Autor: Jon Talber[1]
Conteúdo Atualizado: 16 de Julho de 2024
Observe o mundo artificial que criamos para nossas crianças. Ali, naquele mundo de faz de contas, onde os personagens nunca são de verdade, e mesmo os objetos comuns são modificados e ganham uma aparência que desafia a realidade, elas passam praticamente toda infância, não sendo raros os casos onde a prática se estende até a vida adulta. No entanto, a essa absoluta desconstrução da realidade damos o conveniente nome de modelo Educativo Infantil Criativo.
O mesmo ocorre quando introduzimos em suas vidas as fantasias, os reinos mágicos e os mundos encantados, criados para entretê-las. E aparentemente, o que esperamos obter a partir dessa abordagem deveria ser uma qualificação cognitiva diferenciada, um molde que supostamente funcionaria como uma espécie de chave mestra capaz de potencializar seu aprendizado, assim como na construção de uma personalidade pautada no bom senso. Mas, a despeito do que preconizam os teóricos da educação, aparentemente, ao longo das incontáveis gerações sob a gestão de tais métodos, a medida, como sabemos bem, tem sido ineficaz.
Mas, para uma bem estruturada e sólida indústria, a mesma que é responsável pela criação e manutenção de Mundos de Fantasias com seus espetaculares e atraentes biomas, há uma consequência óbvia, ou seja, o lucro. Pelo menos para eles, a empreitada demonstra ser um projeto muito bem sucedido. Mas, para eles, o que menos importa é a qualidade da educação colocada à disposição dos nossos filhos.
Por trás de tudo isso há a tremenda força da máquina publicitária e dos formadores de opiniões, cujo papel é, além de tentar nos convencer de que todo esse circo mágico, além de necessário, é o caminho mais inteligente na trilha da pré-qualificação de crianças, jovens e adultos, também espera contar com o nosso firme apoio no proceso de perpetuação do modelo.
A Diversão, como uma atividade lúdica com objetivos cognitivos claros e bem planejados, para o desenvolvimento salutar da psique infantil, é imprescindível. Mas, para criar um ambiente alegre, divertido, cativante, e ao mesmo tempo com potencial cognitivo de valor, não precisamos nos ausentar do mundo real. Não se edifica uma realidade, nem se pré-qualifica um cérebro que deverá estar apto a resolver problemas concretos, usando como alicerce uma concepção surreal.
Para uma criança, não existe o conceito de fantasia ou de um mundo de faz de contas capaz de acomodar o impossível; existe apenas a realidade, e, para ela, tudo aquilo é real. Seus olhos e sentidos ainda não estão aptos a ler e interpretar a realidade com a mesma precisão que o fazem os adultos.
No entanto, para elas, ficará para sempre a mensagem de que nossos problemas reais serão solucionados por heróis mágicos dotados de força infinita; ou ainda por objetos místicos que transformam pedra ou ouro, sempre que evocados, e o mais importante, sem demandar nenhum esforço pessoal ou Mudança de Postura.
Na maioria das vezes, dentro da realidade de cada lar, independente do ambiente, crianças e jovens tendem a desconhecer os problemas familiares e adultos, e o mais absurdo, ignoram até as nuances da própria fisiologia.
A verdade é que entre os pais ainda predomina um mito de que este jovem é incapaz de compreender e assimilar os dramas e variantes que já fazem parte do cotidiano adulto. Paradoxalmente, estes mesmos pais glorificam a competência intelectual destes jovens quando o assunto são as novas tecnologias com as quais, ao contrário de grande parte dos adultos, se relacionam com invejável desenvoltura.
Ora, se os jovens estão aptos a assimilar tecnologias complexas, por que não estariam aptos a compreender coisas infinitamente mais simples como são os problemas estruturais e corriqueiros que rondam o ambiente doméstico? Expor um problema não significa delegação ou transferência do problema para eles. O ato de compartilhar serviria apenas como informação, para cientificá-los de que problemas existem; que são partes indissociáveis e importantes da realidade humana.
De perder é nosso maior receio; seja um status social, uma ideologia, uma crença, enfim, seja o que for. Apoiamo-nos com firmeza à Autoridade de uma Tradição na esperança de que também possamos usá-la como rédeas para controlar nossos filhos, dissolver nossos problemas ou colocar nos eixos nossos relacionamentos. Se o mesmo argumento que nos move tem a força necessária para nos subjugar, então, por que também não usar o mesmo processo ou sistema doutrinário para amestrar, por exemplo, nossos filhos?
Formar crianças e jovens livres, felizes e capazes de pensar por conta própria não é nossa meta; na verdade não temos nenhuma meta. O ato de ser bem sucedido, em nossa pauta existencial, se limita a ter uma profissão rentável e uma qualidade de vida suportável. E assim passaremos a vida, mas sempre à espera daquela transformação mágica que virá de fora para nos remediar por dentro, remover nossos problemas e suprir nossas carências.
