Autor: Alberto Filho[1]
Atualizado: 15 de Julho de 2024
A Importância da Prática Respiratória na rotina diária de Crianças, Jovens e Adultos, uma Atividade de grande valor cognitivo capaz de controlar, sem a ajuda de remédios, alguns casos de ansiedade, assim como diversos estados emocionais alterados.
"Apenas porque uma coisa é simples não significa necessariamente que não tenha valor..."
Não há como evitar, trata-se de um gesto espontâneo, já que o ato de imitar é para as crianças algo tão natural quando o gesto de respirar. E assim irão “aprendendo” novos hábitos, mas sempre com uma patológica predisposição, ou atração, pelo lado negativo.
E se há um aspecto em comum entre todos os congêneres humanos, este é o estado emocional variável. E ao contrário dos animais irracionais, também dotados do mesmo atributo, nós podemos nos dar conta deste fato.
Assim, com a ajuda do livre arbítrio e da racionalidade, podemos sentir emoções e memorizá-las, e de maneira voluntária e consciente, guardá-las como lembranças, sejam elas más ou boas.
E dos nossos ancestrais, de maneira involuntária, acabamos por herdar dezenas de psicopatologias, dentre elas inumeráveis angústias, fobias, e uma série de sofrimentos que fazem parte do nosso perfil psicológico.
São estados anímicos resultantes das crises existenciais, da enorme pressão competitiva do dia a dia, da nossa incapacidade em encontrar a felicidade, assim como um caminho mais perfilado às nossas predisposições inatas.
No papel de pais e educadores, sabedores de tudo isso, resta tentar uma abordagem alternativa para ajudar os jovens no enfrentamento de seus dilemas pessoais, uma vez que a antiga escola, desde sempre, nunca foi, e não dá indícios de que um dia venha a ser, capaz de fazer isto.
Frequentemente encontramos em nossas salas de aula, jovens de todas as faixas etárias, desmotivados, inseguros, carentes de afeto, em busca de uma direção para si mesmo ou de um sentido para a vida.
Estão quase no limiar do desespero, pois não sabem onde encontrar ajuda, nem a quem recorrer em busca de orientação, mesmo que seja mínima. Ocorre que, na maioria das vezes, dentro da própria casa, por falta de sintonia e integração com os pais, não acreditam ser possível contar com a ajuda deles.
E este distanciamento com pais ou educadores, resulta em grande Frustração, e ao final restará apenas aquele sentimento de desamparo. Este vácuo que se cria, torna-se muitas vezes uma porta de entrada para a alienação, vícios negativos, delinqüência, drogas e outros desvios de conduta nem um pouco positivos.
Em certa ocasião ao longo do período letivo, fomos procurados por uma jovem queixando-se de uma Falta de Motivação mesclada com um sentimento de angústia e insegurança que, eventualmente, sem prévio aviso, se apoderava de sua razão. Em vésperas dos exames, ou ante a proximidade de algum compromisso que julgasse mais importante, logo a coisa tomava mais vulto.
E tudo aquilo, quando se somava à falta de sentido existencial que já carregava consigo há algum tempo, transformava-se num sentimento difícil de expressar por meio de palavras.
E esta incapacidade de expressar, de maneira clara, o que sentia, deixava-a ainda mais angustiada, impotente, completamente sem ânimo, e com frequência questionando até mesmo se valia a pena viver. E nestes dias, sequer de alimentar-se fazia questão.
Diante de relatos semelhantes, decidimos então modificar um pouco o padrão de nossa pauta pedagógica, mesmo à revelia do conhecimento ou consentimento da direção. E com uma turma de jovens pré-adolescentes de faixa etária semelhante, iniciamos, sem que eles próprios soubessem, uma nova abordagem pedagógica. Coisa simples, mas, como veremos a seguir, de surpreendente e positivo valor educativo e motivador.
Tudo que fizemos foi introduzir dentro da pauta tradicional, alguns assuntos, na forma de debates, sobre Autoestima, Objetivo de Vida e Insegurança Pessoal. E naqueles momentos, avaliamos as razões dos nossos medos, traços falhos, ansiedades, frustrações, angústias e conflitos existenciais.
