Autores: Jon Talber e Alberto Filho[1]
Conteúdo Atualizado: 16 de Julho de 2024
Observação Importante: Quando usamos a Expressão "O Pai ou os Pais, Educador ou Educadores", estamos nos referindo aos dois Gêneros, e não apenas ao Gênero Masculino.
Como uma esponja com extraordinário poder de absorção, assim é também a viçosa mente de uma criança. E ainda no ventre da mãe, alguns meses antes do nascimento, ela já é capaz de assimilar informações a partir das sensações somáticas de sua progenitora. Nascida, seus sentidos extremamente apurados, superior aos de qualquer adulto, já estão aptos a captar tudo que ocorre no seu entorno. E farão isso com a mesma voracidade de um animal faminto diante da sua primeira refeição após um longo período de hibernação.
Tamanha urgência temporal é uma estratégia da natureza, uma vez que o cérebro humano, por ser mais complexo do que o de qualquer outro animal irracional, precisa de grande flexibilidade, e isso significa ser capaz de absorver simultaneamente um grande volume de informações. E eis o motivo pelo qual, neste estágio etário, o tempo disponível se torna um ativo tão precioso.
Assim, o cérebro é capaz de captar, apreender mais de uma impressão simultaneamente, e depois memorizar as particularidades de cada uma delas, requisito essencial para a etapa seguinte que será a construção consciente de um formidável banco de memórias.
Graças a esta característica, mais comum entre os humanos, a criança mais tarde será capaz de desenvolver o atributo da dedução. Isto significa estar apta a pensar de maneira organizada e lógica, e a partir daí planejar seus atos.
Com uma disposição ímpar para aprender ela é capaz de apropriar-se de qualquer comportamento, inclusive as más influências e os estados emocionais negativos dos adultos, especialmente dos mais próximos. E sendo ainda incapaz de diferenciar o inútil do útil, acaba por incorporar ao seu próprio padrão de pensamento e idiossincrasias tudo que sensorialmente percebe, e tudo isso logo se transformará em caracteres ativos e permanentes do seu caráter.
E a depender do estado psicológico destes orientadores involuntários, que pode ser pais ou parentes mais próximos, ela terá construído uma personalidade que diante de um problema vislumbra desdobramentos negativos ou positivos. Terá ou não uma predisposição para julgar tudo pelo lado pessimista ou otimista.
Poderá crescer com a convicção de que se dará mal ou bem na futura vida adulta. Poderá ainda ter um sistema emocional que facilmente sucumbe às adversidades, ou ao contrário, uma forte disposição ou motivação para enfrentar com altivez qualquer contratempo ou embaraço existencial que venha a ter pela frente.
Sempre lembrando que cada detalhe de sua futura personalidade, cada traço e modo como se comporta diante das contingências da vida, vai depender deste aprendizado inicial ou da qualidade desta pedagogia. Sim, coisas negativas, assim com as positivas, são ensinamentos, instruções, orientações assimiláveis que poderão ser memorizadas e que mais tarde poderão compor o repertório cognitivo e personalidade daquela criança.
Assim, tudo isso ela apreende e memoriza a partir da interação com o mundo à sua volta; daqueles com os quais se relaciona de maneira indireta ou direta. A forma direta ocorre por meio do convívio presencial, seja com seu grupo familiar, ou frequentadores ativos do ambiente onde vive. A via Indireta é a televisão, livros, revistas, internet; as histórias que escuta, e assim por diante.
Caso o ambiente onde vive seja conturbado e nosográfico, pela lógica, nosográfico tenderá a ser o seu estado emocional e padrão pensênico predominante. Caso o ambiente seja pacato e harmônico, harmonia, serenidade e equilíbrio demarcarão sua base comportamental primária.
E o processo todo é bastante simples: Se está em sua memória, será usado pelo pensamento. Terá assimilado de fonte conhecida com a qual tinha algum tipo de empatia ou vínculo. E nestes primeiros estágios de sua vida, estas fontes, provavelmente, serão seus parentes ou cuidadores mais próximos.