Mas, esse dia nunca parece chegar. Por isso trabalhamos com afinco, resignados, confiantes nas promessas dos nossos respeitáveis guias, ora no papel de ministros religiosos, políticos, gurus, autoridades doutrinárias e ideológicas, cujo discurso não se deve contestar. Suas palavras nos confortam; nos acalentam. Dizem o que queremos ouvir, e parecem saber exatamente do que precisamos; em nossa imaginação, parecem conhecer o caminho capaz de nos conduzir a um estado de paz eterna.
E há sempre a esperança de dias melhores. E como cegos seguindo um cão guia, preferimos nos encolher na acomodação, na crença de que tais autoridades, embora, paradoxalmente, sejam os mesmos autores de toda confusão no mundo, estejam zelando para que este advento maravilhoso um dia se torne realidade. E eis a fantasia que temos a oferecer como herança existencial para nossos filhos.
“Os pais precisam entender de uma vez por todas que as bases para a construção de um caráter sólido sempre começa e termina dentro de casa. Na escola e na rua ele será posto à prova, e voltará para casa melhor ou pior; tudo vai depender da qualidade dos exemplos e princípios assimilados a partir dos seus preceptores...”
Uma criança ou jovem não compreende porque sua mãe muda tanto de humor em certos períodos do mês. Os conflitos são inevitáveis, produto de uma ignorância instituída, premeditada, cego guiando cego, quando um simples esclarecimento resolveria de vez essa dramática questão.
Poderíamos explicar para nossas crianças que suas mães, mensalmente, padecem de um transtorno hormonal chamado TPM ou Tensão Pré-Menstrual, um evento natural, trivial, parte inseparável do processo fisiológico feminino. Um distúrbio capaz de capaz de causar variações em seu estado emocional, tornando-a mais sensível, irritadiça, ansiosa, nervosa. Um transtorno que, do ponto de vista dos filhos ignorantes em relação ao fato, vai parecer implicância, birra pessoal, perseguição ou intolerância.
Não estaria neste simples esclarecimento a solução de muitos problemas de relacionamentos entre mães, filhos e filhas, irmãos e irmãs? Se aquilo representa um problema para os adultos que já conhecem o distúrbio, imagine para crianças e jovens sensíveis, emocionalmente instáveis, que tendem a levar tudo pro lado pessoal?
Cuidar para que os jovens compreendam por meio do esclarecimento a natureza desse estado hormonal e anímico, uma força capaz de desorganizar a estabilidade emocional das mulheres, decerto, evitaria muitos conflitos. Cientes do fato, até que poderiam ajudá-las a superar de maneira menos traumática este ciclo. Se crianças e jovens são capazes de compreender o complexo processo de programação de um computador, não estariam também aptos a entender esta coisa infinitamente mais simples?
E sobre os problemas da velhice, isso também não faz parte dos seus dias? Ao tomar conhecimento dos problemas da velhice, isso não abriria um caminho até a tolerância, já que na maioria das vezes os jovens tratam os mais velhos com indiferença ou desprezo? Conhecer as vicissitudes de cada idade poderia torná-los mais humanos, mais responsáveis, solidários, disciplinados e talvez até comprometidos com o bem estar social, afinal de contas, querendo ou não, eles não estão sujeitos a navegar no mesmo barco?
Estudar os limites de compreensão de cada idade, o que cada faixa etária é capaz de assimilar, isso deveria ser um quesito regular na grade curricular das escolas e obrigatório dentro de todos os magistérios domésticos. Do mesmo modo que se institui a adequação de brinquedos, filmes e programas por faixa etária, por que não instituir uma adequação daquilo que cada indivíduo em crescimento, usando os mesmos parâmetros, é capaz de intelectualmente assimilar?
Por que os pais esperam pelos educadores, enquanto os educadores esperam pelos especialistas, que por sua vez esperam pela oportunista Indústria dos Padrões de Entretenimento e desconstrução cognitiva para decidir o que fazer? Ou você ainda acredita que neste meio corporativo exista alguém bem intencionado e que está seriamente preocupado com a evolução da cognição, qualificação comportamental, qualidade do caráter e destino dos nossos filhos?
Em nossa pauta de aprendizado há espaço para tudo. Para brincadeiras, experiências pessoais, crenças, ou até mesmo para trivialidades. Mas, o que se vê no meio educacional está mais para lavagem cerebral, desconstrução congnitiva, doutrinação ideológica, e a instauração institucionalizada da Ignorância.
Ensinar nossos filhos por meio da tradicional forma mecanicista, pela força da tradição e costumes, de modo que nunca são solicitados a pensar antes de agir, onde basta ser capaz de imitar ou repetir mímicas, onde nunca é levada em conta sua capacidade pessoal de assimilação do conhecimento, e onde todos são tratados como simples animais amestrados ou máquinas anímicas sem vontade própria, isso, definitivamente, não pode ser chamado de educação.
Mas, para se construir mundos de mentira, repletos de fantasias bizarras, habitados por indivíduos dotados de uma mentalidade psicopatológica, este modelo serve perfeitamente. Desse modo, o que podemos senão esperar que construam um mundo igualmente distorcido e caótico, cuja aparência será cada vez mais deplorável, e cujo conteúdo terá no absurdo seu ponto de sustentação?