Autor: Jon Talber[1]
Conteúdo Atualizado: 15 de Julho de 2024
Observação Importante: Quando usamos a Expressão "Os Pais", estamos nos referindo aos dois Gêneros, e não apenas ao Gênero Masculino.
Observe uma criança recém nascida: ela ainda não sabe falar, mal consegue enxergar além do próprio nariz e é completamente dependente dos seus pais ou responsáveis. No interior do seu cérebro, apenas as informações necessárias para que seja capaz de exercer seu instinto estão gravadas. E assim, sem que ninguém a tenha ensinado, já saberá chorar e expressar um desconforto físico, a exemplo da fome.
Dentro deste repertório cognitivo básico, também está presente, em estado de hibernação, alguns aspectos do seu temperamento, o que explica sua futura predisposição para empatizar com algumas atividades, hábitos e processos cognitivos, ou ainda rejeitar ou resistir à assimilação de outros, mesmo sem ter conhecimento prévio sobre nenhuma destas coisas.
No entanto, os atributos que estão adormecidos em estado de hibernação dentro do seu cérebro, a exemplo do seu temperamento, só poderão se fixar como traços ativos e definitivos de sua personalidade a partir de estímulos do ambiente onde vive. E é do ambiente onde cresceu ou vive que irá assimilar os traços comportamentais, desejos e preferências que darão cor, forma e volume a sua personalidade.
Na contramão, seus pais ou responsáveis, como adultos, já possuem uma razoável experiência de vida. Assim, este mundo adulto repleto de crenças, tradições, distorções, ideologias, regras e postulados que condicionam o modo como vivemos, para estes mesmos pais, não é mais nenhuma novidade. E é exatamente a qualidade da interação que os pais terão com esta criança, o fator ou modelo condicionador, que fará toda diferença na construção e qualidade de sua futura personalidade ou caráter.
E uma coisa é certa: a maioria dos pais seguirá à risca aquilo que aprenderam, ou dos seus pais, ou dos adultos do seu meio, enquanto cresciam. Ou seja, irão repetir o próprio condicionamento, na forma de hábitos, desejos, gostos e aversões, crenças, opiniões e submissão cega às regras de sua cultura ou tradição; esta é a lógica corrente e uma espécie de protocolo social incondicional, obrigatório, e num primeiro momento, praticamente uma condição determinista.
Enquanto isso, aquela criança que ainda não tem experiência de vida, não possui memórias, que são as lembranças das coisas vivenciadas, permanece passiva absorvendo a tudo em silêncio. Pelo mesmo motivo, ainda não deseja, nem sente raiva, empatia ou medo; muito menos guarda rancor de outras pessoas. Também não planeja um futuro para si; muito menos é capaz de demonstrar lucidez em suas escolhas ou desejo seletivo e voluntário por alguma coisa.
Nesse estágio existencial, as crianças estão completamente vazias, e embora não “pensem de maneira lógica e consciente”, já possuem o potencial para absorver a mentalidade dos adultos que se expressa em forma de hábitos, crenças, manias e regras sociais, não importando quais sejam. E sem experiência de vida, desconhecem a utilidade das coisas, não sendo capazes de deduzir, preferir ou escolher de maneira racional, independente e lúcida.
A capacidade de pensar toda criança já possui de berço. Capacidade de pensar é bem diferente de saber pensar. A capacidade de pensar é involuntária, inata, não depende de memórias, nem de lembranças. Para formular pensamentos, as memórias de vivências prévias são imprescindíveis. As memórias são as lembranças das coisas já vividas, experienciadas. O pensamento é um arranjo lógico das cadeias de memórias, de modo que organizadas tenham algum sentido ou significado; algo capaz de se expressar por meio de atos conscientes.
Assim, capacidade de pensar cada indivíduo possui como potencial e isso não depende de sua classe social, etnia, crença, vontade ou aprendizado. Já para a construção de um pensamento, este mesmo indivíduo irá precisar de informações e experiência de vida. Sem experiência de vida, não há memórias; sem memórias, pensar de maneira voluntária e lógica é impossível.
