Autores: Ester Cartago/Jon Talber[1]
Conteúdo Atualizado: 16 de Julho de 2024
Observação Importante: Quando usamos a Expressão "O Pai ou os Pais, Educador ou Educadores", estamos nos referindo aos dois Gêneros, e não apenas ao Gênero Masculino.
Uma criança não aprende um vício, mania ou qualquer outro hábito, sem uma fonte de referência; um modelo prévio que lhe sirva de orientação. Isto quer dizer que, um vício, a exemplo de uma dependência química, o que também é um hábito, exceto nos casos da gestação químico-dependente, não nasce como predisposição inata ou fatalidade genética.
Mas não podemos confundir as predisposições genéticas, que são aqueles aspectos biológicos exclusivos do corpo somático, com as disposições psicológicas, a exemplo de comportamentos e hábitos adquiridos a partir do convívio social.
O corpo físico pode padecer de uma predisposição para o desenvolvimento de uma doença, ou ainda de uma carência por alguma substância após um processo de gestação de uma dependente química, enquanto que no aspecto psicológico, uma mente, desde que saudável, nasce vazia, dotada apenas de instinto e potencial para adquirir conhecimento. E a princípio, sem preferências relevantes para se identificar com este ou aquele comportamento psicossocial.
Mas também existem os aspectos ingênitos do temperamento, e estes deverão ser considerados. No entanto, não são deterministas, uma vez que dependem de estímulos externos para que sejam capazes de se transformar em caracteres ativos e se consolidar como traços de uma personalidade.
Por isso mesmo, graças aos aspectos ingênitos do temperamento de cada um, a criança pode, naturalmente, sentir-se mais atraída por algumas atividades e rejeitar outras. Ou ainda se predispor, ou demonstrar, mais interesse em adquirir alguns hábitos enquanto ignora ou rejeita outros. E tudo isso precisa ser estudado e levado em conta.
Uma doença não se manifesta em nosso veículo orgânico a partir de uma instrução oral. Ela se desenvolve naturalmente, desde que as condições físicas ou biológicas necessárias ao seu afloramento estejam presentes naquele veículo corporal ou indivíduo. A mesma verdade só vale parcialmente para os aspectos psicológicos da mente.
Um comportamento é cria do conhecido, costumes e hábitos de uma tradição, daquilo que já foi experimentado antes, dentro da dramática trama do convívio humano. E para estas coisas,exemplos persistentes, instrução e treinamento são fatores imprescindíveis.
Capacidade cerebral ou cognitiva, exceto nos casos onde a demência está comprovada, todos têm, uns de mais, outros de menos. Sem esquecer que as anomalias cerebrais caracterizadas como demências e seus derivados são deformações genéticas exclusivas do corpo somático.
Entretanto, predisposição “genética” para um dado comportamento psicológico consciente, por ser uma ocorrência raríssima, não pode ser usada como regra geral. Lembrando mais uma vez que, predisposição somática é um atributo exclusivo da fisiologia corporal, e por regra, não se aplica aos aspectos virtuais da psique.
Sim, o cérebro orgânico é uma coisa, e seu conteúdo virtual, que são as memórias, experiências e competências adquiridas em vida por cada protagonista, outra coisa. E embora o segundo dependa do primeiro para se fixar, o primeiro não depende do segundo para existir.
Ocorre que em alguns casos, dada à exacerbada sensibilidade do indivíduo, para que ele adquira um vício ou mania, que na verdade é um hábito, a quantidade de estímulos sensoriais necessários será mínima. Isso quer dizer que, dentre a maioria menos sensível, para que um vício ou mania fixe de fato suas raízes dentro daquele cérebro, muitas repetições daquele procedimento serão necessárias.
Entretanto, como já foi dito antes, para uma expressiva minoria, mesmo o menor contato com aqueles vetores externos que estimulam e favorecem o hábito, será mais que suficiente para desencadear o processo de dependência ou vício.
E se há alguma coisa em comum entre todas as crianças, desde que possuam uma mente saudável, sem nenhum traço de demência ou transtorno mental, esta é a extraordinária capacidade inata de imitar sem nenhum critério ou discernimento. Discernimento é uma qualidade que vem, para alguns, com a experiência de vida, e isto, de maneira incondicional, quer dizer tempo cronológico.
Por isso a criança e o jovem receberão do meio onde vivem as primeiras lições básicas de como deverão se comportar. Isso inclui suas preferências, crenças, preconceitos, objetivos de vida, antipatias e empatias, medos, e assim por diante. Nós, os adultos, seremos seus orientadores, replicadores ativos de tudo isso. Os jovens precisam de uma fonte de referência e, inicialmente, o mundo dos adultos será esta fonte. E eles apreenderão tudo isso graças a sua espetacular capacidade inata de imitar, tanto aquilo que não serve, quanto aquilo que serve.