Do mesmo modo, otimismo e equilíbrio também se aprende. A regra é a mesma já aplicada na capacitação anterior em relação às ingerências negativas. Isso mesmo, o negativismo é uma capacitação. Uma capacitação não reflete apenas as boas condutas ou comportamentos produtivos, pois, um mau hábito, embora seja algo indesejável, também é uma qualificação previamente desenvolvida, apesar de sua natureza patológica, improdutiva e indesejável.
Assim, a criança pode se tornar um mestre em pessimismo ou em otimismo, e tudo isso vai depender daqueles que orbitam em seu micro universo infantil de maneira indireta ou direta. Quando a mãe ou o pai se propõe a sentar-se com ela para ajudar nas tarefas corriqueiras da escola, isso, apesar de ser instrução, nesta fase de suas vidas, para a formação de sua psique emocional, como conteúdo psicoemocional, tem um valor apenas regular.
Por outro lado, o modo como aqueles adultos se comportam no dia a dia; a maneira espontânea como se relacionam com as pessoas e situações; o modo de falar, os hábitos, gestos, as queixas, o modo como interagem ao sentar com aquela criança, estes caracteres são as mensagens cognitivas mais importantes neste estágio de estruturação psicológica da psique infantil.
Uma queixa reforçada pela irritação, frustração, intolerância, ansiosismos, gestos que suscitem o estado de violência ou raiva, tudo isso também prepara, orienta, fertiliza o acervo psicoemocional dessa criança, sugerindo uma futura reação semelhante.
Quando a impaciência e seus efeitos emocionais controlam nossas ações e condutas, tais comportamentos atuam como importantes instrutores para este novo protagonista em forma de criança, que ainda busca um modelo de referência para construir sua estrutura psicológica definitiva, ou mesmo uma base que lhe servirá de alicerce.
A criança não é capaz de reconhecer o real valor das coisas, uma vez que ainda não é capaz de pensar de maneira lógica. No entanto, imitar até gradualmente alcançar à perfeição, isso ela já é capaz de fazer. E assim, aos poucos, pelo exemplo diário, involuntário ou voluntário, estimuladas por este convívio, aspectos adormecidos do seu temperamento acabarão por se identificar com tudo isso, motivo pelo qual irá adotar tais posturas para compor sua futura Personalidade.
É assim que caracteres negativos e positivos da mesologia são agregados à nossa personalidade de modo natural, imperceptível. Finalmente nosso sistema emocional se adequa, aprendendo a reproduzir na íntegra os maus ou os bons hábitos; e também as correspondentes pantomimas, maus hábitos, vícios e manias dos mestres, passivos ou ativos, que sempre estiveram à nossa volta.
Devemos, portanto, estar cientes que uma personalidade não é uma dádiva da natureza, mas uma atribuição do meio social onde estamos inseridos. A natureza não cria personalidades, mas antes disso, apenas a capacidade de imitarmos uns aos outros, assim como certas predisposições ou preferências inatas, as quais podemos chamar de atributos temperamentais, que poderão ou não fazer parte de nosso comportamento, isso a depender das demais influências adquiridas no meio onde vivemos.
E estes atributos ou influências, a partir de estímulos externos, acabam por servir de caminho para a construção e consolidação de cada personalidade. Se o temperamento inato é coisa potencial, ainda não desenvolvida e consolidada como parte final de nosso perfil psicológico, o comportamento do mundo já é coisa vigente, e são exatamente estes aspectos que acabam predominando na formação definitiva das principais nuances da individualidade ou caráter de cada protagonista.
Desse modo, psicologicamente, nós criamos as posturas dos personagens que serão nossos filhos, e não a misteriosa natureza que nos deu o dom da vida. A natureza detentora do dom da vida, não cria as personalidades ou as preferências comportamentais que caracterizam cada adulto. Isto é papel da mente social e do meio onde vivemos; da mesologia da qual somos partes integrantes e atuantes.
Lembre-se, instrução é toda informação que orienta ao outro como fazer, e para uma criança, a origem desta orientação é coisa irrelevante. Se virá do mau caráter ou do indivíduo bem intencionado, para ela, ainda sem um senso crítico formado, isso pouco importa, pois informação é a única coisa que sua mente cheia de frescor e ávida por conhecimento, neste momento considera importante.