Autor: Prof. Jon Talber e Alberto Grimm[1]
Revisado e Ampliado: 18 de Dezembro de 2023
"O conceito de Igualdade segundo o padrão social consolidado pelo homem, significa o que não significa, ou seja, duas ou mais coisas desiguais. Trata-se de uma medida que é sempre usada como referência por quem está em desvantagem, mas nunca de modo inverso..."
Uma mensagem com real valor cognitivo normalmente não é direcionada para todos, mas apenas para aquele capaz de compreender a utilidade por trás do seu contexto. Caso tenha compreendido, se transformará em ação; caso contrário, continuará como informação inerte, ou simples conteúdo esquecido nos compartimentos ignorados de um arquivo morto.
Por isso, pensar no seu futuro é proibido, uma vez que isso requer organização, disciplina e planejamento. Exige ainda uma mentalidade de que qualquer tipo de colheita só é possível quando existe um cultivo prévio. Mas, como pensar dessa forma, se de acordo com o mantra ou pensamento corrente que cada vez mais ganha adeptos, não existe esse amanhã?
Assim, preservar o meio ambiente como forma de melhorar nossa qualidade de vida nunca é uma prioridade, mas serve como combustível para a proliferação de movimentos pontuais sem nenhuma intenção de mudar o atual Status Quo das sociedades civilizadas.
Imagine a existência de uma população lúcida e motivada por princípios existenciais conscienciais e éticos, e disposta a não degradar, sob nenhum pretexto, seu bioma? Por reflexo lógico, numa condição dessa natureza, que espaço existiria para a presença das organizações ambientalistas e seus idealizadores, ou ainda para os políticos, profetas ou ativistas ideológicos travestidos de salvadores?
Embora uma mentalidade ou pensamento Social seja capaz de interferir na composição das personalidades dos cidadãos, por outro lado, ter consciência de que esta força condicionadora é um fato, sempre será uma ação solitária. Isso quer dizer que, a mesma mente coletiva que condiciona o sujeito de maneira negativa, não pode ser a responsável pelo autopercebimento da própria anomalia.
Conclusão: do repertório cognitivo que condicionou o sujeito, jamais poderá surgir a lucidez necessária para que ele próprio se perceba como indivíduo condicionado e co-responsável pelo Status Quo deformado e deformador do seu meio.
Igualdade, segundo o padrão social criado pelo próprio homem, significa o que não significa. Ou seja, duas ou mais coisas desiguais. Trata-se de uma medida que é sempre usada como referência por quem está em desvantagem, mas nunca de modo inverso.
E há também o caso das nacionalidades, crenças, etnias, status sociais, inteligência, beleza, estética, talento, habilidades e qualificações, força presencial, criatividade, dentre tantas outras métricas que continuam servindo como gabaritos para ilustrar a eterna contradição do princípio da utópica igualdade idealizada pelo homem, e, paradoxalmente, contestada, rejeitada com unhas e dentes, ou simplesmente ignorada, por ele mesmo.
E não existe em nenhum segmento da mesologia, sejam os caracteres étnicos, religiosos, ideológicos, pedagógicos, filosóficos ou qualquer outra variante, que pretenda, ou voluntariamente tenha a intenção de criar, igualdades sociais dentro do atual estado das coisas. Isso é uma tarefa impossível, uma vez que o próprio modelo civilizatório, a exemplo de um alicerce ordinário, foi estruturado em cima dessas desigualdades.
Mas eufemisticamente, como porta estandarte ideológico, esse tipo de pensamento parece cair bem. E embora todos adotem o princípio do “Mérito Pessoal em primeiro lugar” – uma postura milenar que consolida e premia o modelo de desigualdade –, salvo exceções pontuais, acabam por fingir que a postura filantrópica autêntica é tão comum quanto político corrupto, ou quanto as mentiras travestidas de verdades. O resultado trágico desta equação é que, além do se autoenganarem, também enganam todos que estão ao alcance dos seus tentáculos, e tudo fica como está.
Pior de tudo é a tão proclamada igualdade religiosa, uma vez que o conceito não passa de retórica sacra.
