Autores: Jon Talber e Ester Cartago[1]
Conteúdo Atualizado: 16 de Julho de 2024
Observação Importante: Quando usamos a Expressão "Os Pais", estamos nos referindo aos dois Gêneros, e não apenas ao Gênero Masculino.
Pais e educadores deveriam levar mais a sério a tradicional educação compensatória, onde filhos ou alunos recebem presentes ou agrados para que cumpram com suas tarefas escolares ou deveres mais básicos dentro de casa. Se em casa os pais vêem no modelo compensatório uma maneira de motivar a criança para que cumpra com suas obrigações, na escola, o educador, em nome da instituição e do sistema, incentiva o Comportamento Competitivo ao conferir honrarias e méritos diferenciados ao aluno que alcança as metas acadêmicas estabelecidas.
Em ambos os casos, cria-se uma inevitável situação de rivalidade entre indivíduos. Na escola será entre os alunos, e em casa com os irmãos ou com os próprios pais. Em ambientes assim, o entendimento entre as pessoas não passa de um mito, uma vez que todos, de algum modo, agora se vêem como adversários.
Por que não deveria ser algo natural a realização de uma tarefa em benefício próprio? Para escovar os dentes é realmente necessário um incentivo ou aliciamento à custa de um agrado ou outra forma de persuasão? Não seria mais inteligente mostrar às crianças, por meio de exemplos claros, o que se ganha ao cumprir com seus deveres, assim como o que se perde por não cumprir?
Como podemos esperar uma sociedade justa se o justo para nós implica necessariamente em receber compensações ou pagamentos em troca que qualquer ato praticado? Nem sempre o dote recebido precisa ser imediato, ou em sua forma material, uma vez que um consolo espiritual, também nos serve. A promessa de um prêmio ainda maior, para o futuro, talvez para além da vida, também nos parece algo bastante motivador.
Se a busca por mérito ou destaque pessoal é tudo que importa, imaginar uma sociedade justa e pautada no respeito mútuo nunca passará de um delírio. Ao se valorizar o mérito despreza-se o valor de qualquer tarefa não compensatória, a exemplo do assistencialismo gratuito. Nesse caso, leva-se em conta apenas o status da atividade, ou ainda o potencial do favorecido em nos beneficiar de alguma forma mais tarde, uma vez que tudo agora é tratado como simples barganha, mercantilismo ou tratado comercial.
Numa sociedade onde a força da lei serve como relho disciplinador, a desordem e insensatez absoluta são seus verdadeiros condutores. Quando precisamos de leis para nos ordenar ou nos mostrar o que é sensato, é porque ainda não sabemos o que vem a ser o estado de Ordem em nosso dia a dia.
E é dessa desordem que, paradoxalmente, esperamos o surgimento de um movimento capaz de colocar nossas vidas em ordem. Ainda assim, caso tivéssemos algum traço de lucidez ou inteligência, poderíamos estudar esta desordem, aprender com ela, e depois decidir o que fazer. Uma coisa é certa: a desordem não é capaz de criar ordem. Perceber este fato irrefutável nos permite ter consciência de que algo precisa ser feito. E embora o sentimento de ordem seja capaz de perceber a desordem, a mesma regra não se aplica ao inverso.
Os erros, infelizmente ou felizmente, para o homem, ainda é a principal fonte dos seus acertos. Cada erro se propõe a nos ensinar, desde que estejamos dispostos a aceitar este fato como um coeficiente instrucional; como um instrumento imprescindível para a qualificação do nosso status cognitivo.
Os erros se prestam a nos ensinar como não devemos agir, e se bem aceitos e compreendidos, o ganho será inevitável. É certo que ninguém deseja errar de maneira intencional, e a despeito dos efeitos e malefícios que poderão nos proporcionar, deles também é possível tirar algum proveito, mas apenas quando estamos dispostos a aceitá-los. Nunca deveriam ser interpretados como punições ou castigos, e sim como um reflexo do Estado de Imperfeição do qual somos depositários ou portadores, independente de nossa condição social, credo ou raça.
Poderíamos afirmar que um erro é a prévia de um acerto em andamento. Vale aqui excetuar-se os erros deliberados, onde o praticante o faz por deformação moral, de maneira consciente e premeditada. E há os erros não intencionais, aqueles praticados por imaturidade ou inabilidade. Nesse caso, atuam como instrutores, mostrando os caminhos que deverão ser evitados, qualificando assim nossas ações presentes e futuras.
