezes, se bem direcionados e de maneira consciente, os aplicativos virtuais poderão ser úteis como apoio para pesquisas acadêmicas, mas nunca como substitutos da autovivência lúdica.
Uma ferramenta educacional virtual adequada e voltada para crianças menores de três anos, de fato, é coisa rara, mas, como já foi dito antes, existem as falsas promessas. Não caia nessa, duvide de tudo e prefira o modo educativo tradicional, e depois de mais crescidas, avalie os recursos das novas tecnologias que lhes poderão ser complementos úteis.
Promessa ou recurso didático algum será capaz de construir um repertório cognitivo significativo em uma criança se ela não faz uso do insubstituível esforço pessoal, do contato presencial com as situações do dia a dia, sejam experiências desagradáveis ou agradáveis.
Em tempo, para uma reflexão, eis o que disse um notório publicitário aos seus especilistas em mídias sociais, antes de começar a elaborar uma nova e robusta campanha de Marketing para promover como novo, um velho produto, que embora popular, nunca foi uma necessidade: "Importante mesmo é convencer o comprador de que realmente ele precisa do novo, e já consagrado, velho produto, e o mais importante, fazê-lo crer que está fazendo esta escolha porque esta é sua vontade..."