Autor: Prof. Alberto Filho[1]
Atualizado: 15 de Julho de 2024
Neste Artigo, o autor apresenta uma Prática meditativa capaz de restaurar a serenidade e o equilíbrio emocional, e que pode ser usada como Atividade Didática entre grupos heterogêneos, de todas as faixas etárias, em qualquer ambiente, a qualquer hora.
"Apenas porque uma coisa é simples não significa necessariamente que não tenha valor..."
Uma criança inquieta, sabendo-se que a inquietude é um hábito adquirido, a despeito de suas predisposições, teve como espelho didático pais inquietos ou foi criada em meio à inquietude. E mesmo que por temperamento seja serena, a pressão da mesologia onde vive, tenderá a corromper sua natureza original.
Inegável é como a pressa dos tempos atuais acaba por contagiar uma expressiva maioria, com uma espécie de ansiedade de origem difusa e sem motivo aparente. É como se o ansiosismo fosse o estado natural do homem, ao invés de uma exceção.
E confunde-se pressa e ansiedade com determinação e Motivação. A ansiedade, embora necessária em alguns casos, na maioria das ocorrências é sempre de cunho negativo, e fora de suas propriedades naturais, afeta de maneira dramática a serenidade e a lucidez, quesitos fundamentais para quem deseja pensar de modo ponderado ou tomar decisões coerentes.
Neste caso, o cansaço por saturação com o trabalho e o sentimento de obrigação é substituído por satisfação.
Fisiologicamente, a pressa cria um estado de euforia no indivíduo que se prolonga mesmo após o término daquela atividade. Na contramão, a motivação libera um estado de serenidade, autoconfiança, sensação de bem estar, antes, durante e depois de cada tarefa cumprida.
E uma mente tomada pela preocupação está sempre desatenta, e mais vulnerável aos erros ou falhas graves, o que acaba por se reverter em males diretos e indiretos para o indivíduo.
Ocorre que, diante de uma preocupação, nossa mente tende a centrar-se apenas em um ponto fixo, que é a causa da problema, esquecendo de todo resto, inclusive das soluções alternativas e ponderadas, o que tende a comprometer nossa reação diante dos problemas, assim como os possíveis efeitos colaterais após cada decisão tomada.
Quando movidos pela emoção instintiva nos tornamos brutos e cruéis, e o animal irracional que hiberna em nosso inconsciente assume o controle dos nossos atos; ali não há moral, respeito ou bom senso.
Uma mente inquieta compromete de modo importante nosso potencial cognitivo e criativo, desvia nossa atenção e impede a assimilação clara do conhecimento. Um adulto inquieto está sempre desatento e dificilmente presente no exercício de suas tarefas.
Não conseguirá se realizar plenamente em nada do que se proponha a fazer. Será agressivo e frustrado por natureza, e é quase certo que não respeite o espaço do seu próximo. Será dominador, intolerante e inflexível em seus argumentos. Sempre irá tentar impor seus pontos de vista e caprichos aos demais, por meio da força. Nos interrelacionamentos buscará uma perfeição que não existe e será uma fonte permanente de conflitos existenciais sérios.
Pais e educadores atentos às consequências da inquietude juvenil ou infantil, deverão dispor de alguns recursos capazes de levar estes jovens, desde cedo, a lidar da maneira adequada com este estado mórbido.
E para que aprenda a superar isso de modo racional, sem fugas, ou ainda represando raivas, frustrações ou mágoas, torna-se imprescindível a presença de um adulto. Eles irão ajudá-los a compreender sua importância como entidade humana, e a buscar os valores necessários à sua autorrealização.
Mas, antes de começar, será necessário que o orientador também já tenha vivenciado tudo isso. A familiaridade do educador com o Modus-Operandi da Autodescoberta, tornará mais simples o processo de assimilação da técnica pelos educandos.
Entender a si mesmo é interagir, estudar e aprender sobre aquilo que sentimos. Trata-se de uma autoanálise dos nossos pontos falhos e fortes, e a disposição para descartar nosso lixo psicológico, assim como potencializar as virtudes.
Na teoria é fácil compreender o significado da palavra felicidade. Mas a palavra felicidade é apenas uma concepção ou conceito abstrato, com gabaritos, protocolos e toda uma normatização social que serve para designá-la, embora nada disso represente o estado psicossomático que a representa de fato.
Compreender que as palavras não são capazes de reproduzir nas pessoas aquilo que tentam descrever, isso já seria o primeiro sinal de inteligência. Podemos, por exemplo, observar todo nosso estado emocional, tanto nos momentos de crise, quanto de serenidade.
Na crise é possível avaliar a qualidade dos meus pensamentos e como interferem em minha saúde psicossomática, criando ansiedade, angústia, impaciência e assim por diante.
Nos momentos de serenidade, poderia repetir a avaliação, e uma vez mais, verificar meu estado mental e a qualidade dos meus pensamentos. Será que um é diferente do outro? Faça um autoteste e tire suas próprias conclusões.
Relaxado significa estar despreocupado, desconectado de tudo que não faça parte daquela atividade.
Podemos orientar para que o praticante, ainda de olhos fechados, sem pressa, tente perceber o ambiente à sua volta.
Deverá vasculhar com os ouvidos cada barulho e ruído ambiental que seja capaz de identificar sensorialmente, mas sem lhes dar nomes; sem descrever para si mesmo o que está acontecendo; sem classificar como feio ou belo, desagrádavel ou agradável, ruim ou bom.
E a cada som que escuta, apenas tentará identificar seu local de origem, e assim irá permanecer por algum tempo. A seguir, num segundo estágio, deverá tentar identificar, dar nomes a cada coisa que consegue ouvir, inclusive o silêncio. Isso inclui sua própria respiração e a de outros ao seu redor, se este for o caso.
Feito isso, sua atenção estará totalmente fixada naquele momento. Sua mente estará, sem resistência ou esforço, focada apenas na tarefa que está a realizar, sem procurar ocupações longe daquele local.
Em seguida, já relaxado, deverá examinar aquilo que é capaz de perceber enquanto permanece nesse estado. Qual é a sensação, a qualidade dos pensamentos, o nível de bem estar físico.
Neste momento, deverá sentir-se naturalmente mais sereno, ciente de tudo à sua volta, consciente de que é capaz de ter Autocontrole e Atenção, tudo isso a depender de sua vontade, sem a ajuda de medicamentos, drogas ou muletas psicológicas de qualquer natureza.
Dentro da mesma metodologia, numa outra etapa, repita o processo agora avaliando odores, ou as impressões sensoriais que seu corpo é capaz de captar, tais como frio, calor, estado emocional, etc. Com isso sua atenção estará trabalhando em outro nível, com maior lucidez, mais viva e presente que nunca.
O estado resultante desta pequena prática se reverte em Autoconfiança, Autopacificação, Aumento da Autoestima, Equilíbrio Interior, Eliminação dos Ansiosismos, Potencialização da Memória, Criatividade, Senso de Direção, Noção de Espaço, Agilidade Mental, Maior Fluidez na tomada de Decisões e uma Consciência intensa de si mesmo.