Somos produto de um mundo imperfeito. Não podemos ser perfeitos, e a razão é bastante simples: Um mundo Psicologicamente Imperfeito não é capaz de produzir Homens Psicologicamente Perfeitos.
Ao eleger a recompensa como elemento, ou instrumento motivacional para que nosso filho ou aluno cumpra com seus deveres, estamos adotando uma postura patológica, incentivando e reforçando a corrupção. O incentivo, por menor que seja, corrompe o caráter. Cria-se assim o hábito da troca de favores. E não mais existirá a ação solidária, espontânea, nem a cordialidade gratuita; muito menos o respeito, uma vez que para cada ato praticado uma gratificação, ou compensação, sempre é esperada. Afirma-se assim a consolidação de uma tradição nosográfica descrita até nos livros sagrados, que diz: “É dando que se recebe...”
A falsa Disciplina torna-se então uma obrigação, e a obrigação torna-se um negócio dos mais lucrativos; um meio começo e fim para se obter uma vantagem pessoal e corromper o caráter das pessoas.
Quando não somos capazes de acreditar no potencial dos nossos próprios filhos ou alunos, a Prática da Corrupção será o único meio capaz de induzi-los a uma modelagem forçada. Se o resultado que deles esperamos só é possível por meio do gesto meritório, qual será a qualidade do mundo que futuramente irão criar?
Haverá espaço neste futuro mundo para o respeito, consideração e a solidariedade, uma condição onde o sentimento de não Competição se faça presente? A prática da gratificação consolida o processo competitivo, uma vez que confere ao perdedor demérito e ao vencedor mérito, o que favorece o processo da ambição, antagonismo, castas sociais, inveja e violência.
Na tentativa de conscientizar nossos filhos da necessidade da escovação dos dentes após cada refeição, é preciso deixar claro que aquilo se trata de um benefício, de uma vantagem pessoal, e isso já representa um prêmio, sem a necessidade de bônus ou incentivos extras. Mas, por acomodação ou preguiça, o prêmio substitui o esclarecimento educativo, onde estariam incluídos os malefícios ou benefícios existentes por trás de cada ato praticado.
Explicar, esclarecer e ajudar o filho a compreender quais são as vantagens que obterá para si mesmo a partir daquele ato, este deveria ser nosso papel, ao invés do argumento coercivo. Ao coagi-lo com a promessa de prêmios para que se responsabilize por seus deveres mais básicos, estamos criando um indivíduo que não respeita nem a si mesmo. Se ele não se sente motivado para cumprir algo em beneficio próprio, imagine sua postura em relação aos outros?
Ao aprender a cuidar de si porque compreendeu que é a coisa certa, ele também aprenderá a respeitar o espaço do seu semelhante, valorizando o esforço alheio. Terá mais possibilidade de se integrar ao mundo de maneira pacífica, com um mínimo de conflitos e uma disposição mais assistencial e menos mercantilista.
Nosso papel de orientar e detalhar o que nossos filhos deverão fazer, numa linguagem compreensível e não redundante, e o mais importante, por que o estão fazendo, esta é a verdadeira pedagogia. Seus anos de frequência escolar serão nulos se em casa não lhes explicamos, com argumentos claros e esclarecedores, porque precisam fazer isso ou aquilo. Não acredite que irão descobrir estas coisas por conta própria na rua. Use sua própria experiência de vida como exemplo, e tire suas conclusões.
Não podemos deixar isso nas Mãos dos Educadores ou Escolas, eles também não o farão. Precisamos ir além e enumerar, de maneira compreensível e didática, todos os benefícios que poderão colher a partir deste esforço, ou caso contrário, os malefícios, caso desprezem a oportunidade.
Isso é respeito. É o mínimo de um máximo que poderíamos dispensar a todos se houvesse interesse de nossa parte. No entanto, para a maioria de nós, talvez de boa fé o fizéssemos, se tivéssemos a certeza de que ao final, de algum modo, seríamos regiamente recompensados pela autoria, iniciativa ou aplicação desse magistério, que para nós, motivados por uma quase eterna falta de interesse, sempre será um gesto de Grande Sacrifício.