Eis o motivo pelo qual o cérebro necessita da lembrança, do resgate das suas memórias, ou lembranças. As memórias virão, serão formadas enquanto a criança interage com as coisas do mundo à medida que vai galgando os diversos degraus ou estágios etários de sua vida.
Nesta fase inicial de sua vida, tudo que é gradualmente percebido pelos seus órgãos sensoriais, será digno de uma avaliação atenta, mas sem interpretações. Falta maturidade sensorial e o intelecto ainda não está formado. E importa mais a clareza da experiência, a qualidade do toque, o cheiro e a sensação, do que uma compreensão racional ou intelectual do que está acontecendo.
Vivida a experiência, que pode ser a prática de um hábito, a degustação de um alimento ou o mal estar de uma enfermidade, a criança assimila e transforma tudo aquilo em memórias. Depois virão as explicações dos adultos, informando a elas o que está acontecendo. Assim, juntos, experiência e as respectivas explicações, em essência, constituem a base de suas memórias, o combustível básico dos seus pensamentos.
Embora não seja capaz de “refletir” sobre o que está fazendo ou irá fazer, a criança já sabe imitar. E neste primeiro momento é o que fará. Fará isso a partir do exemplo dos adultos com os quais convive. É assim que ela assimila novos hábitos, crenças, superstições, vícios, manias, preconceitos, antipatias e empatais, e assim por diante.
E todas as regras de funcionamento de quaisquer posturas ou comportamentos existente em nosso mundo, serão simplesmente copiadas de uma mente para outra, do mesmo modo que se duplica um livro já publicado. E do mesmo modo que se revisa um livro, eventualmente, alguma ressalva é acrescentada a todo esse acervo cognitivo. Assim, para nós, a repetição integral e cega de velhos hábitos, procedimentos técnicos, reações emocionais, crenças e opiniões, significa pensar, quando na verdade, apenas estamos a imitar, Copiar e Colar.
Se observarmos uma criança a brincar, entretida com um brinquedo, com o qual ela realmente se identifica, ter-se-á a impressão de que a mesma está em um mundo à parte. Neste processo de imersão total, ela não segue nenhuma regra estabelecida. Ali, ela cria suas próprias alegorias e interpretações, de maneira livre, intensa, lúdica.
Longe da rigidez das regras pré-estabelecidas, onde o “pensamento” condicionado não está exigindo, comparando, seguindo preceitos que não poderão ser quebrados ou contestados, ela fica à vontade para criar, sem expectativas, sem medo dos censores; sem receio de castigos e sem a obrigação de agradar para receber elogios ou recompensas.
Ao ignorar o próprio “condicionamento ou mentalidade mecanizada”, crias das lembranças das experiências copiadas e vivenciadas, ela se torna inteligente e criativa. Não é dependente nem prisioneira de costumes, leis, regras, crenças ou qualquer outra jurisprudência psicológica e social limitadora. Como não segue roteiros ou protocolos conhecidos, está disposta a criar seu próprio caminho, mesmo sem saber seu destino, ou se existe algum objetivo a ser alcançado.
Tradicionalmente, não pensamos, apenas achamos que o fazemos. Mas, apenas seguimos um caminho já traçado, e sempre com base em preceitos, regras, ritos da tradição, preceitos e assim por diante. Não pensamos porque nunca aprendemos a fazê-lo. Seguir sem pensar é mais prático, exige menos esforço. Por isso replicamos posturas e procedimentos que a tradição nos convida a adotar, afinal de contas, se já há regras estabelecidas para tudo, não preciso criar meu próprio caminho ou decidir livremente, inclusive em relação à minha conduta.
Pensar, por conta própria, com lucidez e de maneira independente, é outra coisa. Ocorre quando, com base em nossa experiência de vida, hábitos, preceitos, paradigmas ideológicos, sociais e sacros, escolhemos um caminho, mas não com base na cartilha do mundo, e sim a partir de tudo isso, mas sem levar em conta nada disso. Parece confuso? A seguir, vamos Explicar isso com mais clareza.