O fato concreto é que, uma vez que cada movimento religioso se autodeclara como o único dono da sua verdade, estão indeferindo os preceitos das demais doutrinas. Não se trata do desejo de unir os diversos e antagônicos credos, mas de absorver à todos pela adoção e conversão sistemática, obrigatória e exclusiva, do seu próprio modelo ou catequese doutrinária.
É a prática do mesmo princípio religioso medieval que afirmava: “Enquanto existir um único cidadão humano não convertido ao nosso credo, nossas cruzadas santas não poderão dormir em paz...”
Outro princípio bizarro, são os chamados movimentos que supostamente defendem os direitos dos animais. Assim, segundo a cartilha que distribuem amparados por um marketing de guerrilha tendencioso, chutar um animal doméstico é considerado um hediondo ato de maus tratos. No entanto, paradoxalmente, matar outro para fins comerciais ou culinários, é apenas uma questão de Produto Interno Bruto.
Do mesmo lado da rua estão as proclamadas entidades defensoras dos direitos humanos, onde o delinquente confesso é considerado uma vítima, enquanto que os cidadãos bem intencionados e que respeitam as leis, aqueles que fazem parte da contabilidade criminosa deste indivíduo, sumariamente são ignorados.
E dentro do escopo das contradições que refletem o comportamento da mente insana que personifica a maioria dos indivíduos do nosso tempo, os exemplos estão por toda parte. Nos esportes radicais pré-suicidas, no culto às drogas, ou na idolatria ao belicismo e às guerras. São também visíveis nos processos das automutilações corporais para fins narcisistas, uma espécie de movimento de simbologia ideológica, onde a insatisfação com a própria aparência torna-se uma doutrina de vida. E há também a violência sem motivo, e as incompreensíveis contendas religiosas.
O eufemismo é outro fator curioso. Trata-se daquela técnica linguística largamente aplicada por políticos, mundo corporativo e movimentos religiosos, onde argumentos retóricos habilmente esboçados são empregados com a intenção de transformar um monstro em anjo, ou uma aberração em coisa natural. São palavras usadas com maestria para maquiar o bizarro e insensato, suavizando o seu significado ou aparência original, numa tentativa de esconder suas verdadeiras feições.
Um clássico exemplo de eufemismo, é a expressão “contribuinte”. Trata-se daquele sujeito que é obrigado a pagar impostos, e apesar de não o fazer por vontade própria, ainda assim é categorizado como “contribuinte”.
E assim, os criadores dos animais de corte, em suas sofisticadas fábricas ou centrais de extermínio, por meio de uma bizarra estratégia de marketing, criaram a expressão: “Morte Humanizada de Animais.” Imagine se existe agressão humanizada, ainda mais em sua forma extrema, ou seja, a morte sumária. Trata-se de outro eufemismo construído com a intenção de transformar uma aberração em perfeição, ou o refugo do próprio lixo em matéria prima nobre.
Mas, os adeptos dos eufemismos estão por toda parte, e algumas vezes sequer se importarão de lapidar as palavras com as quais irão se expressar. Ocorre nos casos onde a propaganda mostra crianças consumindo alimentos sabidamente nocivos, em clima festivo, cercadas pelos pais, em ambientes asseados ou em contato com a natureza. Nas entrelinhas estão insinuando que aquilo é na verdade uma variedade de produtos comprovadamente saudáveis. Desta vez, trata-se de um eufemismo visual, o favorito das modernas técnicas de marketing e manipulação de massas.
Descobrir onde está o erro não nos faculta a mudar, especialmente se, para nós, a lei existe apenas quando estamos no papel de vítima. Mudança é algo que só pode ocorrer quando nos tornamos inteligentes. Quando nos tornamos, e não quando nos tornam por força de decretos, leis, cotas meritórias desiguais, lavagem cerebral, preceitos ideológicos ou catequeses sectárias.
É impossível tornar-se inteligente a partir da transferência do conteúdo mental de outra pessoa por meio de um ato de magia ou de rituais místicos. Entretanto, fomos convencidos desde cedo de que isso era possível. Por isso mesmo, desde tarde, continuamos a esperar que um milagre dessa natureza venha a ocorrer, e o mais importante, sem demandar nenhum tipo de esforço ou disciplina de nossa parte, talvez apenas o cumprimento de uma insignificante penitência aos bondosos deuses.