As crianças não aprendem uma coisa sem uma fonte, modelo ou gabarito que lhe sirva de guia, isso inclui os valores, padrão moral e ético que irão adotar. Assimilarão, não apenas o padrão ético do educador, dos tios ou pais, do personagem da moda ou influenciador digital da vez, ou ainda daquele personagem que a história elegeu como uma referência digna de clonagem, reverência ou idolatria, mas, de qualquer um que estiver dentro das fronteiras dos seus sentidos, e tudo isso sem levar em conta a qualidade do caráter de nenhum destes protagonistas.
Sabendo disso, o educador ou pai deverá fazer o possível para que a criança ou jovem não se torne mais um autômato, um mero repetidor de costumes, crenças, tradições antigas, ideologias, manias e outros. Lembre-se de que tudo isso já foi, de maneira incondicional, herdado por nós e o resultado é o mundo caótico e patológico onde vivemos.
Os nossos medos as crianças também herdarão, a menos que se mude o conteúdo escrito da cartilha que adotamos como guia pessoal. Lembre-se, medo se aprende, se pratica, se transforma em dezenas de outros medos. Não existe medo sem um indivíduo medroso, aquele que vai repassar aos outros, não apenas seus próprios medos, mas também as causas.
Se ainda temos problemas sociais ou de convívio, conflitos existenciais e tantos outros, elas, as crianças, que são nossos filhos, não precisarão herdar isso de nós. É tudo uma questão de boa vontade, bom senso ou respeito. O que vamos ensinar aos nossos herdeiros? Será que desejamos para eles os mesmos problemas e gargalos psicológicos que já florescem e nos atormentam dentro do nosso terreno psicológico, ou ao contrário, que cresçam livres deste fatídico cativeiro?
Tornar as crianças conscientes dos problemas humanos, da maneira correta e sem paranóias, este é nosso dever, disso não devemos abrir mão. No entanto, inserir em seus cérebros nossas deformações psicológicas, fobias, paranóias, manias e medos, isso é outra coisa. E convenhamos, todo este acervo terá alguma utilidade como qualificação, vantagem cognitiva ou processo evolutivo para alguém?
E o que é ser livre? Será que o sabemos? Como podemos ensinar alguém a ser livre se sequer sabemos do que se trata? Assim, em primeiro lugar, não deveríamos começar por tentar descobrir, por nós mesmos, o que vem a ser um ente livre? Feito isso, estaríamos de fato qualificados para repassar o conceito aos nossos jovens, não por meio de palavras ou retóricas morais sem consistência alguma, e sim por meio do exemplo pessoal, que ainda é o mais eficaz educador de todos.
Como podemos ser livres, se ao longo de toda nossa existência apenas repetimos, repetimos e repetimos? São as velhas fórmulas, os milenares adágios, costumes, e toda uma mentalidade que se mostrou incapaz de livrar o homem dos seus conflitos mais primários. Em nossos dias, os problemas básicos existenciais do homem são diferentes daqueles que já faziam parte da rotina dos nossos pais e avós?
Do mesmo modo que é importante o autoaperfeiçoamento profissional, não seria ainda mais importante aprender sobre nossos medos, frustrações e angústias; os conflitos e as causas de todo sofrimento humano? Poderíamos ir mais além e erradicar todas estas bizarrices psicológicas da nossa pauta existencial.
Para ensinar liberdade, primeiro precisamos descobrir, por nós mesmos, qual o significado por trás da expressão “liberdade”. Não se trata da liberdade que começa quando se abre a porta do cativeiro, mas da sensação psicológica de liberdade independente das amarras físicas. Trata-se da liberdade de pensamento, da negação lúcida em não repetir aantigos e obsoletos postulados comportamentais, apenas porque a força de uma autoridade, crença ou tradição, assim o determina.
E igualmente importante seria descobrir se há algum benefício, para nós, como entidades humanas, em ser livres. Ser livre significaria não sofrer, não imitar por indução, sugestão, força da tradição ou obrigação, não seguir nenhuma autoridade sob o despotismo do medo. Significaria erradicar do nosso convívio, de maneira sumária, os conflitos, a violência e todas as suas variantes.
Também já fomos uma criança, e se agora olharmos para trás, será que somos diferentes do pensamento do mundo, do mesmo mundo que construiu e modelou nosso comportamento e caráter? Qual terá sido a base de aquisição dos nossos atuais pensamentos, defeitos, vontades, conduta ou personalidade?
Existiria um mundo psicológico sem as pessoas? E há o mundo físico, e este é feito de terra, plantas, água e pedras. É ainda habitado por uma grande variedade de animais, onde se inclui a nossa espécie. E há a mentalidade do homem, que é a síntese do pensamento deste mundo, e nós, como indivíduos racionais e pensantes, somos o resultado desta equação.
Precisamos refletir com seriedade se é esta mesma intocada mentalidade, repetida ao longo de incontáveis gerações, com todos seus conflitos e deformações sem fim, que também desejamos deixar como espólio, ou presente de grego para nossos filhos.