Imitar não é pensar. O ato da dedução mecânica, aquele que se baseia inteiramente em opiniões e respostas já prontas, apesar de ser dependente do intelecto do seu hospedeiro para se transformar em ação, é apenas aquilo que podemos chamar de “pensamentos emprestados ou de segunda mão”.
Escolher a partir de procedimento e soluções já prontas disponibilizadas no varejo das tradições, costumes ou regras locais, não é pensar, mas apenas plagiar. Pensar, por conta própria, em primeiro lugar demanda liberdade plena para escolher, mas não aquilo que já determina o meio ou o senso comum.
Não se trata de replicar opiniões, conceitos, preceitos, regras ou procedimentos de maneira cega, semi-instintiva ou emocional, por meio de gabaritos inflexíveis, onde a única função do protagonista é apenas ser capaz de copiar e servir de meio para realizar alguma ação, a exemplo de um mecanismo analógico pré-programado. Segundo esse processo ou mentalidade, em pouco tempo, o homem será completamente superado pelos modernos mecanismos de Inteligência Artificial.
Só o homem inteligente e livre é capaz de pensar de maneira autônoma, sem imitar ou seguir regras da tradição, e sempre de acordo com a necessidade, utilidade, bom senso e peculiaridades que exige cada demanda, e sem, contudo, esquecer de contemplar ou vislumbrar antecipadamente os possíveis desdobramentos ou efeitos dos seus atos, não apenas para si, mas em relação a todos.
A criatividade que é própria do senso de liberdade depende inteiramente deste padrão de inteligência para ganhar forma, e surge com o Princípio da Dúvida Genuína. Surge quando a curiosidade autônoma daquela mente a faculta a aceitar novos desafios, e sempre motivada pela expectativa dos resultados, cujos desfechos, para ela, são sempre desconhecidos, novos, e apaixonadamente abraçados.
Cumpre aos pais e educadores compreenderem o significado do pensar condicionado e o livre, e apenas assim terão dado o primeiro passo para descobrir, compreender, o que de fato, significa o Pensamento Lúcido.
E quando o educador, seja no papel de pai ou mestre acadêmico, for capaz de perceber que ele próprio, assim como a maioria dos homens, também não pensa, estará pela primeira vez pensando. Não se trata de um paradoxo, mas da simples constatação de que aquilo que atualmente ele chama de pensamento, não passa de um processo cego de imitação ou condicionamento adquirido, onde ele simplesmente segue as tradições, crenças, e as mesmas preferências e aspirações que estão disponíveis para todos no Varejo Social.
Neste momento, também percebe que sempre foi guiado pela autoridade dos procedimentos e ritos inflexíveis da tradição, a exemplo de um autômato programado para agir de conformidade com certos padrões. Este percebimento já é uma demonstração primária de Inteligência.
Conclusão: A criança ou jovem só poderá aprender a pensar por conta própria se seu orientador, no papel dos pais ou cuidadores, também já adotaram a mesma postura para si. Ou seja, só alguém qualificado na arte de pensar de maneira lúcida será capaz de mostrar a outro como se faz. E fará isso por meio do exemplo pessoal, a partir de sua silenciosa, porém ostensiva conduta, onde seus atos expressarão de maneira clara e inequívoca o que dizem seus pensamentos.
Suas palavras serão seus atos, dentro e fora de casa. Uma conduta sempre pautada no bom senso e lógica racional de uma mente livre, quando então a criança ou jovem, por meio da observação e interação ativa torna-se capaz de perceber que é possível viver de outra forma.
As crianças inicialmente aprendem por meio da imitação, por isso, desde cedo precisam ser instruídas sobre a possibilidade da quebra destas regras, mas não por meio de palavras, e sim de atos exemplares.
Diante de processos de escolhas, convide-as a participar, mesmo que seja apenas como espectadoras. Ao tomar uma decisão ou fazer uma escolha, demonstre por meio de atos, que nem sempre devemos seguir cegamente e de maneira inflexível as regras já pré-estabelecidas pela tradição, meio cultural, crenças, ideologias ou costumes da moda.