Autores: Ester Cartago/Jon Talber[1]
Conteúdo Atualizado: 16 de Julho de 2024
Observação Importante: Quando usamos a Expressão "O Pai ou os Pais, Educador ou Educadores", estamos nos referindo aos dois Gêneros, e não apenas ao Gênero Masculino.
“Convém nunca esquecer que, a mente de uma criança é como uma folha de papel em branco, na qual podemos escrever qualquer coisa, inclusive tudo aquilo que os adultos têm de pior...”
Nesta folha em branco, que é a mente infantil, que logo se transformará em personalidade juvenil e mais tarde em adulta, identificando-a como um indivíduo que pensa e age dentro da sociedade, podemos gravar todas as posturas comportamentais, sejam patológicas ou saudáveis, sendo ou não compatíveis com sua índole, inclinações ou predisposições naturais.
Nesse contexto, estudar a discreta sinalética do temperamento de cada criança vai ajudar o pai ou educador a conhecer melhor quais são suas predisposições naturais, aquelas que precisarão ser lapidadas para menos ou para mais. De um diamante bruto, quando, por meio do processo de lapidação se retiram os excessos, ele ganha em beleza e valor. A mesma analogia ilustra bem um defeito, e quando ele é trabalhado retirando-se os excessos, torna-se de menos, por isso também se ganha mais.
A criança aprende por meio do processo de imitação, e isto quer dizer que, vendo o exemplo dos outros, sejam hábitos ou gestos simples como pegar e segurar objetos, ela acabará por se tornar uma “hábil” repetidora de qualquer coisa.
“Seus medos, preferências, desejos e motivações, tudo isso também ela apreende. Assimila na íntegra, seja ou não de maneira intencional, por meio da convivência, do exemplo dado pelos adultos à sua volta, que num primeiro momento, são seus pais ou cuidadores...”
É importante compreender que, primeiro as crianças tendem a imitar os comportamentos daquelas pessoas com as quais mais se identifica ou confia; com as quais possui vínculos afetivos mais importantes. E estas são, a princípio, os pais, irmãos mais velhos, cuidadores ou parentes próximos que fazem parte do seu convívio mais íntimo.
Os vícios, manias, atitudes e hábitos que detestamos, assim como as posturas não éticas, todas estas coisas são exemplos de orientações que os adultos transmitem, de modo consciente ou não, e que poderão ser absorvidos com sagaz voracidade por aquela “Folha em Branco”, que é a mente infantil, onde podemos escrever qualquer coisa.
A capacidade de captação e assimilação que possui uma criança é superior. Ela é capaz de perceber mesmo a mais discreta variação de humor dos adultos, assim como vestígios mínimos de impaciência, manias, gestos e atitudes não edificantes, assim como estados melancólicos ou de frustração.
Quando se compara com os adultos, seus sentidos são bem mais acentuados. Trata-se de uma estratégia de sobrevivência da natureza implícita do animal homem, uma vez que nesse estágio etário da vida, psicologicamente e sensorialmente, a criança precisa assimilar rapidamente todos os recursos que se tornarão os alicerces, a base necessária à sua sobrevivência.
A criança apreenderá absolutamente tudo, sem ressalvas, códigos de éticas ou hesitação, pois, sendo uma folha em branco, terá como única opção imitar aqueles do seu entorno, e neste pacote de deliberações patrocinados pelos adultos, estão as condutas, gestos, procedimentos, preferências, manias, vícios e hábitos, por mais bizarros que sejam.
Sem discernimento, senso crítico, regras morais ou sentimento de culpa, apenas tende a imitar, reproduzindo tudo que esteja ao alcance dos seus sentidos, sem discutir a integridade ou intenção da fonte, muito menos a qualidade ou utilidade de cada ensinamento ou orientação.
E assim, ela também aprenderá a odiar e a empatizar; a preferir e desprezar; a ser moralmente fraca ou forte. Aprenderá a ser firme e a ter coragem para enfrentar os obstáculos da vida, mas também poderá aprender a ser uma pessoa fraca que sucumbe facilmente diante de qualquer atribulação ou contratempo, por mais insignificante que seja.
E finalmente, lembre-se, uma criança ao nascer já adentra num mundo repleto de milenares comportamentos patológicos, recheado por todos os tipos de códigos e símbolos bizarros, onde incontáveis personalidades adultas psicologicamente desorientadas se antagonizam entre si em busca de espaço ou protagonismo.
E ali, dentro das fronteiras do lar que a acolhe, a criança, decerto encontrará bons e maus hábitos, manias ou deformações que se repetem dentro de uma cadeia temporal que se arrasta ao longo de milhares de anos e gerações, passando de pai para filho, de indivíduo para indivíduo, de maneira incondicional e sempre regular.
E a criança, como um novo protagonista neste grande palco ou picadeiro, certamente, também acabará por se tornar um destes personagens, ou uma bizarra caricatura de muitos, ao incorporar retalhos de traços psicopatológicos de todos aqueles que dão cor e forma ao bioma social onde, sem direito à escolha, está inserida.
Defeitos ou virtudes, alienações ou clareza crítica, tudo isso faz parte deste imenso repertório de caracteres que irão se incorporar às suas idiossincrasias, de modo a integrar, compor, lapidar e construir seu próprio modelo de conduta, ou personalidade. Certificar-se de que a criança irá assimilar um máximo de atributos positivos, este deveria ser o papel básico e ético de todos os pais, educadores ou responsáveis.
E já que não temos competência para evitar a assimilação dos incontáveis entulhos que mente social é capaz de transmitir, mesmo quando sabemos tratar-se de traços patológicos, é nosso dever gerenciar, acompanhar, vigiar; cuidar para que mais aspectos úteis e edificantes venham a fazer parte do novo lastro cognitivo dos nossos filhos.
Como pais, é nosso dever apresentar um repertório de informações alternativas e profícuas, atributos positivos que acabarão por construir, dar forma e solidez a psique destes novos cidadãos.
No entanto, o lastro social doente da mente coletiva deve ser tratado como a um enfermo que necessita de cuidados urgentes. Trata-se de uma intervenção cirúrgica radical, onde as deformações incuráveis precisarão ser extirpadas de uma vez, sem deixar resíduos; talvez apenas lembranças de sua inutilidade.
Mas, apenas isso não basta. Potencializar e requalificar os traços fortes ou virtudes daquele novo temperamento, que ora nossos filhos estão construindo, é a solução para que um reciclado comportamento possa vir à tona. Se a reciclagem dessa mente doente não acontece, não devemos nos iludir na esperança de que alguma mudança irá um dia ocorrer, especialmente de modo espontâneo, ou milagroso.