Pessoalmente, ou sob consulta prévia ao grupo, duas vezes a cada mês, um novo tema era selecionado. Após o debate, os alunos eram convidados a fazer anotações sobre si mesmos, durante sua rotina diária, estando em casa ou na rua.
Com o passar dos dias, isso acabou por criar entre eles um despertar e curiosidade quase unânime sobre suas questões mais íntimas; suas próprias dúvidas existenciais, seus medos e problemas particulares.
Depois de examinar analíticamente a coisa por algum tempo, chegamos à conclusão de que a insegurança, a falta de confiança em si mesmo, deveria ser tratada com alguma atenção especial de nossa parte, já que a escola como instituição educacional, permanecia indiferente a tudo isso.
Uma prática que incluímos, intercalada aos debates, apesar de não fazer parte do escopo curricular tradicional, foi uma atividade que poderia ser praticada em qualquer lugar, cujo resultado extrapolou nossas mais otimistas expectativas.
Tratava-se de simples Exercícios Respiratórios. Nada de extraordinário ou dispendioso, apenas uma compreensão por meio da prática, de como o correto modo de respirar é capaz de equilibrar e corrigir nossos estados emocionais negativos mais agudos, em alguns momentos de crise ou de angústia.
Deveriam em seguida reter por alguns instantes aquele ar nos pulmões, inicialmente contando mentalmente entre três e cinco, sem esforço ou desconforto, e depois suavemente liberar pela boca. Enquanto isso, deveriam deixar a mente livre, sem se fixar em nada, apenas atenta ao exercício e ao sentimento de autopacificação resultante da prática.
Esvaziados os pulmões, não completamente de modo a não lhes faltar o ar, deveriam respirar normalmente, sem pressa, duas, três ou cinco vezes, antes de repetir o processo.
Explicamos que isso aumentaria a capacidade respiratória de cada um, oxigenando o cérebro, cujo efeito imediato seria a eliminação de estados indesejados de ansiedade, tensão muscular ou emocional acumulada, assim como os bloqueios mentais e a falta de concentração.
Posteriormente, pedimos para que aspirassem o ar pelo nariz, e simultaneamente, enquanto aspiravam este ar, inflassem suas barrigas. Isto permitira reter o ar por um tempo mais longo. Depois, sempre retendo o ar por um período de três a dez segundos, ou pelo tempo que fosse mais adequado para cada um, deveriam expelir suavemente pela boca contraindo lentamente suas barrigas. E mais uma vez, tomando cuidado de não ficar completamente sem fôlego.
Explicamos então que esta retenção de ar, sempre dentro de um limite confortável para cada um, ajudaria no processo de concentração às vésperas de um exame importante ou outras atividades possíveis de causar ansiedade.
Também lhes informamos que esta Prática Respiratória ajudaria a controlar seus impulsos naturais e ânsias, assim como proporcionaria a cada um mais serenidade para o dia a dia, desde que regularmente, sempre que necessário, fosse praticada.
Tratava-se de uma prática já testada com crianças menores, cujos resultados foram tão expressivos, que resolvemos aplicar a outros grupos.
Os benefícios observados nas crianças foram óbvios: tornaram-se mais quietas, autoconfiantes, disciplinadas, emocionalmente mais estáveis. Até as brigas diminuíram; era como se de repente, cada um se sentisse responsável por si mesmo e pelos seus atos.
Com os mais velhos, de uma resistência e falta de credibilidade inicial, logo tivemos resultados que podemos chamar de extraordinários. E logo, muitos deles nos relatavam como estavam compartilhando a ideia em casa e com os amigos.
Enfatizaram como aquilo fora importante para todos. Ajudava a avaliar seus estados de espírito, proporcionando mais serenidade, quietude, relaxamento, e no dia a dia, uma maior lucidez e autoconfiança na maneira de agir, tomar decisões ou fazer escolhas, assim como um evidente progresso na qualidade da interação com situações e pessoas.